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26 de novembro de 2004

Pescador de lágrimas - Cajoão2

Vou-vos confessar uma coisa: gosto desta esplanada !!!E gosto dela porquê ? Primeiros, porque gosto de gostar. É o meu hobby. Segundos, porque mesmo que não gostasse tanto de gostar, o ambiente me contagiava e eu tinha que gostar. Terceiros, tem gente boa e bonita que não acaba mais, e aí fica difícil não gostar. Quartos e seguintes, não interessam porque os outros chegam. Portanto, gosto e ponto final. Mas o que eu gostava mesmo era de ter mais tempo para estar aqui com vocês... Aí eu ainda ia gostar mais. Se tivesse mais tempo, podia vos contar como vejo a Angola de hoje. Podia tentar descrever as emoções que senti ao regressar à terra e ao zulmarinho. Quando entrei na descida do Giraúl e quando vi a ponte do Bero depois de 30 anos. Quando subi e desci a Leba. Quando entrei no deserto e reguei uma Welwitchia com um pouco de água e cloreto de sódio que levava nos olhos. Quando entrei na avenida e vi o tribunal ao fundo. Quando de madrugada, na ponta do Noronha, acompanhado de uma Mucubalinha que faz o favor de ser minha amiga e de um general reformado da guerra que não da música, gritámos que nem doidos para que o vento vos levasse um pouco da nossa alegria em estar ali. Quando, quando, quando... Podia, mas não vou sequer tentar. Falta-me o tempo e o talento. Como descrever a alma quando nos sentamos frente ao zulmarinho e, com a linha na água, pensamos na desculpa para os peixes que se deixam escapar. Acho que já me chamam o pescador de lágrimas... Mas eu deixo. Estou aqui e não há estiga que me ensombre esta realidade.Mandem vir... Hoje ainda pago eu. Bebam comigo e brindem ao que quiserem. O meu brinde vai para vocês, meus companheiros de esplanada. Não sei se vi bem, mas pareceu-me que esta esplanada tem um quiosque... É verdade ?MARzé
__________________Entre o Mar e o Deserto há gente.

Sanzalando em Angola
Carlos Carranca

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