Me sento por ai num deus dará de lugar, como sempre, com o velho jornal mal lido e o meu café arrefecido.
Vejo o mar, sinto-lhe o perfume e inspiro frases de memória que mais tarde esquecerei e me recordo que as coisas que não aprendi na escola me têm sido ensinadas na vida através do tempo, na viagem que faço através de mim, com sonhos e ilusões trespassadas na alma, como tu tantas vezes me ensinaste.
Aqui, num algures da minha vida, me arrasto com a alma livre procurando palavras que possa revelar um coração paradoxal.
Aqui, num Maio de vida, em que tento ser mais que um vazio, procuro paralelos mundos em que a magia das pessoas não se escondem num divã, não se atrapalhem num rosto triste nem se transformem em lágrimas fáceis de chorar.
Aqui, degrau da longa escadaria que ainda me falta percorrer, acredito que o bom tempo virá e que quando os sonhos se acabarem ficam as coisas reais e quando não tiver mais palavras ainda me sobra o silêncio para desfrutar.
Aqui, na minha solidão interior, na minha desarrumada memória, prateleiras de sonhos e desilusões, encontrei o rosto da minha mãe e chorei. Chorei passados, malfeitorias e outras travessuras e não consegui sorrir com uma alegria que te tenha dado. Sei que foi apenas porque desarrumei a vasta memória que tu tão pouco conhecias e tantas vezes te surpreendias.
Aqui, no meu silêncio interno, procuro dar-te um beijo e dizer-te que foste tão importante para mim que muitas vezes me esqueci de olhar-te porque sabia que me olhavas sempre, esqueci de dar-te um presente porque sei que tu me ias perguntar para quê se te bastava ver o meu sorriso no olhar.
Aqui, mãe, só te quero dar um beijo porque sei que aí em onde estás, me olhas de ar protector e a tua mão, sobre o meu ombro, indelevelmente, me guias.
Aqui, na tua memória, me recordo dessa alma pura que tudo me desculpaste.
Um beijo grande, mãe, onde quer que estejas.
Sanzalando
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