recomeça o futuro sem esquecer o passado

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29 de abril de 2024

hoje sou

Quantas vezes pensei em destruir-me, em chorar minhas perdas, em desfazer minhas recordações. Quantas vezes fui fraco e quase me deixei levar pela negação de mim. Quantas vezes eu desejei que o tempo tivesse parado naquele instante feliz da minha vida? 
É praticamente impossível não ter estes pensamentos. Acho teria tido uma vida aborrecida e monótona. Não teria dado valor aos outros momentos, não teria recordações equivocadas do meu passado. Eu era um filme a preto e branco carregado de cinzentos monstruosos e sem aceitar que sou uma evolução constante de mim. Hoje sou uma actualização daquele miúdo de calções e sandálias de borracha, desajeitado e apaixonado, vivo e activo da sua própria fantasia de ser grande.


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26 de abril de 2024

estórias tristes há

É verdade que estórias tristes nunca são boas, mas elas fazem parte da nossa vida e a gente não pode só lhes esquecer, de fazer com elas nem existiram. Quantas versões têm a minha estória? Qualquer estórias. Quantas vezes meus olhos se encheram de lágrimas? Qual a quantidade de lágrimas? Importa, se são lágrimas? Importa se valeu a pena?
Não há estórias certas nem pessoas certas. Há estórias e suas versões. Há pessoas e pessoas. Fazem parte da estória e ponto no final. Quando começou a estória? Importa? Se estiver a começar uma agora vale menos que a antiga? É triste? Desiste. Fácil. Porém não o é. É estória e é minha e eu lhe levo a peito enquanto a minha cabeça estiver a funcionar. Depois se foi no vento da desmemória e já não importa a sua qualidade.

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23 de abril de 2024

livro é vida ou vice versa

Caminho à beira-mar como que passeando por mim, num desconstruir para reconstruir melhor. Passos seguros, olhar descansado, pensamento firme e tranquilo. Sigo cada página de mim como se estivesse a ler-me na forma de livro. Sigo perfumado pela maresia, despenteado pela brisa refrescada pelas gotas das ondas rebentadas na areia e descubro que o que tem sido mais importante para mim é assumir responsabilidades na ajuda, na construção e na livre circulação dos pensamentos. 
Caminho sem medo de molhar as páginas lidas porque não perdidas. Caminho sem medo de não conseguir ler palavra apagada pelo olhar cansado e miope da idade. Caminho página a página no livro que escrevo a cada momento e que titulei a minha vida.


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22 de abril de 2024

um tema, um livro no Programa K'arranca às Quartas

 “Balada da Praia dos Cães” de José Cardoso Pires. 
Do Autor temos que referir que de estudante arrependido de Matemática, marinheiro da marinha mercante e tradutor até se fixar como jornalista e escritor, tudo temos um pouco neste autor português, nascido nos arredores de Castelo Branco em 1925, imigrado em Lisboa, exilado no Brasil e regressado a Lisboa onde viria a falecer em 1998. Deixa-nos uma vasta obra, onde destaco mais dois para além do livro de hoje, O Delfim  e Hospede de Job. 
A Balada da Praia dos Cães inicia-se com o relatório da descoberta de um corpo por uma matilha de cães numa praia, vindo posteriormente a saber-se que se tratava de um militar, major Luís Dantas Castro, que havia fugido da prisão após uma tentativa de golpe de estado. Mena, a grande paixão do major, arquitecto Fonte Nova que estivera preso também em consequência da tentativa de um golpe e o cabo Barroca que era um soldado a cumprir o serviço militar na prisão são os quatro que se tinham reunido após a fuga do Major. Reunião em casa de Mena, A Balada da Praia dos Cães inicia-se com o relatório da descoberta de um corpo por uma matilha de cães numa praia, vindo posteriormente a saber-se que se tratava de um militar, major Luís Dantas Castro, que havia fugido da prisão após uma tentativa de golpe de estado. Mena, a grande paixão do major, arquitecto Fonte Nova que estivera preso também em consequência da tentativa de um golpe e o cabo Barroca que era um soldado a cumprir o serviço militar na prisão são os quatro que se tinham reunido após a fuga do Major. Reunião em casa de Mena,

 


