recomeça o futuro sem esquecer o passado

Podcasts no Spotify

27 de fevereiro de 2021

pedalando ao imaginário

E assim n um dia fez sol parecia mesmo igual ao de lá. Saída a porta de casa e afinal não era. Brilhava friamente. Foi aí que me lembrei que há a luz fria e aquelas de lâmpada que até queima quando um gajo está assim parecido com a distração feita homem. Hoje era só brilho feito inverno. Mas deu para brilhar os olhos atrás duns óculos tipo piloto de avião. Me lembrei que desde criança eu queria ser piloto só por causa dos óculos. Será que os óculos nascem quando eles têm o direito de pilotar?
Mas saído de casa ai fui dar ao pedal. Vento frio arejando a cabeça. Vento arrefecido de inverno tremelicando o meu corpo antes de aquecer. Mas o sol brilhava e eu tinha de lhe aproveitar. Por cima do meu ar orgulhoso de atleta de fim de semana lá fui pedalando em direcção ao meu sul imaginário. Cada pedalada e eu estava na rua do Sr. Figueiredo, outra e estava na ria Do Dr. Carneiro. Olha a professora Saavedra mora aqui. E fui pedalando por caminhos que me levaram na Torre do Tombo, no Forte de Santa Rita, no Aeroporto velho que era um hangar parecido com os filmes da grande guerra com uma salinha que mais parecia um posto de correio. Desviei-me da estrada e em terra batida fui no depósito de água. E eu pedalava aqui mas o meu corpo estava rejuvenescido lá. A imaginação dava ao pedal e eu desfrutava e posso dizer que sim. 


Sanzalando

#mangueira


#lugaresincriveis


#lugaresincriveis que deixam saudades


26 de fevereiro de 2021

saudade

E com o tempo feito faz de conta aqui fico eu desencontrado de mim. Chove ou faz sol? Ambos e nem parece é inverno o dia todo. Faz de conta é, mas está calor e não é da lareira. Acho vem aí tempestade que nem a trovoada que eu tinha medo quando era criança. E com este tempo, indefinido eu decididamente queria estar na minha terra, sentir o ar quente a custar a respirar, explorar os cantos que nunca percorri, sentir os perfumes que nem sabia havia. Com o tempo assim não me importo de passar horas a pensar-te, terra da minha saudade.


Sanzalando

25 de fevereiro de 2021

#desportivamente


#mangueira


meteorologia mental

Será que lá chove? Ao que sei não, mas não estou lá e fico na dúvida. Já começo a não me lembrar de como é que era sentir aquele clima no meu corpo. A minha memória meteorológica nunca foi superior a 24 horas pelo que aqui, neste tempo cinzento de sol desbrilhado eu ainda fico mais baralhado. Eu sei que cada um tem o seu céu e inferno e eu estou neste dilema temporal. Para mim está frio gelado e olhando pela janela vejo que tem gente parece este tempo é verão. Eu sei que a distância do amor ao ódio é um pouco menos que nada e estou eu aqui a vagabundear-me em bares e atmosferas. Afinal de contas eu preciso de tempo para me restaurar e era um instante se fosse no mar da minha terra, na praia onde esperei tantas vezes que ela chegasse, na rua onde morei a olhar para a sua janela. 
Será que lá está cacimbo? hum, penso só que está sol a bater nas casuarinas e a afzer sombra nos meus pensamentos.

