Olha, hoje mesmo te vou contar a estória de Anterior Kompilika. Lhe conheci faz mais que muito tempo na minha imaginação. Nos demos bem e nos separamos pelos pôr do sol da vida que todos os dias acontecem e nem sempre são assim bonitos que até parece o céu está a arder.
Mas assim como que num estalido dos dedos me lembrei do Anterior Kompilika. Ele, o verdadeiro homem do sul que se deslocava nos seus pés por dias e noites sem parar, um dia virou homem do mar. Embarcou num desses barcos que levam bué contentores pelos vários portos do mundo, segundo os portos cardeais que não só quatro porque os intermédios também contam para além do norte. Nunca ele me contou porque deu essa viragem no intimo dele. Todos os que lhe conheciam diziam sem dizer que tinha sido estória de dama de copas que lhe estrambulhou a vida. Certezas acho só mesmo ele é quem sabe e por alguma causa inexplicável nunca nos contou, tendo-nos contado muitas outras coisas importantes e importadas da vida dela.
Numa das suas viagens, pelo outro lado da terra, lá onde é noite quando aqui é dia e vice-versa, o barco não aguentou o poder das ondas mais altas que todas as casas da nossa cidade e os contentores da vida lhe atiraram para dentro do mar num derivar de altos e baixos até que se esqueceu se estava vivo ou morto e num boiar que até parecia estava a giboiar ao sol foi dar num ilha que ale de ser pequena estava deserta de gente. Deitado na areia, cansado de sal e de sol, se olhou e se viu num quase nu de corpo e alma, falecido de comida e endurecido de gelado. Meio assim sem jeito procurou nas palmeiras e nas outras plantas que nem ele hoje ainda sabe o nome alguma coisa para pôr na boca e lhe matar a fome que lhe gritava ensurdecedoramente de dentro. Comeu frutos e outras coisas que nem sabe lhe envenenam ou lhe diarreiam até ficar sem alma. Mas a fome ele parece que matou. Nas folhas largas duma planta que parecia costela de Adão ele fez uma roupa que não era de cerimónia mas lhe tiraram o frio. Com outros ramos secos e folhas de palmeira ele fez uma casa se é que assim se pode chamar ao que ele fez. Mas era o seu refúgio. Com estas três coisas feitas ele começou a se preocupar com outras. Pensou assim ele que se não tivesse uma base firme ele não ia nem aguentar mais um dia na solidão da ilha. Ele, um homem do sul, preso numa ilha do outro lado do mundo e que num dia dava a volta à ilha e ainda ficava com mais que muito tempo para ficar a pensar. Ele não queria ficar preso nos pensamentos de comida, roupa e refúgio. Ele não era assim um primário que só ia tratar do corpo fisco. Era do sul mas não era selvagemmente ignorante. Ele tinha uma escala de vida. No primeiro lugar era que ele estava ligado à terra e portanto tinha que sobrevier, e as três coisas estavam feitas; depois havia o problema genital, sexual, reprodutivo e finalmente havia o problema da barriga, sinónimo de poder. E ainda havia a escala que estava em letra pequenina que até parecia os contractos das coisas que mal se consegue ler quanto mais saber, o coração, a garganta e comunicação, a escala abstracta e a escala que ele nunca se tinha lembrado de pensar. Agora tinha tempo para a pensar. Solidariedade. Já não tinha fome, o frio estava mascarado na sua ainda verde roupa e tinha um refúgio para se esconder dos medos da noite que às vezes também aparecem de dia. Agora podia dar as voltas à procura dos outros. Não havia de ser ele, Anterior Kompilika, o único sobrevivente a dar com a ilha se do ponto mais alto ele não consegui ver outra ilha o bocado de terra. Ao mesmo tempo pensava que não precisa lutar com mais ninguém para comer os poucos frutos que tinha descoberto na pequena ilha. Ele náufrago e isolado nem precisa lutar pela sua liberdade porque afinal de contas ele era livre, era o escravo e rei da ilha. Ele estava de acordo com esta sua condição. Tinha que ter disciplina. Ele sabia, da sua experiência de homem do sul, que se ele não estivesse em paz e de acordo com a sua condição de lutador contra o facto de ser escravo, jamais deixaria de ser. Ele rei tinha um escravo que lhe ia dar luta. Sabia que não era fácil esta vida, ainda mais agora que era náufrago no outro lado do mundo que não é dia como na sua terra. Ele era rei preso numa pequena ilha ou escravo livre na vida.
Com esta luta de classes, ele, Anterior Kompilika, foi ocupando dia após dia até que um dia lhe foram buscar. Não sabe, porque nunca lhe disseram, como lhe encontraram mas ele sempre soube que mesmo quando se perdia nos seus caminhos do sul, sempre aparecia um acaso que lhe indicava a saída.
Hoje, Anterior Kompilika, é rei preso na sua estória e escravo da sua sobrevivência.
