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9 de abril de 2024

desconstruído em memória

Me deixo desconstruído na adolescência, no tempo em que tu, kota minha mãe, me criticavas por eu ser assim que nem discutir sabia. Era pela perfeição, pelo certo e errado das vossas instruções e lições, sem ter tempo de criar as minhas bases e afundar os meus alicerces no granítico solo da personalidade. Era assim como vocês diziam e eu ia discutir mais o quê? Se calhar eu devia ter sido assim mais duro com as pessoas que me rodeavam e resultaria dali algumas inimizades e desamores que nem os que eu sofri. Assim o partido foi o meu lado. 
Não, kota mãe, não me estou a queixar nem a lamentar. Só mesmo a constatar que a minha aspereza tem razão de ser e os meus sorrisos abafados estão sepultados nas infantis tristezas desse tempo faz quase um século que enterrei no quintal, de baixo da figueira onde depois plantei um feijoeiro que dava feijão que alimentava a casa inteira de bem adubado com tanta lágrima chorada. Nessa altura, kota mãe, eu não tinha essa coisa do ego nem de presunção. Era só mesmo o teu filho sorrindo e levando a vida que queria sem mais queixume ou tristeza.
É, kota mãe, o que eu tenho mesmo é saudades de tu me afagares o cabelo cortado à escovinha no sr. Olímpio e tudo o resto é memória.



Sanzalando

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