Sanzalando

24 de fevereiro de 2021

as árvores dançam

Olho pela janela e vejo as árvores a dançarem ao sabor do vento. Deve ser rock ou o velho tuiste, que se escrevia twist, da minha infância. Aqui dentro sem sensação térmica de inverno porque a lareira não a deixo apagar, me aquece suavemente. E assim,  olho distraído para dentro de mim e vagueio nas minhas coisas vividas ou imaginadas. Ninguém consegue saber o que sinto nem ver o que provoco em mim nestas vadiagens interiores. Felizmente chamo vida, umas vezes mais triste, outras alegremente vivida. Estes momentos são um bálsamo porque me trazem o perfume da terra da minha meninice, outras o cacimbo dos meus tempos de escola, outras as trovoadas de amores perdidos. 
Só tenho medo de um dia olhar pela janela e não me lembrar porque estou a ver para lá de mim. O eu sem o meu corpo, o eu passado nas causas antigas, joelhos esfolados em corridas de patins, os tacões gastos nos carros de rolamentos, a força bruta  dum pensamento envergonhado.
Lá fora as árvores dançam e aqui o meu herói que sou se deixa embalar numa aflição de tempo.


Sanzalando

23 de fevereiro de 2021

em zulmarinho original

Nos países que chove todo o ano como é que se faz? Não há vida? Tenho de aprender a viver com este sol cinzento que não é nem parecido como o da minha infância nem a com a minha adulta idade de anos atrás. Tenho de aprender a caminhar em linha recta com este tempo, com qualquer tempo, como se estivesse sempre em porto seguro, como se fotografasse o mundo sempre com um brilhozinho nos filtros. Tenho de aprender a viver este tempo mesmo que tenha de usar o silêncio para me defender da corrosão dele.
Eu já tenho é saudades de demolhar o meu corpo em zulmarinho original.

Sanzalando

22 de fevereiro de 2021

song song blue

E com chuva friorenta eu ia desconfinar-me mais como? Fico em casa, ouvindo uma música dos meus tempos de paixão, song song blue, me deixo levar ondulantemente por pensamentos que me dão vida. Antes isso do que pensar que fazer depois duma queda. Virtual é claro. Fico no chão a pensar no que me aconteceu ou levanto-me e sigo o caminho que tensionava fazer? O chão é frio, duro e incómodo. Levanto-me e sigo. Simples coisa da vida: viver. Não é que a vida seja fácil. Mas viver o máximo dele depende de cada um e isso é fácil. Reclamar? Para quê e com quem? A vida é minha e eu tenho que lhe dar a volta. Dou-me gratidão e menos aborrecimentos, mais desculpas e menos pausas. Não perco tempo com nenhures. 
Song, song blue


Sanzalando

#lugaresincriveis


21 de fevereiro de 2021

#mangueira


no meu passado

Numa tarde chuvosa, com ares de inverno, vento armado em brisa a refrescar os corpos aquecidos no calor da lareira, me deixo ir atrás dos pensamentos que sei são novinhos em folha e ideia. A gente sente saudades dos pedacinhos que foi deixando para trás como que a marcar o caminho feito. Mas não tem volta. Foi um bocado de nós que ali ficou e não volta. Aquela paixão que provocou um tremor de terra dentro do meu corpo e depois me fui reconstruindo até quase ao esquecimento, não volta. Mas ficou lá um pedaço de mim. Aquele facada provocada por uma resposta que deste a uma pergunta que não te foi nem sequer feita ainda hoje não cicatrizou, a lembrar que me feriste numa quase morte recuperada mas não esquecida. Daquele tsunami sobre o meu corpo quando esperava que o amor se sobrepunha a um qualquer erro inocentemente cometido, me deixou sem respirar, sem saber que lado era a praia ou o lado profundo de mim, ainda hoje estou para perceber o que me aconteceu. Enfim, tantos pedaços de mim perdidos num passado que já não sei quando foi.

Sanzalando

20 de fevereiro de 2021

amor

E se novamente se faz de chuva o dia eu vou fazer mais como para passar com o tempo para a frente? Viver pensamentos e deixar crescer ideias ou misturar ambos e meditar? Opto por isto tudo misturado e saberei que passarei o dia com algo grandioso: eu!
Eu sempre acreditei no amor. Esse sentimento que tem muitas formas e muitos braços, muitos poemas e lágrimas escritas. Esse sentimento que tem as costas  largas porque tudo aguenta. Esse sentimento que suporta a vida. Claro que há amores com final feliz e há amores que nunca acabam. Há amores que mudam e outros que nem as teias de aranha os deformam. Há os amores de agora e dos de toda a vida. Há amores, simples, transparentes e pornograficamente puros.
E ao som da chuva que cai me sobra amor para dar.


