recomeça o futuro sem esquecer o passado

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23 de outubro de 2009

com os meus olhos

Abro os olhos e nem sei o que vejo. É o desassossego da curiosidade, o nervoso da calma numa mistura de desejo pesado sobre as costas, fardo compartido num boca a boca do diz que disse. É tudo uma salada. Eu quero, logo penso que posso e sonho. Mas a realidade abraça-me, abana-me e mostra que afinal não é assim. O querer já é um começo da viagem. Do mal o menos. Aos poucos vou diluindo os meus tormentos, vou descarregando as costas do fardo de palavras, a memória esvazia-se de recordações sonhadas que não passaram disso mesmo, o que acaba por dar lugar a novos sonhos e açucarando novos desejos ardentes. Um dia, eu sei, vou-te abraçar, sentir-te o perfume, ver-te ao pôr do sol, navegar nas tuas lágrimas de alegria. É um sonho fácil. É pena que os meus olhos já não vejam com o brilhozinho nítido de outros dias. Mas o sonho continua a ter o mesmo colorido, a mesma intensidade. O sonho não é volátil, pode mudar como muda a areia do deserto, mas muda a forma, apenasmente. O sonho não é inflamável, não queima amarguras, tristezas nem se torna mais leve por fazer cinza.

Abro os olhos e já não vejo com a nitidez doutras eras, quando tinha todo o tempo do mundo.

Mas os meus olhos ainda conseguem ver um oásis, o desfazer de muralhas, algumas mentais e outras reais. Afinal de contas ainda consigo ver o meu umbigo. Sou um afortunado, sortudo.


Sanzalando

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