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30 de junho de 2019
falo sério
E num rompante nasceu verão. O sol se brilhou como o seu mais belo brilho, o vento mudou d'ares, as pessoas se despiram e sorriram.
Falo sério. O zulmarinho se encheu de olhos que lhe olham como no resto de tempo não tem tempo para lhe olhar. A areia de mil cores se revoltou em pegadas sobre pegadas num caminhar de gente descomprometida com o tempo.
Falo sério. As pessoas se esqueceram porque andaram tanto tempo a fazer coisas que não gostam, que até a vida do dia a dia parecia um túnel cada vez mais apertado e cada vez mais de sentido proibido. Agora, aqui no zulmarinho, olhando à minha volta não vejo essa gente, não sinto preocupação nem desgostos. Acho o túnel da vida desapareceu, pelo menos por um tempinho, enquanto tomar o tempo de verão conta do tempo da gente.
Falo sério. Tem gente que parece re-nasceu outra vez na vida e se esqueceu que faz pouco tempo tinham morrido de esperança. O sol de verão tem destas coisas, pois então.
Sanzalando
29 de junho de 2019
27 de junho de 2019
o tempo pára quando a gente quer
E o outono fugiu da primavera e virou verão. Essa pressão do tempo me faz ficar assim numa falta de jeito que já não sei o que faço nem o que devo dizer. Sentado a olhar a linha longínqua que parece recta me deixo levar por pensamentos que nem sei onde os fui buscar. Deve haver aí caixas deles escondidos no sotão que chamam de subconsciente. Depois, assim num tempo quente, levado pelo vento e nublado escondendo o sol que podia me levar a outras eras, descubro que o tempo, contado na memória, tudo passa. As músicas já não são as que eram ou re-ouvidas não são como imaginei que eram quando as ouvi faz tempo que já nem sei quando foi. Esqueci de perder as horas a navegar por memórias que não sei se foram assim pensadas e vividas ou só sonhadas.
Num tempo assim, nem sei como tudo começou. Esqueci o que prometi quando ainda era um borbulhento adolescente.
Afinal de contas o tempo pára quando a gente pensou que ele nunca parava
Sanzalando
26 de junho de 2019
24 de junho de 2019
sol no coração
Olha só o zulmarinho reluzente até parece é espelho de água. Agora põe céu azul e termómetro acima dos 30. Virou verão real. Porém aqui não tem essa realidade.
Zulmarinho é azul que nem ele, o resto é ficção ou imaginação minha, tal é a saudade. Cinzentou o céu, ventou parece é turbina de avião, vento leste, digo eu que já não sei para onde estou virado. Tenho sol no coração e por isso é verão. Verão que falo verdade. Imagina uma fotografia tirada no verão... aquele instante não volta mais. Assim está o verão da minha meninice. Recordação que ficou. Não fosse o sol tatuado na minha alma e eu me esquecia dos tempos do pica-pica, dos vermelhos a se passear numa dor que imagino tal foi o escaldão. Imagino, que já não me lembro.
Com estes escritos feitos saudade pareço um terrorista de mim mesmo. Acho melhor esperar o sol verdadeiro para não ter de usar o da imaginação. O que vale é que para mim é sempre verão, dirão alguns.
Sanzalando
23 de junho de 2019
22 de junho de 2019
Venha o verão
Verifiquei que o calendário que tenho na cozinha era assim como o que estava no dia de hoje. Tinha começado o verão, logo a seguir ao solstício. Nesse instante, eram para aí umas 16 horas, nessa brevidade do tempo, a existência dum novo em mim se deu início. Tinha acabado de fechar a parêntesis que era da primavera e começava outro que me dizia era verão. No tempo e no tempo. É no verão que vejo a minha diminuta dimensão, que sinto o poder solitário do meu silêncio, a alegria do meu olhar, a grandeza da minha saudade.
É no verão que sinto as trajectórias do meu destino desconhecido.
Venha o verão.
Sanzalando
21 de junho de 2019
20 de junho de 2019
Amanhã não será mais primavera
E se acaba a primavera. Angústia de verão. E se eu sou apenas uma imaginação de mim? E se eu me dou conta que mais uma vez eu não existo, que eu não tenho nada a haver com o passado que a minha imaginação pensou? Deve ser do vento forte da primavera. Vento leste, diria a minha avó que sabia tudo e em tudo tinha razão.