Sanzalando

#comida


#imbondeiro


19 de fevereiro de 2021

voltarei

E o lusco fusco de um dia que não quer ser de inverno no inverno, aquecido pelo calor da lareira que as chamas dançam arbitrariamente, deixo-me vagabundear pelos pensamentos que não sei quantas vezes já foram pensados ou são frescos. Sei que não tenho respostas porque me reinvento em cada instante, embarco em mim para cada viagem no momento que vivo sem medo de descobrir um outro ou outros eus, um ser que desconheço no meio das minhas mil perguntas. Eu caminho por mim, passo lento ou voo planado, escolhendo correntes, desviando mistérios ou encalhando-me nas teias do pensamento livre. Se tiver que escolher eu escolho a alegria, o perfume misterioso de ser feliz, a força do levantar e seguir de cabeça erguida, porque um dia irei voltar a ser quem sou.

Sanzalando

18 de fevereiro de 2021

gostos

Faz sol porem não com o brilho que lhe gosto. Mas eu não lhe mando e ele faz como lhe acontece. É destino que eu vivo cada momento dele. Eu só quero mesmo me acordar e ter tepo para gastar os meus pensamentos, mesmo que eles sejam gastos, correntes, profundos, complexos, transparentes ou da maior simplicidade. Eu gosto da vida e lhe tenho tanto para pensar e dizer que às vezes me perco noutros caminhos mais directos ou translúcidos, caminhos contrários ou contraditórios, talvez para me experimentar ou testar. Gosto de me multiplicar em complexas equações nem que seja para exercitar a minha capacidade de pensar. Se calhar só para desanuviar da complexa monotonia da juventude que gastei.


Sanzalando

#flores


17 de fevereiro de 2021

não serei quem fui

Acho o frio está a querer ir embora, embora timidamente. A lareira está em carvão sem chama mas aquece tipo braseira. É só mesmo me mimar, me aquecer a alma enquanto passeio aqui nos meus pensamentos, divago aqui nas minhas deambulações vadias, medito em silêncios e grito calado as minhas dores. Poucas são as pessoas que me conhecem verdadeiramente. Eu incluído. Nunca vi a minha alma, nunca tentei arrumar o meu caos, nunca traduzi o meu riso. Nunca desfiz a barreira que um dia criei para me separar do antes e do depois, nunca transportei-me para um presente que não o que eu imagino, nunca mergulhei no absurdo da minha existência a ponto de a compreender.
Não me engano quando digo que amanhã não serei quem fui.


Sanzalando

16 de fevereiro de 2021

egoísmo meu

Estou sentado à janela da minha casa, observando o céu e sentindo a brisa do vento que entra pelas frinchas. O sol ainda não brilha e eu não sei de que cor está o zulmarinho. A minha mente viaja para longe e me faz reflectir entre no que me tornei para mim e em como me conheço. Arrepio. É incrível a forma como apareço na minha vida, como me tornei num protagonista prestes a representá-la como numa novela, peso nas costas e ainda sim, no fim das contas, consigo agradar ao meu público. 
Sou aquele clichê que se gosta, que se espera, e que se quer? 
Quando olho pela janela vejo nos pensamentos o meu passado presente. Sempre eu e o mais louco ainda é saber que em todo o sítio que vá, eu estou aqui comigo para sempre.


