Hoje me apeteceu ir na tipografia do Zé Côco que também foi do meu pai e falar sério com o mais velho parece o Eça de Queirós. É assim de mais ou menos que estou a pensar escrever um livro de estórias, faz tempo lhes guardo na memória. Zé Côco tem o caricoco na boca. Eu acho ele dorme com um. É só um achar que eu não sou de inventar. Ele me pergunta se é poesia. Lhe digo não, que isso ele faz é bem muito melhor que eu tentei. Mas a gente aqui não faz assim livro sem ser de facturas e de remessa. Zé Côco acho não me entendeu. Vou falar com o filho Beto. Ele me vai entender. Pára de montar as letras ao contrário e me dispara:
- Diz lá Chuinga, que é que queres?
Lhe explico tudo direitinho como eu pensei. Enquanto isso vou atrás dele até ao anexo onde está a guilhotina e se faz a encadernação. Ele não pára. Não sei se me entende ou faz de que sim só para me ouvir mais.
Voltámos para trás. Figueiras está na máquina que parece é robot mas ainda não tinham inventado essa palavra em português, tira papel branco sai papel com letras e linhas e diz se chama facturas. E lá estou eu a lhe repetir que quero fazer um livro de muitas letras para os adultos lerem depois do pôr-do-sol na varada como faz o meu avô.
- Não Chuinga. Primeiro tens de crescer e aprender a escrever, fazer os trabalhos de casa, ler muito e depois inventar para escrever.
Lhe olhei debaixo porque sou mais baixo que ele que é adulto e tem Vespa, descompreendi de ter de inventar se tudo já estava inventado, era só escrever e ele fazer o livro nas máquinas que usam tinta parece é tinta de choco.
-Te digo, Chuinga, vai prá escola e fica com muita atenção. Vais ver que o que escreveste não é literatura para sair em livro.
E ainda cá ando eu a ver se aprendo.
Sanzalando
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