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1 de outubro de 2022

impossível de ontem é o normal de hoje

No silêncio das palavras pensadas me deixo embalar por memórias e ideias imaginadas nos anos em que eu não pensava outra coisa senão em ti. Cada dia passado sem ti era um inferno interminável, era uma tempestade de areia no meu cérebro condicionado à temperatura ambiente, era o suplício concessionado aos pensamentos negros da vida. Era criança, era adolescente e morria cada dia por amor. Sou, portanto, um falecido amante que amará até ao último suspiro. Era criança adolescente que sentia borboletas ao te olhar e estava na lua se tu me dirigias a palavra. Eram outros tempos que fazem de mim agora o gajo porreiro que desconheces.
Imagina que a gente se reencontrava numa ilha. Não podias fugir nem ignorar-me. Estou certo ias dizer que não conhecias. Verdade. Eu hoje sou tudo o que não podes ver. Já não o tímido introvertido que te dizia amém só de te ver. Personalizei-me num corpo, flexibilizei-me na mente e sei sorrir de verdade. É, sou o gajo que soube ser feliz, o gajo que já não sabes que existe. Já não sou o que corria a cidade para te ver qual rainha passeando no seu coche. Não ias reconhecer senão pequenos fragmentos de certos tormentos que vivemos juntos. Ias ver o mesmo olhar mas já não ias saber o que ele trás por trás. O medo ficou nas tantas vezes que morri de amor. 
Eu sei que as portas se abrem e fecham, que o impossível de ontem é o normal de hoje, que a terra já girou mais de 60 avezes á volta do sol, mas a tua inflexibilidade manter-se-á para esconder o teu pavor pelas coisas mundanas duma juventude que te passou ao lado.


Sanzalando

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