A Minha Sanzala

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27 de março de 2006

Uma estória verdadeira (79)


Essa praia mesmo devia ser chamada das Rochas porque o que ela sempre teve muito era ondas grandes e muita pedra e não está nada diferente. Aproveitamos para brincar e ver desde caranguejos até espinhos do mar, peixes e outras lapas nas pequenas piscinas que eram do nosso contentamento quando a gente não tinha ainda idade para pensar. Parecia mesmo ainda tinha voltado nessa idade. Depois o Lan disse que a gente tinha de ir mais a norte. Eu pensava que o meu mundo tinha acabo ali pois eu não conhecia mais nada para o lado norte dali. Andámos por altos e baixos, aos esses desviando de pedras e rochas que até que parámos. Outra maravilha do Arquitecto. Outro recanto do mundo que eu nunca tinha tido o privilégio de conhecer. A foz do rio Giraul visto daqui de cima. Uma enorme lagoa que terminava a dez metros do mar. Quando o rio enche vai no mar. Mas agora ele fica preso em terra, alimentando um vale que merece a pena ser visto. O Arquitecto não dorme em serviço. Entre o mar e a lagoa se vê uma praia que é uma outra maravilha. Infelizmente a gente está uns 30 metros em cima de uma escarpa que não sendo alpinista não dá para descer e depois subir, mas que até apetece dar um mergulho desde aqui de cima isso dá. Mas como é que a gente desconhecia esta coisa? Vais ver era só eu que não conhecia. Mas também a minha kota não ia por o mini dela a andar nestas estradas. Além de que a carta de condução dela acho que dizia que só podia conduzir de casa para a Estação do Caminho de Ferro e vice versa. Lá ao longe se vêem as duas pontes do rio Giraul, a dos comboios e as carros que vão no caminho do Lubango. Fiquei embevecido. Como o Lan tinha que ir bulir que ele não está de férias que nem a gente, pelo que a gente voltou na cidade do deserto e do mar. Que é que vamos fazer agora? No regresso passámos por outro quartel militar com aqueles supositórios mais grandes que um camião a apontar, penso, já coisa nenhuma. Passámos ao largo mas deu para ver que havia jogo de bola para lá dos arames que o delimitam. Perguntei eu como que alguma resposta surgisse dum lado nenhum. Deixamos o Lan no sítio que ele pediu. Fomos na Praia Amélia cumprimentar Zeca que ainda não lhe tinha visto por manifesta falta de tempo de ambos os lados, na concomitância que ele tinha que bulir e eu de decorar cada pedra, cada caminho, cada rua, cada casa, cada rosto. É verdade que eu não estava aqui para ver rostos. Sabia que X e Y e mais uns Z estavam bem. Eu estava aqui para ver a minha História, para ver as marcas marcadas no tempo que eu vivi. Chegados na Praia Amélia encontrámos Zeca a descarregar o barco que tinha acabado de chegar carregado daquelas coisas que chamam caranguejos e que tinham um aspecto de quem ainda estava vivo. Abraços grandes na hora. Recuar anos e vivê-los na memória. Visitámos a fabrica e logo combinámos que o jantar estava já marcado. Dali fomos para a Praia Azul. Desta vez eu ia que mais que preparado para mergulhar no início do zulmarinho que me estava a chamar e eu ainda não lhe tinha feito a vontade. Dei mergulhos. Mas desta vez, perdido que estava o fulgor de outros anos, estes eram mais assim perto da areia que as ondas, por serem maiores que arranha céus da cidade me assustaram que eu não consegui destravar as minhas pernas para andar mais uns passos à frente e ficar onde os meus olhos queriam e o meu corpo se recusava. Co-pilota e Ti não se aventuraram. Eu comigo mesmo também fiquei na retranca e foi como disse. O corpo se recusou a ir onde queriam ir os olhos. Mas saboreei quanto pude o salgado mar da praia Azul. Pic-Nic na praia e ali ficámos a saborear um sol que estava tímido mas era o meu sol. Ao começo do fim da tarde voltámos no hotel. Banho de dessalinização tomado e agora, ainda dia vamos percorrer todas as ruas da cidade.

Sanzalando em Angola
Carlos Carranca

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