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27 de junho de 2009

No paraíso com a insónia

Dormes tranquila ao meu lado. É impossível nesta insónia deixar de te olhar.
Toco-te levemente com os meus lábios nas tuas costas. Não te quero acordar. Não quero que saias dessa tranquilidade e entres no terror da minha insónia. Sonhas? Tento em vão adivinhar. Adorava saber se neste momento sonhas, e com quê. Não é que isso melhorasse o meu estado de espírito, não é que isso desse vida a uma alma moribunda. Verdade seja dita que não é necessário melhorar o estado de espírito e também não tenho a alma moribunda. Estou só com a insónia e parece que o tempo parou. Enervo-me porque nem durmo, nem nada. Porque razão te iria acordar nesta madrugada? Levemente, volto a encostar os meus lábios nas tuas costas. Sinto vontade de te abraçar. Sinto o calor do teu corpo que parece que me chama. Oiço-te respirar pausada e ritmadamente como quem dorme profundamente. Não, não vale a pena acordar-te.
Com toda esta confusão ainda me acordei mais. Já nem fecho os olhos para tentar dormir. Saboreio-te com o olhar ao mesmo tempo que levo os meus pensamentos para o planalto que está para lá do deserto.
Imagino-me num ponto alto, junto a uma ribeira que corre frescamente todo o ano, uma casa simples, um gerador ininterruptamente a trabalhar, uma parabólica para me dizer qual o estado do resto do planeta, um computador para eu poder descrever o meu estado transcendental. Neste ponto de imaginação se me aparecesse esta insónia que me atormenta nesta madrugada, eu sorriria, levantar-me-ia e do alto deste planalto olharia para o resto do planeta como se fosse um guardador das almas que dormem.
Com um sorriso nos lábios escreveria-te uma carta de amor.
Viraste-te para mim, esticaste o teu braço como que à minha procura. Entrelaçamos os dedos e o teu respirar continuou a dizer-me que dormias profundamente. Sinal verde para continuar no meu acordado sonho de viver pertinho do paraíso.

Sanzalando

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