Era sábado com uma tarde de primavera quente. O dia estava calmo e a urgência parecia um enfermaria de um hospital perdido no meio de um nada. Um ou dois doentes e o pessoal trabalhador parecia adormecido na moleza. Era uma tarde estranha. Se alguém acredita nessas coisas parecia que estava adivinhar que vinha ali tempestade. Quando ninguém sabia. Mas dia assim não estamos habituados. Alguém disse a brincar que a polícia tinha fechado os acessos ao hospital. Era muito estranho mesmo.
Mas tanto brincámos com a situação que ainda não havia chegado o meio da tarde e estávamos a entrar em pé de guerra. Não é figura de estilo. Era mesmo o prenuncio da guerra que se ia instalar.
Um casalinho acabadinho de casar deu entrada no Serviço de Urgência. Ela em vestido imaculadamente branco e ele de fato de um azul a dar para o celeste.
Conjecturámos logo que havia ali um falhanço ou um ferver amoroso mais quente. Em resumo Fizemos um filme e ficámos à espera que o colega que os atendeu nos desse pormenores do caso. Todos parecíamos umas velhas alcoviteiras, apesar de não sermos elas e nem velhos.
Toca-me o telefone de serviço e ouço:
- Chefe, preciso que venha aqui com urgência. disse-me a funcionária da admissão de doentes.
Como não conheço outro termo eu desliguei e já lá estava com o meu ar sério de chefe desta coisa toda num sábado à tarde.
- Que se passa? olhando para trás do vidro onde estavam aí uma meia centena de pessoas todos vestidas com roupa de cerimónia.
- Este pessoal quer todo fazer ficha porque foram envenenados. E todos querem entrar ao mesmo tempo.
- Han? com a minha maior cara de espanto.
Dirigi-me ao vidro e perguntei lá para fora o que é que se tinha passado.
- Queremos o antidoto do veneno das osgas.
Se não era um coro, a mim pareceu-me um coro bem afinadinho de tanta gente a querer falar ao mesmo tempo.
- Um só se faz favor. com a minha autoritária voz.
- Estávamos num casamento e vieram-nos dizer que tinha caído uma osga dentro da panela da sopa. Ora o veneno mata que se farta pelo que queremos todos o remédio.
- Calma, calma. Que tipo de osga era? perguntei eu como que a mostrar que entendia muito do assunto.
- Era uma osga.
- Ok. Vão lá para a festa, divirtam-se porque a osga não é venenosa apesar de haver esse mito, esse boato, essa fábula.
- Não não. O senhor da comida é que nos mandou aqui porque diz que é mortal.
- Vão-se lá embora, divirtam-se e na segunda feira vão a uma biblioteca e estudem alguma coisa sobre as inofensivas osgas que nos comem os mosquitos.
Até parece que atirei álcool para uma fogueira. Quase entravam pelo buraco do vidro da admissão.
Virei-me para a funcionária e pedi-lhe para ligar para o Centro de Informação antivenenos e passasse o telefone a um deles.
(na verdade naquele tempo ainda não havia o famoso Dr. Google e eu havia lido há pouco tempo a história das osgas e seus mitos)
Quando os ânimos acalmaram fui saber dos noivos e o meu colega que não sabia de nada do que estivera a acontecer tinha pedido análises e aguardava a sua realização. Ele enquanto esperou pela ligação ao Centro de Informação foi pedindo análises... lá estiveram os noivos com a festa interrompida até saberem que sob o ponto de vista analítico estavam bem
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