Será que tenho capacidade para me arrastar por personagens que quero, que invento ou imagino? Tenho tanta vida para viver que tenho medo de me perder numa das minhas imaginações.
Espero. Aguardo enquanto espero conseguir definir-me. Guardo-me de mim. O zulmarinho é a minha essência, testemunha das minhas mudanças, guarda das minhas recordações e salvaguarda dos meus temores.
Amanhã não será mais primavera.
19 de junho de 2019
te espero mais uns dias
Cacimbou na primavera. Cacimbei-me no olhar pela janela. O sorriso do dia de sol não acordou. O humor de dia brilhante não despertou. Os olhos felizes não acordaram. Ainda é primavera no seu explendor surpreendente.
Ó verão, espero-te aqui, ali ou lá. Espero-te na força capaz de afastar esta primavera onde nem os pássaros são felizes. Na rua, na loja, na padaria, no mercado ou numa qualquer esquina vejo gente à espera do verão. Os casamentos e todas as festas foram projectadas para dias de verão e tu continuas sem dar o ar da tua graça, deixando que a primavera te domine.
Te espero mais uns dias.
Sanzalando
17 de junho de 2019
em quase fim de primavera
Com primavera quase no fim o vento parece se acalmou. Pelo menos deixou-me ir à rua sem me arrancar a cabeça, sem me fazer andar em modo dança. Pelo menos agora que daqui a pouco é futuro e esse eu ainda não vivi. Eu acho que não merecia o tempo assim. Para mim era sempre sol. De dia e de noite. Calor. Sempre. Mesmo que o planeta ficasse caótico, mesmo que a frequência do pulso não fosse rítmico, mesmo que a testa suasse como fonte. Calor sem vento, sempre. Eu gostava era assim. As palavras acho vinham mais coloridas, os sorrisos eram mais descontraídos, os olhos tinham mais pureza. Seria este o melhor mundo, pelo menos para mim. Eu, se fosse assim, punha as minhas expectativas no mais alto patamar, nem que fosse só para amar e ser feliz.
Bebo um copo de água e vou ver o sol a ir para lá do zulmarinho.
Sanzalando
16 de junho de 2019
vento de primavera
Acabando a primavera será que o vento vai para outro mundo? Eu não lhe vou implorar para ficar, para continuar a me empurrar como se fosse um abraço de chega para lá. Eu não gosto dele! Mesmo ele ocupando muito tempo da minha vida. Eu não lhe posso obrigar a deixar de soprar, não lhe vou obrigar a ir, mas fecho a janela para ele não entrar. Quando ando na rua é que o vento desta primavera me deixa exausto, palavra cara, na tentativa de um me deixar ficar por inteiro.
Sanzalando
15 de junho de 2019
leste
O vento continua a bater forte, dizem-me é vento leste. Para mim chega saber só é vento. Na minha terra ele trazia areia e parecia picava nas pernas desnudadas da criança que só andava de calções, aqui ele despenteia os poucos cabelos que ainda transporto e me incomoda só de abrir os olhos. Primavera tem ventos constantes? Deslembrei-me como foi no ano passado, e no outro para além doutros. Afinal de contas a gente é que muda e só dá por ela nos pormenores ou depois de ter mudado. Afinal de contas com o tempo desapeguei-me de detalhes e entalhes, excepto do tempo que vento trás. Afinal de contas esse tempo não me faz esquecer a pessoa que sou embora me tenha esquecido do que poderia ter sido por nunca saber o que é que era. Afinal de contas o vento só trás ar em grande velocidade, venha ele do norte ou do leste. A verdade é que me leste.
Sanzalando
14 de junho de 2019
13 de junho de 2019
Fui no planalto porque era cacimbo
Me sentei perto do zulmarinho e com o vento fui sonhar acordado coisas do meu passado. Deixei-me ir assim num ir meditado.