Sanzalando

15 de fevereiro de 2021

consequência

Ainda o sol não brilha como brilhava na minha infância, faz um frio de tremer até na alma e o vento que sopra até parece me quer levar como joeira feito de cana e papel de muitas cores. Já foi tempo de brincar com joeira, de lhe construir vezes sem conta. Correr para ela levantar... mas a saudade não é doença e correr já não é para mim. Olho pela janela e vejo o vento levar a areia, penso estou no deserto, perna desnuda a ser picada pelos microscópicos grãos de areia. Saudade não é para aqui chamada. Desviei-me. Nesta caminhada, que espero seja muito mais longa, vou-me refazendo de lembranças, vou-me construindo feliz. É esse o sentido da vida: evoluir interiormente e esperar que o resto seja uma consequência.


Sanzalando

#comida


#lugaresincriveis


#lugaresincriveis


13 de fevereiro de 2021

hoje solei-me

E hoje o astro rei deu-se em brilhar até pareceu o do outro lado do mundo. Eu brilhei junto com ele. Até senti tinha entrado juventude em mim. Fenomenal que nem parecia eu de outro dia cinzento. 
Já faz tempo eu tenho dúvida se eu faço parte absoluta de mim. Nos dias cinzentos o outro eu que não eu se sente sozinho, abandonado, caído por aí num cinzento cru da vida. Nesses dias parece nada chega para tapar o vazio de mim mesmo estado em multidão.
Hoje ele brilhou e eu multidei-me completamente em sorrisos e acenos como monarca da minha vida republicana.


Sanzalando

12 de fevereiro de 2021

brinca no tempo

E o tempo brinca comigo. Hoje brilhou até me fazer lembrar o meu antigo sol. Depois se tapou num cinzento escuro de elevar o medo à potência inexplicável do aconchego caseiro. O sol me faz perder tudo até a complexidade da minha maneira de ser simples. Este tempo de cá me deixa cada vez mais descoberto de pensamentos brilhantes e tapado em obscuras ideias aberrantes.
A minha janela não me leva por caminhos da memória, trás-me só picadas empoeiradas de sonhos transversos em diagonais do diabo e eu paralelipidico-me em forma de pedra de calçada escondendo-me de sombrias figuras parvas. Eu sou este tempo, fruto podre dele.


Sanzalando

11 de fevereiro de 2021

o meu tempo perdido

Com este tempo vou escrever mais o quê? Se não escrever vou entupir meu cérebro com palavras por dizer. Escrevo ou falo ou entupo-me de palavras caladas? Complicómetro ligado. Lareira acesa, chuva lá fora e eu em dilema aqui dentro de mim. Meu rosto tem estampado os meus olhos tristonhos e descuidados desta falta do brilhante sol que parece eu me esqueci como é que ele era na minha força adolescente,. Meu corpo amolecido tem marcas dos meus sonhos ausentes e o meu peito o som ôco da saudade. Não devia ter perdido em nenhum segundo da minha memória a vida de criança que fui, adolescente pouco vivo que não guardou na retina os seus passos todos.
Vou escrever nada e vou-me acienzentar como o tempo que o tempo para trás não volta.

Sanzalando

#lugaresincriveis


10 de fevereiro de 2021

Cinzento tempo

E o cinzento predomina para lá da minha janela. Chuvisca, faz frio e presumo que o mar deve estar bravo. Eu estou. Fruto do tempo, diria a minha avozinha desde o alto da sua sabedoria. Assim, bravamente e iradamente, vou matutando ideias e pensamentos com medo de sufocar em palavras mal ditas. Amar em grande é absorver reservas de energia e a usar até gastar, é voar mesmo sabendo que tem vertigens, é ter fome depois de comer e sentir um enjoo farto.
este tempo dá-me um desespero aconchegante que me transporta para o interior zangado de mim e sentir saudades dos tempos quentes da adolescência, do colorido da inocência e da gargalhada sonoro num filme de terror.


