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17 de maio de 2008

Hoje fui de carro

Passeei, porém hoje fui de carro que o corpo cansado não me deixa andar sobre mim.
Vidro aberto, cotovelo sobre a porta e dedos sobre a boca, num gesto de ex-fumador, rolos de pensamentos se iam desenrolando sobre mim ao mesmo tempo que a ex-farta cabeleira polvava o espaço com os seus tentáculos cada vez mais escassos. Os olhos entreabertos, se escondendo do vento, davam-me de certeza o ar de quem ia a viver com intensidade este lote de pensamentos.
Eu. Só eu e o vento. O rádio ligado passava completamente despercebido. Era mesmo só o eu visível e o meu eu invisível, assim como dois desconhecidos que se encontraram ao acaso. Não havia necessidade de palavras, entendiam-se.
Lembro-me dalguns pensamentos doutros momentos e outros eram completamente novos como se tivessem sido pensados por outra cabeça, se calhar eram da minha inconsciência visível ou da minha consciência invisível. Venha algum outro e escolha.
Não suspirava. Pelo menos não me lembro. Porque é que eu não deixo de pensar? Valerá a pena? Constantemente me repito na pergunta sem resposta como se fosse um degrau para uma novo rolo de pensamentos. O que é a minha vida? Conjunto incompleto de pensamentos arquivados num monte anárquico. Só pode. Valerá a pena?
E o carro segue o seu caminho como se soubesse para onde ir, eu olho e desconheço para onde vou mas me deixo ir.


Sanzalando

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