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30 de outubro de 2009

minha rua

Posso subir e descer a minha rua umas mil vezes que esta nunca será a minha rua. Jamais saberei de cor todas as pedras desta rua como imagino que sei as da minha rua. Aquelas pedras tinham brilho mesmo nunca tendo sido polidas senão com os calções cardados do meu tempo de criança, tinham um nome que só eu os sabia. Se calhar o Zé lhes tinha dado um nome também que não eram igual ao meu. Mas aquelas eram as pedras da minha rua mesmo que a rua fosse de mais outros alguéns.

Posso sair da mão dada, ouvir a música já gasta e riscada, que esta não é a minha rua. Posso dançar contigo na minha memória, fazer ridículas figuras de brilhantes olhos castanhos que ela continua a não ser a minha rua, aquela rua que me viu tantas vezes na esquina à espera de te ver passar, mesmo sabendo que não me ias ligar nenhum.

Eu sei que louquei por sonhar ver a minha rua onde passearia contigo de mão dada.

Será que alguma vez pensaste se eu teria mão para te dar? Eu pensei tantas vezes na sedosa mão que seria a tua…

Mais um sonho vão que se perde num qualquer vão de escada numa rua que não é nem nunca será mais a minha rua, nem nunca terá as minhas pedras que eu sabia de cor.

Assim, não sei quando sentirei o delírio de ser feliz, numa rua que um dia eu possa dizer que é a minha rua.



Sanzalando

1 comentário:

  1. Agora foi demais.A lágrima caiu de contente, de salgada, de teimosa, de agradecida... A minha rua ficou lá...e sempre que passo nela, onde deixei de passar 33 anos, eu reconheço cada árvore, cada cheiro, cada brincadeira, cada baloiço nos fios da mulemba, cada ida ao hospital, do corte do caco no pé, do braço que se partiu num muro mal calculado, na perna de igual sorte, no colégio onde aprendi o que depois desaprendi, noutras ruas,no primeiro beijo de amor, nos segredos que ficaram nas pedras daquela rua, a única que chamo minha por muitas ruas que tenha, por muitas ruas que more...

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