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21 de abril de 2024

Sanzalando e falando de livros e autores

Sanzalando e falando de livros e autores
Falando de um autor, falo de Fernando Gonçalves Namora, Fernando Namora como nome literário, nascido em Condeixa a Nova em 1919, tendo falecido em Lisboa em 1989. Iniciou-se na poesia com RELEVOS em 1937. Em Coimbra tirou o curso de Medicina, colaborou em múltiplos jornais e revistas de cultura. É autor de coletâneas de poesia e de pelo menos 13 livros em prosa. Fernando Namora também foi pintor. Dos livros que lhe conheço ressalvo, sublinho e releio RETALHOS DA VIDA DE UM MÉDICO.
Não só por ser um tema actual mas porque a narrativa situa-se entre a ficção e a analise social de 1949, data da primeira publicação e 1963, segunda publicação.
Nesta obra estão fragmentos da sua vida, relatos da sociedade da época, não é uma novela ou romance. Não sei se poderei considerar contos, biografia ou um diário. Certo-certo é que é um Relato de vida. A sua maneira peculiar de escrita cativou-me. Daquele ontem ao hoje de hoje parece que não houve mudança, a não ser social.
Repito que este livro constitui um documento importantíssimo da sociedade do início do seculo XX, revisto em 1963. A História de um Médico de Aldeia com as suas dificuldades quer na comunicação com o povo provinciano e simples, habituado a charlatães, crenças e superstições. A sua luta para fazer-se ser aceite e ao mesmo tempo lutar por um povo sub-alimentado, económica e culturalmente pobre, agarrados à sua avareza e desconfiança é obra que hoje nem se imagina que ali ao virar da esquina o ser humano era tão pequeno intelectualmente. Nestes retalhos, Fernando Namora reage com ironia, com dúvidas e mostra o seu cansaço.

1º livro falado no programa K'arranca às Quartas na Rádio Portimão a 24 - 01 - 2024

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preocupação

Tem gente que se preocupa. Olho na palavra e me desmonto nas sílabas. Fico logo chocado. Antes do tempo já ocupei. Não tem como não ser assim. Ainda não aconteceu e já eu ocupei a cabeça com tristeza. Ninguém pré ocupa com alegria. Raio de sílabas que me desfazem o sossego.
Fico preocupado só para saber o que que pode vir a ser ocupação da mente. 

19 de abril de 2024

tudo tem principio e fim, meio e contrariedades

Tudo tem principio e fim. Não sei tudo e acho nunca vou a ficar a saber. A gente nasceu e um dia a gente vai morrer. Eu irei contrariado. Podem crer que será contra a minha vontade. Mas é a lei natural da vida. Olhando para as flores do meu jardim nunca dei por uma planta a solicitar à sua flor que não caísse. É um ciclo, um círculo. Tudo depende do raio. Mas é o raio que o parta, quando termina. 
Tem gente que tem estabilidade emocional mantida: passam todo tempo mal e se queixando. Mas não lhes vejo lutar para mudar. Só sabem fazer uma coisa de cada vez e estão ocupadas a se queixar. Não olham as plantas nem as árvores. Estáticas, sofrendo ventos e chuvas, sol e frio e ali estão embelezando o mundo.
Tudo tem principio e fim e no meio tem também qualquer coisa. Só precisa a gente olhar bem


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18 de abril de 2024

Programa K'arranca às Quartas de 17 de Abril de 2024

Programa de Rádio com palavras, livros e música  - 03 de Abril de 2024. 

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Krónica 7 do programa K'arranca às Quartas


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Portugal e o Futuro


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se eu gosto de mim...

Falando verdade eu gosto muito de mim. Parece ser egoísta. Acho não fica bem dizer, para além de ser desconfortável.eu gostar de mim. Mas pensando melhor se eu não gostar como posso eu esperar que os outros gostem. Quem tem de gostar de mim primeiro sou eu mesmo. É bem mais fácil eu gostar de mim para poder gostar dos outros. É sinal que tenho bom gosto. Para mim e para os outros de quem eu gosto.
Agora com essa coisa da inteligência artificial eu lhe vou perguntar se gosta de mim? Ainda não gastei a natural e já estou à espera da prótese mental? Acham que a IA gosta de mim? Para já escusam de responder que eu não quero saber. É pergunta retórica. Só gosto de ser gostado pela inteligência natural. Quando gosto de alguém é com a minha natural ideia e gosto.


