Não sei o que se passa comigo. Num repente tenho a estranha sensação de ter acordado a meio da noite, mesmo ainda sendo de tarde num entardecer de outono, e sinto no ar o perfume das acácias floridas duma avenida que já foi Barroso. Mas sinto dum real sentido perfeito que a noite calada que ainda não chegou aparece-me carregada de sombras como se fossem memórias vagueando em mim. Sinto ao mesmo tempo o ruido da terra que não tarda vai aguentar o peso da noite. Mas ainda é de tarde num entardecer de outono e não uma manhã de cacimbo que perfuma as acáciads deste meu sonho de sonhar acordado. Deve ser um acidente de percurso, uma explosão do céu que se abate por mim numa ferida de saudade.
Ao longe, muito longe parece-me ouvir o uivo dum cão. Perto, muito perto, ouço o choro duma criança. Eu sou o centro, ponto médio da incógnita, num entardecer de outono que sonho noite dentro.
Na verdade não me lembro como acaba, o sonho, o entardecer ou a noite. Por esta ou outra ordem qualquer.
Me lembro apenas os barcos que sem passageiros ou tripulantes ondulam ancorados na minha baía de memórias.
Afinal os sonhos são sonhos e pouco mais que isso podem desejar ser, mesmo num fim de tarde de outono cuja noite promete ser de silêncios, mas perfumada com o perfume das acácias floridas desta ou doutra qualquer avenida porque o sonho ainda é livre.
Gostei muito de texto, já tinha visitado o seu blog antes mas a falta de tempo por vezes não me permite ser assíduo com todos aqueles que quero.
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