E num repente chegou o cacimbo. Se embarca para o planalto, se vai na casa da família. O avô também nos quer ver crescer. Os tios e primos precisam nos conhecer. A gente é família e da família da gente a gente gosta sempre. 8 horas no comboio, parece vai atravessar um continente. Neste tempo de cacimbo ninguém se lembra do tempo. De carro pode ter mulola que faz as horas se perderem no tempo de espera. Mas não tem carro vai mais como? Comboio. Leva farnel que é croquete ou franco assado e bebida na garrafa. Era cacimbo e ainda não tinham inventado a lata de bebida. Comboio está cheio, meio ou vazio, não importa. Interessa é que são uns meses passados lá no planalto. Nunca perguntei na kota quanto custa o bilhete. Não lhe vou pagar nunca. Quero ir e pontos finais. Cacimbo aqui é frio de tremer.
Na esquina da casa amarela me vou sentar a ouvir os mais velhos a contar coisas que eu vou achar estão-lhe a aumentar a veracidade. Eles nasceram um a três anos antes de mim. São mais velhos nas estórias inverídicas que contam. Eu me derreto a ouvir. Felizmente eu uso calções e não vou molhar as calças com a tanga que eles estão a me contar. São os meus heróis. Tios e vizinhos destes meses de cacimbo lá de baixo.
Na outra esquina tem casa dizem é assombrada. Quase mo borrei quanto meu tio, noite alta numas nove horas, com folhas de bananeira nas mão me assusta na porta da casa branca abandonada nunca soube a verdade do porquê. Corri que nem vi se tinha combustível na Sacor.
No carreiro da Senhora do Monte me perdi centos de vezes. Malditos eucaliptos que me fazem afastar do caminho. Olha a piscina que é um lago grande que deve ter bagres de metro. Me disseram na esquina da casa amarela. Mergulho? estão doidos que eu só mergulho no zulmarinho. Nessa banheira grande nem me meto. Tem prancha e tudo. Loucos estes do planalto. Verdade verdade eu só vi o meu tio lhe mergulhar e só foi uma vez. Também não me posso lembrar de tudo que ainda sou novo, né.
Sanzalando
12 de junho de 2019
sonhos
Me sento com os olhos num horizonte largo. O zulmarinho nos seus múltiplos montinhos me descansa a mente e me abre o sorriso. Faz-me feliz, que mais me importa? Não sou perfeito, eu sei. Tenho quinhentas imperfeições, mil medos e milhão de sonhos. Todas as noites sinto saudade. Todos os momentos me ouço sussurrar frases imperfeitas de saber feito.
Eu, o zulmarinho e as minhas ideias fazemos constantes voos sem asas, percorremos caminhos sonhados ou apenas desejados. Sorrimos ao sabor do vento da primavera. Sabemos que mostrar o que sentimos é um vão. Sabemos que os sonhos são ideias inventadas no desejo e são o mote da vida. São sonhos de primavera que voam com o vento dum pôr do sol.
Sanzalando
11 de junho de 2019
um sorriso
Quando os meus olhos se perdem no nada eu me perco no pensamento. E em que penso eu tanto. Na alegria. Todas as coisas e todas as situações têm um lugar, minúsculo por vezes, para a alegria. Mas têm. Lá no fundo de mim mesmo, num pensamento apagado, tímido ou simplesmente ignorado, eu encontro alegria. Tenho de encontrar, por isso é que há vida. E se não houver outra, esta tem de ser vivida.
Um sorriso trás tanta alegria... mesmo que seja para outrem.
Sanzalando
Um sorriso trás tanta alegria... mesmo que seja para outrem.
10 de junho de 2019
trampolim do 10 de Junho
Primaveril vento que me trás uma vontade de vestir o meu melhor sorriso e ir por aí espalhar alegria. Porém, empurrado por ele, me sento no sofá e navego por recordações e outras paixões. 10 de Junho, saltei o trampolim num salto acrobático e por mero acaso não fiquei como o Camões ou figura pintada por Picasso. Tinha gente na bancada e era festival de ginástica e as férias iam começar. Eu aprumei a linha recta que me levava à mesa alemã, contei os passos para acertar no trampolim com o meu melhor pé. Desacertei com ele e lhe bati com o pé contrário. Lhe acertei com a barriga e fiquei a meia haste. Acabou-se o meu 10 de Junho. Não era primavera, era só cacimbo, e a gente da bancada se levantou, devia ser para ver se eu continuava ou tinha acabado ali a minha carreia futura. Apenasmente deu para mudar de carreira, saltando sempre o 10 de Junho e fugindo do trampolim propriamente dito.
