Olho pela janela e vejo as árvores a dançarem ao sabor do vento. Deve ser rock ou o velho tuiste, que se escrevia twist, da minha infância. Aqui dentro sem sensação térmica de inverno porque a lareira não a deixo apagar, me aquece suavemente. E assim, olho distraído para dentro de mim e vagueio nas minhas coisas vividas ou imaginadas. Ninguém consegue saber o que sinto nem ver o que provoco em mim nestas vadiagens interiores. Felizmente chamo vida, umas vezes mais triste, outras alegremente vivida. Estes momentos são um bálsamo porque me trazem o perfume da terra da minha meninice, outras o cacimbo dos meus tempos de escola, outras as trovoadas de amores perdidos.
Só tenho medo de um dia olhar pela janela e não me lembrar porque estou a ver para lá de mim. O eu sem o meu corpo, o eu passado nas causas antigas, joelhos esfolados em corridas de patins, os tacões gastos nos carros de rolamentos, a força bruta dum pensamento envergonhado.
Lá fora as árvores dançam e aqui o meu herói que sou se deixa embalar numa aflição de tempo.
Sanzalando
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