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17 de abril de 2024

imagina-me

Imagina-me um jogo de peças fragmentadas, um brinquedo para construir. Agarram em cada peça de mim e reconstrói-me ao teu gosto. Faças tudo o que te apetecer com as minhas fragmentadas peças mas não me peças para eu pensar que nem tu. A minha integridade está na mente e não nessas peças soltas que vais apanhando pelo caminho. 
Imagina-me uma foto a preto e branco e desfocada. É a minha antiguidade amarelecida pelo tempo, mas não sou eu que eu sou o pensamento que desconsegues apanhar por mais moderna que seja a tua máquina. 
Imagina-me um saco de vácuo e não conseguiras observar-me porque eu sou bem maior que o teu vazio do teu olhar. 
Para teu descanso, não me imagines, vive-me.


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16 de abril de 2024

e tu, já sorris?

Parei no tempo. Hoje voltei atrás e parei no tempo. No dia em que eu me vi com olhos de ser gente. No dia em quem o amor saiu da obscuridade cósmica da minha inexistência como adulto. Voltei atrás, ao dia em que te vi. Se calhar teria sido melhor ter parado no último dia em que te vi. É que assim tenho muito para recordar-te. 
Foi naquele dia que passamos a ser colegas de turma das aulas da tarde. Me olhaste e me sorriste. Quantas vezes já me tinhas visto do vidro de trás do lado direito? Eu tinha sido inúmeras... tantas as vezes quantas eu percorri a cidade porque sabia que ias passar ali no tal do passeio dos tristes do fim de tarde de todos os dias da semana. No último dia que te vi só ia lembrar o NÃO que me disseste quando me ia dirigir a te cumprimentar. Ao mesmo tempo do Não deste-te as as costas e ignoraste a minha existência. E tinha acabo. Agora no primeiro dia que as nossas vozes se cruzaram ao mesmo tempo que os olhos... é obra do diabo. Com muito diabo pelo meio. É mesmo para fazer sofrer os anos de amor platónico que me querias obrigar até acabares de estudar. Longa vida de espera ia ser a minha, mas me faltou a paciência e num relâmpago mental me deste uma berrida que mudei de vida num segundo. Mas os nossos amigos continuam a ser os mesmos. 
E tu, já sorris?


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15 de abril de 2024

nos meus antigamente

Nos meus antigamentes, em que andava de calções e chinelos feitos de pneu dum carro velho, piso careca mas cómodo de andar, eu tinha manias de ser boa pessoa para toda a gente. Podia não ter para mim, mas eu dava e se não dava faz conta ficava a dever em remorso. Era tipo boa gente, não era tipo pessoa de yo-yo que sobe e desce umas vezes até que desaparece no esquecimento da brincadeira. Eu era mesmo presente no presentemente de quem queria. Eu hoje tenho saudade de não poder mais ser assim, porque tem gente que partiu antes de mim, faz de conta foi água de barragem embora e eu fiquei ali aprisionado.
Nos meus antigamentes de ser eu, era que nem agora. Mudou o cabelo e o penteado, mudaram os kilos e as formas, mudou o andar para uma pouco nada prático devido ao reumático, mudou o olhar por esforço de ver. Desmudei a forma de ser porque desconsegui ser outra pessoa, embora eu não consiga ser um consertor de pessoas como cheguei a pensar ser


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14 de abril de 2024

ter tido passado

Não é fácil ser eu. Ter de me aturar um dia inteiro e anos a fio, não tem sido tarefa fácil. Mas desconsigo fazer diferente. e para fazer diferente escrevo. Escrevo por desespero e para meu descanso. Se não fosse eu descarregar em palavras o pouco que sou eu morreria simbolicamente toda a hora e nunca teria oportunidade de dizer que valeu a pena ter o passado como tive.


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12 de abril de 2024

Era eu e o banco de jardim e mais as minhas complicações.

