Primaverou de novo. Vesti o casaquinho de malha que a mãe mandava vestir quando ela tinha frio ou adivinhava que ia fazer frio mal ouvisse o estrondo da noite a cair. E era matemático, mesmo que a matemática não fosse o meu forte, até ao romper da aurora era frio de cacimbo gelado. Hoje vesti o casaco de malha e me lembrei de minha mãe. O seu ocaso por acaso me deixou muito só. Fiquei, para lá de todas as coisas que possa passar pela cabeça, sem aquele ombro onde eu podia encostar a cabeça de descansar do enrolamentos da vida. É que a vida às vezes nos enrola em enredos que até parece novelo com que foi feito o meu casaquinho de lã. No tempo dela eu não me sentia uma pessoa fria porque sentia o seu calor e cada mágoa ou decepção ela lhe dava a volta e transformava em calor para me devolver. No tempo dela eu não tinha tempo para perder em lutas dentro de mim. Ela me olhava com aquele olhar de mãe e dizia que eu não devia perder tempo a lutar comigo mas sim aliar-me comigo e viver. E isso eu vou fazer ainda hoje.
Sanzalando
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