Sanzalando

#lugaresincriveis


9 de fevereiro de 2021

procuro por mim

Chuvisca que nem de chuva se pode chamar. Cinzentou-se-me o cérebro. Parece me perdi no meu interior, encontrei o limbo em cada canto de mim. Já não me pareço com o reflexo que vejo no espelho. Mudei. Cinzentei-me todo, da cabeça aos pés. Estou pior que o tempo que faz lá fora. Nem as labaredas da lareira me animam. Acho sumi de mim. Molhado de corpo e alma me ausentei em fuga. Cansei de ouvir as tristes coisas na radio e na tv. Saturei de ouvir decepção atrás de decepção. Pelo meu corpo, pelas minhas veias corre um viscoso líquido de raiva que eu quero sangrar, como antigamente via fazer nos travões. 
Eu sei que o tempo assim faz-me ficar assim. Só tem gente que quer ficar na fotografia ou num mural para a história. Cansei do tempo assim, cansei das pessoas assim, cansei da história assim. Vou nas minhas estórias, nos meus sonhos e na minha ilusão. De norte a sul e da direita para a esquerda, seja em que sentido for, eu não vou, porque prefiro ficar neste aqui à procura de mim.

Sanzalando

8 de fevereiro de 2021

lá para fora

 É quase madrugada ainda. O frio parece é tanto que chega aos ossos. Não acendo a lareira porque não quero que os vizinhos pensei eu queimei alguma coisa para estar a sair fumo assim tão cedo. Me deixo estar à janela a pensar com os meus botões, se a t-shirt os tivesse e o casaco de malha não fosse moderno de fecho eclair. 

Neste pensamento gelado me deixo levar e procuro amor, duradouro, curante, cicatrizante e crescente. Não é para mim porque estou servido e não sou egoísta faz muito tempo. Tenho memórias e recordações e actualizações. Só preciso mesmo para esse mundo lá fora que de tão frio sentimental que só sabe dizer palavras geladas e desagradáveis.

Não estou a dar uma de herói quando fraquinho sou eu. Estou só mesmo a fazer aquecer os coração de quem o tem tão gelado que até parece já morreu mas ainda não deu conta.

Sanzalando

#lugaresincriveis


7 de fevereiro de 2021

#lugaresincriveis


o melhor de mim

Não chove, faz frio mas eu estou a ver o mar. De memória apenas. Mas o vejo, o sinto e quase o ouço. No aqui que agora é tempo de frio e chuva, misturado com a memória do calor e seco, eu nunca desisti, insisti e se calhar até persisti, sabendo mesmo que a percentagem de dar 100 era quase zero. Apesar de tudo eu insisti nas palavras escritas porque a voz me faltou ou corou no enrascado modo de me olhar. Eu sou metade de mim, sabendo que a outra metade também. Eu sou um conjunto de metades, memórias e vivências, realidades e imaginações.
Neste tempo eu sou o melhor que tenho para mim.


Sanzalando

#mangueira


5 de fevereiro de 2021

#mangueira


frutos do tempo

E se a minha avó fosse viva ia dizer que estava tempo de ir morrer para longe. Nem é inverno nem primavera. É mesmo só cinzento ar de quem não apetece fazer mais nada para além de esperar que amanhã esteja melhor. 
Se eu não fosse um gajo porreiro, pelo menos para mim, saía do meu corpo e ia ver o que os meus pensamentos poderiam fazer de mim. Ao som dum qualquer CD, porque já não arranjo um gira-discos para ouvir o ruído de fundo dos meus vinis, ia por aí pensar num qualquer quarto de arrumações onde pudesse guardar os meus esquecimentos, os meus lamentos e os sofrimentos que acabei por não sofrer.
Com um tempo assim, num confinado obrigatório até parece virei um finado da minha estória sem memória, sem um final feliz e sem um copo de fundo com vinho de missa a que faltei.
Frutos cinzentos do tempos