Me sentei num banco da avenida da Praia do Bonfim. Essa praia que não sei onde fica deve ser mesmo de muito importância para ter aqui a avenida mais importante com o nome dela. Mas quem fez essa avenida fez bem. Tem caramanchão de buganvília, tem bancos compridos para quatro pessoas conversarem. Está mesmo agradável com aos seus canteiros ornamentados com flores coloridas e tem daqui e ali uns bustos que parece aquelas pessoas só tinham era cabeça e o corpo era de esconder. Mas eu agora  estou aqui sentado não é para apreciar a vista. é mesmo só para pensar. A esplanada da Oásis ou do Avenida está confuso porque eles estingam uns aos outros nas discussões que vão desde o futebol, às garinas e até assuntos que nem o diabo se tinha lembrado. Aqui estou sozinho e tenho vagar e calma para descascar os pensamentos até ficar só com a raiz e o fruto dele. Nesta minha adolescência eu tenho de tomar decisões importantes pois de contrário ou vou ser mais um na minha idade da minha cidade que não é mais nada que isso, mais um. 
Olho os teus olhos castanhos, a tua face sem sorriso claro e espontâneo, traduzo o brilho do rei olhar, as contrações dos músculos da tua cara e interpreto o que me dizes. Tenho de estudar mais, tenho de me afastar da vida de café e bilhar, das noites de conversa, das tertúlias de intelectuais de adolescentes armados aos cágados de gente grande.
Aqui sentado, com o pensamento nos teus olhos, com a memória na tua cara, com a gravação mental das tuas afirmações ditas tantas vezes entrelinhas, eu sinto medo. Ainda bem que estou aqui sozinho e ninguém nem vai reparar. Reflete-se na minha frente a imaginação do teu olhar e eu até que fiquei com medo de um dia dizer que te gostava ao ponto de te amar. No pensamento gaguejei de temor. O teu olhar era intenso, a tua expressão era grave. Eu tinha de mudar de vida que a minha vida fácil não me ia levar a lado nenhum. E eu sabia que sem ti é que não ia mesmo a lado algum. Estudar fora estava posto de parte que a mãe não ia ter dinheiro para mandar na capital. Eu vou ser funcionário público ou empregado bancário. Era o destino familiar. Mas eu quero mais e sei que me queres muito mais. Já fizeste que as minhas notas no liceu se mudaram para grandes notas que até a minha mãe está a pensar que eu anda a fazer batota ou a não lhe contar verdades. Mas isso não é importante. Importante é mesmo que é que eu vou fazer quando tu fores na Universidade e eu ficar aqui a fazer o mais do mesmo do resto. Mas quem sou eu que não me estou a reconhecer. Nunca tinha posto as coisas nesse campo. Era um dia de cada vez e depois logo se ia ver. Será que a trua forma crua de me ver fez mexer alguma coisa dentro de mim? Meus demónios acordaram e me tornei mais ambicioso? Queres ver eu te gosto ao ponto de não te querer perder nessa de Universidade?
Nem o sossego do banco de jardim me está a trazer ideias sólidas de pensar direito. Isto está a fazer tremer o meu esqueleto e a minha cabeça anda à roda parece entrou num carrossel. Queres ver que friamente me apaixonei e adultei desta forma de pensar o futuro. Desconcentro-me sem solução na ponta do cérebro. Os teus cabelos castanhos compridos esvoaçam na minha cabeça, me distraem e me desconcentram, os teu olhos castanhos me fixam e me trazem à minha realidade e aos meus medos. Ser adulto é ser assim? Acho melhor é eu fugir para o meu estado de ser criança e dali não sair. Os adultos que pensei uma solução para mim.
Mas entrado nesta forma não consegui me livrar. Era martelada constante no pensamento. Era tristeza permanente não encontrar solução.
Não quero amar-te, não quero ser adulto e não quero pensar mais. Me deixem estar na minha forma simples de ver a vida. 
Eu já tinha experimentado o amor e não me estava a conseguir libertar. Eu queria ter um novo futuro. Eu queria ser mais que o resto da família e eu queria te levar comigo e não era só dentro da imaginação. Eu queria te ver feliz e sorrindo mesmo que a memória não me tenha deixado nenhuma imagem dessas. 
Era eu e o banco de jardim e mais as minhas complicações.