Mas assim como que num estalido dos dedos me lembrei do Anterior Kompilika. Ele, o verdadeiro homem do sul que se deslocava nos seus pés por dias e noites sem parar, um dia virou homem do mar. Embarcou num desses barcos que levam bué contentores pelos vários portos do mundo, segundo os portos cardeais que não só quatro porque os intermédios também contam para além do norte. Nunca ele me contou porque deu essa viragem no intimo dele. Todos os que lhe conheciam diziam sem dizer que tinha sido estória de dama de copas que lhe estrambulhou a vida. Certezas acho só mesmo ele é quem sabe e por alguma causa inexplicável nunca nos contou, tendo-nos contado muitas outras coisas importantes e importadas da vida dela.
Numa das suas viagens, pelo outro lado da terra, lá onde é noite quando aqui é dia e vice-versa, o barco não aguentou o poder das ondas mais altas que todas as casas da nossa cidade e os contentores da vida lhe atiraram para dentro do mar num derivar de altos e baixos até que se esqueceu se estava vivo ou morto e num boiar que até parecia estava a giboiar ao sol foi dar num ilha que ale de ser pequena estava deserta de gente. Deitado na areia, cansado de sal e de sol, se olhou e se viu num quase nu de corpo e alma, falecido de comida e endurecido de gelado. Meio assim sem jeito procurou nas palmeiras e nas outras plantas que nem ele hoje ainda sabe o nome alguma coisa para pôr na boca e lhe matar a fome que lhe gritava ensurdecedoramente de dentro. Comeu frutos e outras coisas que nem sabe lhe envenenam ou lhe diarreiam até ficar sem alma. Mas a fome ele parece que matou. Nas folhas largas duma planta que parecia costela de Adão ele fez uma roupa que não era de cerimónia mas lhe tiraram o frio. Com outros ramos secos e folhas de palmeira ele fez uma casa se é que assim se pode chamar ao que ele fez. Mas era o seu refúgio. Com estas três coisas feitas ele começou a se preocupar com outras. Pensou assim ele que se não tivesse uma base firme ele não ia nem aguentar mais um dia na solidão da ilha. Ele, um homem do sul, preso numa ilha do outro lado do mundo e que num dia dava a volta à ilha e ainda ficava com mais que muito tempo para ficar a pensar. Ele não queria ficar preso nos pensamentos de comida, roupa e refúgio. Ele não era assim um primário que só ia tratar do corpo fisco. Era do sul mas não era selvagemmente ignorante. Ele tinha uma escala de vida. No primeiro lugar era que ele estava ligado à terra e portanto tinha que sobrevier, e as três coisas estavam feitas; depois havia o problema genital, sexual, reprodutivo e finalmente havia o problema da barriga, sinónimo de poder. E ainda havia a escala que estava em letra pequenina que até parecia os contractos das coisas que mal se consegue ler quanto mais saber, o coração, a garganta e comunicação, a escala abstracta e a escala que ele nunca se tinha lembrado de pensar. Agora tinha tempo para a pensar. Solidariedade. Já não tinha fome, o frio estava mascarado na sua ainda verde roupa e tinha um refúgio para se esconder dos medos da noite que às vezes também aparecem de dia. Agora podia dar as voltas à procura dos outros. Não havia de ser ele, Anterior Kompilika, o único sobrevivente a dar com a ilha se do ponto mais alto ele não consegui ver outra ilha o bocado de terra. Ao mesmo tempo pensava que não precisa lutar com mais ninguém para comer os poucos frutos que tinha descoberto na pequena ilha. Ele náufrago e isolado nem precisa lutar pela sua liberdade porque afinal de contas ele era livre, era o escravo e rei da ilha. Ele estava de acordo com esta sua condição. Tinha que ter disciplina. Ele sabia, da sua experiência de homem do sul, que se ele não estivesse em paz e de acordo com a sua condição de lutador contra o facto de ser escravo, jamais deixaria de ser. Ele rei tinha um escravo que lhe ia dar luta. Sabia que não era fácil esta vida, ainda mais agora que era náufrago no outro lado do mundo que não é dia como na sua terra. Ele era rei preso numa pequena ilha ou escravo livre na vida.
Com esta luta de classes, ele, Anterior Kompilika, foi ocupando dia após dia até que um dia lhe foram buscar. Não sabe, porque nunca lhe disseram, como lhe encontraram mas ele sempre soube que mesmo quando se perdia nos seus caminhos do sul, sempre aparecia um acaso que lhe indicava a saída.
Hoje, Anterior Kompilika, é rei preso na sua estória e escravo da sua sobrevivência.
Sanzalando
cativou-me
ResponderEliminarobrigado.
Epa, me fez lembrar o meu filme favorito "O naufrago" que tão bem aborda a grande e premente necessidade em comunicar, que parece não complicar o Kompilika.
ResponderEliminarEheheh
SJB