A Minha Sanzala

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17 de março de 2006

Uma estória verdadeira (74)





Cá fora recomecei a respirar. Se pode dizer que foi encontro de cortar a respiração. Nunca mais ficarei tanto tempo a dever um encontro.
Telemóvel tocou e amiga Té só perguntava estava onde que já vinha ter com a gente. Na porta grande daquele mundo de mortos a gente ficou-lhe a esperar. Ele chegou que foi trazida pelo pai. Como ele tá novo, pensei eu nos meus botões. E a minha amiga? Mesmo sorriso acorda adornado nuns cabelos curtos que lhe imaginava de longos e esticados, castanhos, agora cinzentos. Mas o sorriso o mesmo desde aqueles tempos. Ali mesmo, naquele sítio, trocamos as palavras que estávamos a dever-nos. Depois entrámos no Tico, maravilhoso Tico que está sempre desejoso da gente, e seguimos na circunvalação até que fomos mesmo ao lado, pela parte de trás do Liceu de outras andanças e batemos numa casa. Senhora mais velha assim como que olhar na dúvida nos veio abrir e eu disse olá. Não estou a ver quem é, disse ela. Sou eu tia, o filho de fulana de tal e coisa e tal. Ai como tas crescido! Disse logo e prontamente ela. Pois é, tia, estou crescido 30 anos mais coisa menos coisa. Ficámos nas trocas de palavras, nas perguntas de fulano e de outro e outro mais. Foi um navegar ali no passeio por gerações da família. Chegou o companheiro dela que vinha da horta. Ganhámos logo ali uma melancia, que mais tarde na viagem de regresso a Luanda nos ia dar um jeito que nem vos conto agora, mas fica já falado no caso de eu me esquecer. Depois de mais uns abraços e beijos de despedida, talvez me tenha despedido umas três vezes, arrancámos e fomos ver as praias. As praias da zona sul. Nunca na minha vida eu tinha visto a geografia da terra nesse prisma. Era só ir na Praia Amélia ou na Praia Azul ou raramente na das Barreiras. Agora a gente ia ver as praias da zona Sul. Virou moda saber geografia. Está certo. E lá fomos nós. Torre do Tombo continua igual do lado direito mas cresceu mais que a conta no lado esquerdo. Também no lado direito tem a falésia ia crescer mais como. A velha Sede do Ginásio da Torre do Tombo ainda lá está construída mesmo em cima do único pedregulho que aquele zona tem. Mas ainda está e igual ao que era nos outros tempos. Me disseram que j+a não existe o Ginásio pelo que penso mora lá gente agora mas não afirmo com categoria porque podia meter água. E lá fomos sempre para sul, passando na cadeia que só não está igual porque agora não está isolada, está só rodeada de gente por todos os lados menos no lado da estrada. Vimos a base militar com foguetes a apontar agora para lado nenhum, vais ver é só mesmo a carcaça e mais nada. Também não perguntei porque não sou curioso assim. Fomos e só parámos na Praia Amélia. Não sei se foi pelo passar do tempo se foi por esquecimento meu ou se é mesmo assim me pareceu que tinha mais gente que outras épocas que por lá me fui banhar e fingir que era pescador na ponte da fábrica dos Duarte. Eu que nunca agarrei um fio com anzol estou para aqui a mentir com meias verdades. Ia lá mesmo só quando sabia que certa pessoa tinha ido lá. Coisas próprias da idade, penso eu agora. Dali voltámos a seguir e parar na Praia das barreiras que os Mapundeiros de agora gostam de invadir e como é chique lhe chamam a Praia das Escadinhas.
É Praia das Barreiras e pronto que eu não vou mudar agora de nome só porque lhe houve alguém que lhe baptizou. Mas agora tem bar e apoio de praia, rede de volei e espaço para estar. Também ainda não é verão, estamos só em Novembro. Mas hoje a gente não veio para fazer praia e lá seguimos até à Azul. A minha praia de contentamento. Sempre lhe gostei e sempre nunca soube bem porquê. O mar ali tem ondas que metem medo e susto que eu só de pensar ainda fico com pele de galinha. Mas sempre gostei desta praia. Talvez porque ao sábado à tarde vínhamos aqui verter umas loiras e comer uns caranguejos, quando o Rádio Clube pagava o chorudo ordenado. Sei lá mesmo porquê. Gostava dela e não tem mais falações. Já só tem as ruínas da esplanada dessa altura e uma outra ruína que me contaram que serviu para coisas que não cabem aqui neste meu pensamento, muito menos em dia de finados


Sanzalando em Angola
Carlos Carranca

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