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9 de abril de 2024

desconstruído em memória

Me deixo desconstruído na adolescência, no tempo em que tu, kota minha mãe, me criticavas por eu ser assim que nem discutir sabia. Era pela perfeição, pelo certo e errado das vossas instruções e lições, sem ter tempo de criar as minhas bases e afundar os meus alicerces no granítico solo da personalidade. Era assim como vocês diziam e eu ia discutir mais o quê? Se calhar eu devia ter sido assim mais duro com as pessoas que me rodeavam e resultaria dali algumas inimizades e desamores que nem os que eu sofri. Assim o partido foi o meu lado. 
Não, kota mãe, não me estou a queixar nem a lamentar. Só mesmo a constatar que a minha aspereza tem razão de ser e os meus sorrisos abafados estão sepultados nas infantis tristezas desse tempo faz quase um século que enterrei no quintal, de baixo da figueira onde depois plantei um feijoeiro que dava feijão que alimentava a casa inteira de bem adubado com tanta lágrima chorada. Nessa altura, kota mãe, eu não tinha essa coisa do ego nem de presunção. Era só mesmo o teu filho sorrindo e levando a vida que queria sem mais queixume ou tristeza.
É, kota mãe, o que eu tenho mesmo é saudades de tu me afagares o cabelo cortado à escovinha no sr. Olímpio e tudo o resto é memória.



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8 de abril de 2024

cidade quadriculada

Depois de eu ter percorrido todas as ruas quadriculadas da minha cidade a minha alma me pergunta: e agora?
Ganhei o direito a dizer que te conheço em todos os cantos, que acariciei a tua beleza em todo a tua extensão. Ganhei o gosto de te dizer que te gosto em cada esquina. 
E agora?
Como posso eu percorrer mais de ti sem ter repetido a minha admiração? Percorri a tua longa jornada, te amei em cada pedaço de rua, em cada esquina e em cada travessa. A minha alma ficou igual e eu mais rico porque possuo um pouco mais de ti, cidade quadriculada do meu encanto.


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7 de abril de 2024

morrer de amor

Ai uê. Vou dizer que estou a morrer de amor? Que nada, vou só poder dizer que de amor se vive. 
Nos meus tempo de eu pensar ser adolescente, cações de pano e suspensórios, sandálias feitas no Estregildo, percorria acidade inteira a ver se a conseguia ver. Eu morria de amor. Mas era um amor assim a dar para o cansativo e muitos quilómetros depois eu arfava que nem parecia estar a sobreviver a tanto cansaço de amor. Quantas vezes eu percorri aquela cidade a pé a tentar saber onde estavas, antes de mudares de casa para aquela que eu dominava desde as ameias do meu castelo, sentado na cadeira de aduelas do meu avô?
Lembras onde moravas antes? Eu percorria várias vezes no dia esses caminhos. E quando estavas a jogar ténis no único campo que lá havia? Era um atleta de amor. Eu corria por paixão. Eu não morria. 
Portanto eu posso afirmar por formula matemática que nunca morri de amor.


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6 de abril de 2024

saudades de adolescência

Nem noite nem dia. Era assim um fim de tarde que a noite ainda não tinha chegado para passar aqui umas horas connosco. O Cacimbo ainda não tinha começado e o verão ainda não tinha mesmo ido embora de todo. Ele aparecia assim faz de contas só para dizer que agora está calor mas daqui a pouco não vai estar. Eu tinha o pulôver vestido porque com o frio não se brinca, era o que a minha mãe sempre dizia. Eu esperava vê-la hoje. Eu tinha saudades. Estas idas dela à tugália deixavam-me angustiado. O tempo parece não passava. As mapundeiras já foram embora. Os da Oásis continuam iguais ao mesmo e o bilhar continua a ser uma lotaria de perde paga. Falta aqui qualquer coisa. Os mergulhos na praia já não se dão mas não é isso que faz falta. As brincadeiras no parque infantil também estão na ordem de cada dia. Bolas que tu não podes ter ido para sempre. As tuas janelas estão abertas. Voltaste. Penso eu que ainda não te vi e ninguém a quem eu perguntei te viu ou me soube responder.
Adolescência, adolescência. Ainda vou ter saudades de ti.

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5 de abril de 2024

eras a perfeita

Às vezes, altas horas da noite ou baixas horas da madrugada, quando o mundo dorme eu me encontro junto à minha almofada a fazer revisões de conversas passadas, de velhas estórias de vida e, o silêncio ensurdecedor da noite, é a companhia que o meu coração sente. Ao recordar mil pedaços de mim parece que sinto um odor a novo, um rejuvenescer de memórias, um escalar de novos sonhos cabeça acima.
Às vezes, quando o ruído do trânsito é intenso eu me perco no meu silêncio e me deixo ir para lá da recordação e chego ao sonho, aquele desejo que não foi satisfeito e uma lágrima se perde deixando um sabor a sal. Não é tristeza, é só a total incapacidade de poder fazer tudo direitinho como uma vez, mais que uma vez, tu exigias que eu fizesse e eu fugi até num hoje qualquer. Incapacidade. Não foi porque não tentei. Foi mesmo incapacidade de ser o perfeito. 
Tu eras a perfeita, quanto mais não seja idiota, por me teres perdido.