Sanzalando

4 de fevereiro de 2021

deve ser chuva

Chuvisco ou chuva para mim é igual: não gosto e acho só devia fazer isso à noite quando estou na sorna. Agora olhar na janela e ver os pingos na sua verticalidade inclinada a me impedir de usufruir do brilho do sol que mesmo fraquinho é melhor que isto fortezinho. Acendo a lareira ou não. Não está frio porém está demasiado melancólico. Dúvida certa pelo que na dúvida não acendo, para já. Mas para outro já que a gente não perca a beleza do olhar nem a franqueza do sorrir. Noutro para já, que a gente não perca também a capacidade de se reinventar. Um abraço e um sorriso por mais distantes que nos deem a gente sente-os felizmente bem.
Hoje estou numa tarde carregada de afetos. Deve ser chuva que continua aí

Sanzalando

3 de fevereiro de 2021

sem pintar o tempo

Neste tempo irregular do frio, sol e chuva, cacimbo, vento e trovoada, até a obrigação parece é fácil de cumprir. Ficar em casa não é difícil, difícil é pensar, meditar e concluir. Neste tempo sem sol brilhante, hoje invernou que nem parece esteve dias brilhantes ontem e antes, não vou jorrar lágrimas, nem mostrar rugas de tristeza, nem palavras escritas por medo de as dizer. Vou só meditar numa libertação mental de prisioneiros pensamentos, de apagar caras que ao tempo eram adolescente e eu não imaginei um dia as ver envelhecer. 
Como é que estará X e Y? Não vou-me martirizar num recuar de tempo, vou só rasgar o tempo e continuar a ver o que os olhos viram. Não quero saber se tem um andar pouco prático, um cabelo pintado ou uma careca luzidia. Vou só mesmo ficar como ficaram na memória. Não vou pintar o tempo, vou mantê-lo como é que ele era.


Sanzalando

#zulmarinho


2 de fevereiro de 2021

#lugaresincriveis


o que resta de mim

Parece o inverno está a dar os últimos sinais. A lareira apagada e eu não estou gelado. Ainda não estou no tempo de lá, ainda não estou a me sentir brilhante apesar deste sol pálido me bater nos olhos. O vidro da janela tem de estar bem fechado para me sentir confortável neste caminho de me pensar e repensar. E é assim que dou comigo a ouvir uma música dos meus tempos de adolescente apaixonado, uma música do antes de termos levado caminhos diferentes. A música já não me parece tão boa como era, cada nota e cada verso parece perderam pedalada, já não me fazem tremer nem embaciam os olhos de te pensar. Sim, eu sei que tudo tem um prazo e nada existe para a eternidade, além da História de agá maiúsculo. A música é a mesma, os meus ouvidos e a minha sensibilidade mudaram. Já não ardo facilmente, já não choro facilmente e já não me tiro do sério assim tão fácil. A ferida dos amores se foram cicatrizando e o tempo fez com que a verdade se fosse alterando. 
Eu sou apenas o que resta dessas cicatrizes mesmo que na altura parecia que eu tinha sido ferido de morte.


Sanzalando

1 de fevereiro de 2021

#mangueira - 3 gerações


vou

Olhando para a lareira apagada e sentindo um calor interior, um calor de vem das memórias, que se espalha em mim como uma manta de afinidades e afectos que sinto desde criança, me deixo deleitar por caminhos percorridos ou apenas imaginados. Já não sei as minhas verdades ou imaginações, os meus sonhos e desejos. Sinto um calor de vida percorrendo cada canto do meu corpo faz conta eu sou o mapa duma grande cidade abarrotada de trânsito caótico porém fluido.

Vou assim beijando cada acto de inspiração, cada palavra que balbucio, cada sorriso que esboço. Conto aos cantos todos deste mundo redondo a minha ideia de mundo feliz, começando por mim, sabendo que a tristeza é efémera como rápida é a vida.


Sanzalando

#lugaresincriveis


#zulmarinho


#lugaresincriveis