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6 de novembro de 2019

o preço de ser eu

Olhei de longe o zulmarinho. Não está tempo de me perder no tempo da contemplação marítima. O tempo tempo não está de feição e o tempo horário não corre ao ritmo duma visita demorada. Mas mesmo assim, perdido de mim, me deixo contemplar pela queda abrupta que imagino estar para lá da linha recta do horizonte. Até parece que o mundo acaba onde os meus olhos deixam de ver. Esta coisa de pensar absurdo, de me mudar o jeito de falar, de ver e até do olhar, fazem-me meditar na meditações que alguma vez eu fiz, ou não. A realidade de hoje não foi realidade de ontem nem será a de amanhã. Sonhei, vivi ou apenas eu sou um pesadelo de mim?
O facto de eu ter pensado e não ter dito não quer dizer que desapareceu. Elas ficam lá num qualquer canto do subconsciente, num armário velho e desarrumado e de quando em vez vem cá fora dizer ao sol eu estou aqui. Mas lá elas vão continuar a pesar, por vezes sufocar e outras vezes magoar. Por isso é melhor retirar o armário, jogar cá para fora essas palavras pensadas, esses sonhos sonhados, esses quereres queridos e libertar desse veneno fatal, o conformismo. 
Olhei de longe o zulmarinho e desconformei-me e mesmo parecendo um idiota arrisco a rabiscar palavras de sabor a mar, perfume de maresia e som de marulhar. É o preço que tenho de pagar para que eu seja assim: Eu!


Sanzalando

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