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18 de março de 2010

Foram chegando

Nas noites de luar, sentados nos vãos de coisa nenhuma, os casais, quase sempre novos, faziam a lista de sonhos e quereres com vontade de que o dia que vai amanhecer lá mais para depois seja um dia de sol diferente. Os seus sonhos, desejavam, tinham de se tornar realidade, assim como a distância que os separava da terra chão deles se tornava em saudade, em lembranças de fome e outras misérias. Era assim como numa matemática fórmula em que a saudade era reduzida à infinitésima parte do sucesso ali alcançado. Nos seus lábios pariam sons que se julgam eram ternuras porque amanhã era mais uma despedida, mais um dia no mar que podia ser calmo ou, algumas vezes, ele ficava tão raivoso que até vinha na vila lhes roubar as pequenas coisas que tinham sido inventadas e que eles por acaso até tinham. As mãos deles, enrugadas e com meiguice de uma lixa talhada pelo sal do mar, lhes acariciava os cabelos, normalmente longos, porque para aquelas paragens ainda não tinham ido as profissões mais delicadas, e lhes faziam promessas dum depois de amanhã muito melhor.

Aos poucos foram crescendo, apareceram professores que ensinavam aos meninos as letras e mais os números de bem calcular e a elas lhes iam ensinando, amigas e vizinhas, novas formas de tricotar e de remendar. Do aparente quase nada foram aparecendo, primeiro os barbeiros, sabe-se lá se eram homens que não aguentaram as ondas do mar, depois as modistas que, copiando as revistas que anos de atraso demoravam a chegar, fabricavam a última moda para os pequenos e cada vez mais frequentes bailes de fim de semana.


Sanzalando

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