Sanzalando
9 de junho de 2019
vento
Sopra vento parece é assoprador mágico. Cabelo ralo parece vai sair da cabeça. Olhos mal se abrem. Venta pela primavera toda. Eu não quero o meu dia assim soprado. Vá lá, uma brisa. Não preciso deste sopro todo parece quer gastar tudo hoje. Parece tudo se desmantela na minha mão aberta. Eu assim ainda acabo morrendo na rotina, enclausurado fugido desse vento que sopra na força toda que ele trás. Não me venham dizer que há bom vento. Nem o do meu mais a sul era assim chato que nem esse que sopra aqui no meu norte sul.
Sanzalando
8 de junho de 2019
7 de junho de 2019
6 de junho de 2019
ouço-me no silêncio
Primaverou parece é tempo do meu cacimbo. Já nem o tempo me mostra o lado sul. O vento parece vem de lá, mas se arrepiou num bloco de gelo pelo caminho. As crianças assim não conseguem nem brincar na rua como quando eu era da idade deles. Talvez seja por isso que eu me sento algures aqui numa gruta de imaginação a ver o tempo vento passar e ouvir os meus silêncios, essa voz que eu tenho dentro de mim que me sussurra caladamente as verdades que eu sinto. Eu me ouço nas falsas partidas da voz, nas pausas respiratórias imprecisamente usadas.
Eu ouço o meu amor, o meu discurso da faz de conta e os meus gritos sentimentais.
Não me destruo por pequenas coisas nem por pequenos tempos actuais. Eu ouço o meu silêncio levado pelas ondas do vento rasante do zulmarinho, eu me eternizo na silabas que me digo.
Sanzalando
5 de junho de 2019
no tempo da minha mãe
Primaverou de novo. Vesti o casaquinho de malha que a mãe mandava vestir quando ela tinha frio ou adivinhava que ia fazer frio mal ouvisse o estrondo da noite a cair. E era matemático, mesmo que a matemática não fosse o meu forte, até ao romper da aurora era frio de cacimbo gelado. Hoje vesti o casaco de malha e me lembrei de minha mãe. O seu ocaso por acaso me deixou muito só. Fiquei, para lá de todas as coisas que possa passar pela cabeça, sem aquele ombro onde eu podia encostar a cabeça de descansar do enrolamentos da vida. É que a vida às vezes nos enrola em enredos que até parece novelo com que foi feito o meu casaquinho de lã. No tempo dela eu não me sentia uma pessoa fria porque sentia o seu calor e cada mágoa ou decepção ela lhe dava a volta e transformava em calor para me devolver. No tempo dela eu não tinha tempo para perder em lutas dentro de mim. Ela me olhava com aquele olhar de mãe e dizia que eu não devia perder tempo a lutar comigo mas sim aliar-me comigo e viver. E isso eu vou fazer ainda hoje.
Sanzalando
3 de junho de 2019
Eu sou
Não tem estação do ano definida para eu me deixar abater por vezes com coisas de nada. Assim mesmo, de nada. Ai que sou forte e faço e desfaço e depois lá vou na ribanceira da vida num dia triste. Humano tem um mano que deixa triste só porque acontece tristeza e nem sabe nem explicar direito mais o que é que começou essa coisa na cara. Acho só é a gente tem de se pôr, assim de vez em quando, no lugar do outro e sentir. Ninguém vai parar. Só sentir por sentir.
Faz tempo, eu era criança e queria ser tanta coisa que tanta coisa sou que já nem sei. É estação do ano que me faz ser assim. Apeadeiro do ano não pára minha maneira de ser e estar. Só mesmo estação. E primavera tem ribanceira. Verão também. Outono e inverno já nem me lembro. Mas acho tem. Todos os dias pode ter. A gente é que não vê e não sente. Eu sou humano que tem um modo de ser. Eu sou.
Sanzalando
2 de junho de 2019
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