Me sentei num banco da avenida da Praia do Bonfim. Essa praia que não sei onde fica deve ser mesmo de muito importância para ter aqui a avenida mais importante com o nome dela. Mas quem fez essa avenida fez bem. Tem caramanchão de buganvília, tem bancos compridos para quatro pessoas conversarem. Está mesmo agradável com aos seus canteiros ornamentados com flores coloridas e tem daqui e ali uns bustos que parece aquelas pessoas só tinham era cabeça e o corpo era de esconder. Mas eu agora estou aqui sentado não é para apreciar a vista. é mesmo só para pensar. A esplanada da Oásis ou do Avenida está confuso porque eles estingam uns aos outros nas discussões que vão desde o futebol, às garinas e até assuntos que nem o diabo se tinha lembrado. Aqui estou sozinho e tenho vagar e calma para descascar os pensamentos até ficar só com a raiz e o fruto dele. Nesta minha adolescência eu tenho de tomar decisões importantes pois de contrário ou vou ser mais um na minha idade da minha cidade que não é mais nada que isso, mais um.
Olho os teus olhos castanhos, a tua face sem sorriso claro e espontâneo, traduzo o brilho do rei olhar, as contrações dos músculos da tua cara e interpreto o que me dizes. Tenho de estudar mais, tenho de me afastar da vida de café e bilhar, das noites de conversa, das tertúlias de intelectuais de adolescentes armados aos cágados de gente grande.
Aqui sentado, com o pensamento nos teus olhos, com a memória na tua cara, com a gravação mental das tuas afirmações ditas tantas vezes entrelinhas, eu sinto medo. Ainda bem que estou aqui sozinho e ninguém nem vai reparar. Reflete-se na minha frente a imaginação do teu olhar e eu até que fiquei com medo de um dia dizer que te gostava ao ponto de te amar. No pensamento gaguejei de temor. O teu olhar era intenso, a tua expressão era grave. Eu tinha de mudar de vida que a minha vida fácil não me ia levar a lado nenhum. E eu sabia que sem ti é que não ia mesmo a lado algum. Estudar fora estava posto de parte que a mãe não ia ter dinheiro para mandar na capital. Eu vou ser funcionário público ou empregado bancário. Era o destino familiar. Mas eu quero mais e sei que me queres muito mais. Já fizeste que as minhas notas no liceu se mudaram para grandes notas que até a minha mãe está a pensar que eu anda a fazer batota ou a não lhe contar verdades. Mas isso não é importante. Importante é mesmo que é que eu vou fazer quando tu fores na Universidade e eu ficar aqui a fazer o mais do mesmo do resto. Mas quem sou eu que não me estou a reconhecer. Nunca tinha posto as coisas nesse campo. Era um dia de cada vez e depois logo se ia ver. Será que a trua forma crua de me ver fez mexer alguma coisa dentro de mim? Meus demónios acordaram e me tornei mais ambicioso? Queres ver eu te gosto ao ponto de não te querer perder nessa de Universidade?
Nem o sossego do banco de jardim me está a trazer ideias sólidas de pensar direito. Isto está a fazer tremer o meu esqueleto e a minha cabeça anda à roda parece entrou num carrossel. Queres ver que friamente me apaixonei e adultei desta forma de pensar o futuro. Desconcentro-me sem solução na ponta do cérebro. Os teus cabelos castanhos compridos esvoaçam na minha cabeça, me distraem e me desconcentram, os teu olhos castanhos me fixam e me trazem à minha realidade e aos meus medos. Ser adulto é ser assim? Acho melhor é eu fugir para o meu estado de ser criança e dali não sair. Os adultos que pensei uma solução para mim.
Mas entrado nesta forma não consegui me livrar. Era martelada constante no pensamento. Era tristeza permanente não encontrar solução.
Não quero amar-te, não quero ser adulto e não quero pensar mais. Me deixem estar na minha forma simples de ver a vida.
Eu já tinha experimentado o amor e não me estava a conseguir libertar. Eu queria ter um novo futuro. Eu queria ser mais que o resto da família e eu queria te levar comigo e não era só dentro da imaginação. Eu queria te ver feliz e sorrindo mesmo que a memória não me tenha deixado nenhuma imagem dessas.
Era eu e o banco de jardim e mais as minhas complicações.
Sanzalando