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15 de novembro de 2019

atropelado

Hoje, assim num dia de faz cacimbo na minha cabeça, eu dei comigo de calções, suspensórios de cabedal a condizer com as bonitas sandálias nos meus pés. Ainda estava a aprender a sair de casa sem companhia de mais velho. Acho mesmo era a primeira vez que eu vinha da escola 55 para casa sem companhia. Nem amigo nenhum vinha comigo. Era eu e os meus medos a conversar com os meus botões ou só mesmo a sonhar que um dia eu ia voar sei lá mais o quê. Me lembro que ia atravessar a estrada do Hotel Turismo para o passeio do Pessoa e senti um baque e fui direito no chão. Mesmo no meio do alcatrão. Me assustei?! Sei que parece nasceu mola dentro de mim. Sai daquela posição imprópria que o carro do Rui Frota me deixou, nem olhei para mais ninguém que ali logo me olhavam parecia eu ter saído sei lá onde. Puxei das articulações acelerei o cérebro e antes que alguém dissesse o meu nome eu estava a passar a avenida do Beto Reis, os pés tenho a certeza não tocavam no chão. Voei para casa. Que correria é esse acho me disse a avó ao me ver entrar que nem capitão américa ou homem raio. Me fechei no quarto. Me olhei e ali estava eu de dois braços e duas pernas, roupa preta da areia do alcatrão. Nem um risco nem uma dor. Bateram na porta. Minha avó foi lá. Lhe contaram e eu gritei não fui eu. Me levam no hospital é melhor. Não fui eu, vou lá fazer mais o quê? Paciência de avó, preocupação dos mais velhos que vieram me cuidar. Não fui eu, avó. Me tocou a ver eu digo ai. Nada. Nem uma dor me doía. A alma sim. Mas ela não tocou nela. Podem ir embora que parece ele está bem, disse a minha avó enquanto fechava a porta e se sentava comigo. Não fui que fui atropelado. Foram mesmo só os meus pensamentos que passeiam comigo, avó. Eu estou bem. Não sai de casa nesse dia, nem para andar de patins ou carros de rolamentos que nessa altura ainda não tinha. Não joguei futebol. Fiquei só em casa não fosse dar uma dor qualquer. Amanhã vou na escola como um homem mas não levo nem os pensamentos nem distracções na cabeça.



Sanzalando

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