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3 de abril de 2024

programa K'arranca às Quartas de 03 de Abril de 2024

Programa de Rádio com palavras, livros e música  - 03 de Abril de 2024. 

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Krónica 5 de 03 de Abril de 2024


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Os Transparentes


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Clima agradável no quadriculado

O quadriculado até que tinha clima agradável. Não fazia aquele calor escaldante de ferver a transpiração. Fazia calor sim, mas a gente que aguentava. Não andava descalço no alcatrão se não ia parecer tampinha de cerveja enterrada nele e sem pele nos pés. Mas noites frias fazia frio mesmo de usar casaco mas era casaco que pesava pouco nos ombros. A gente tremia mas se aguentava. Quando fazia cacimbo até que parecia era cortina da casa da avó fechada na janela. Não se via nada de mesmo nada. Avó obrigava a vestir casco porque ficava muito úmido que até parecia era molhado de chuva. O mar tinha boa água menos quando fazia calema parecia era mau e a sua temperatura era assim a dar para o fresco. Quem queria quente tinha de ir no esquentador de casa.  
A minha cidade quadriculada era agradável, menos nos dias de vento. A areia picava nas pernas que parecia mar cheio de pica-pica. 
Eu sou da minha terra e vou dizer mais o quê? Te vou dizer que não sou e parecer estou a trair a minha consciência, só porque o clima dela não te agradou?


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2 de abril de 2024

eu e a música

A música é o refugio que necessitamos para deixarmos correr o tempo sobre ele mesmo. Eu sempre tive jeito para a música. Ela é que não sai nada de jeito quando feita por mim. O defeito não é meu. É mesmo das sete notas que não saem de nenhum instrumento quando eu pego nele. E se por calhar por acaso duas notas concordantes o aparelho desafina no momento certo da minha presença e sai ruído. Eu sou bom tocador de ruído. Mas gosto de estar sentado a absorver música. Assim mesmo e só .Absorver literalmente a música que passa no rádio. Se me perguntares depois que música foi eu já esqueci. Naquele instante absorvi e esqueci os fogos deste e qualquer outro mundo. tantas vezes faço de conta que aquela música que ouço é uma carta que estou a escrever de lapiseira e papel como é que era antigamente. É lindo. Ouvindo música há todo um oceano de ilusões no meu cérebro em que eu nado os múltiplos estilos faz de conta sou atleta de bem nadar. 
Eu gosto de ouvir música e ela nunca me deu o prazer de me ensinar a fazê-la. Cada um está talhado para o que é. Eu e a música só tem um sentido. Felizmente para ela eu não sou insistente. Gosto de ouvir música

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1 de abril de 2024

Mar e março

Levanto-me da cama, lavo a cara faz de conta e corro até na praia. É março, não está a chover e as garinas a esta hora já estão na praia. Com as festas do Mar a decorrer um gajo quase nem tem tempo para descansar. Deita-se tarde e tem de acordar cedo para lhes ver a passear na praia parece é férias de verão do nosso contentamento.
Porque é que eu acordo sempre tão tarde. Eu deito cedo, ainda é madrugada, para compensar eu devia acordar cedo antes de almoçar e dava um mergulho, limpava os olhos e vinha almoçar. Se mamãe me vê a sair a esta hora vai já começar a mandar vir porque fica tarde para o almoço. Tenho de sair antes dela voltar do serviço. É muita pressão sobre este miúdo. Assim quando for adulto vou ter consequências. Digo eu que ouvi qualquer coisa nesse sentido de trauma de infância.
Mas eu tenho mesmo que ir ver a praia e controlar ela está cheia ou não. Às vezes nem tem espaço para uma futebolada desses mais velhos que lhes falta o respeito para quem está só ali a ver as vistas
É mar e março, é festa e muitos mergulhos.

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