Areia escaldante. O suficiente para me manter quieto de baixo desta sombra. Não tenho medo do sol, tenho pena é dos pés.
Como ontem tive pena dos olhos e deixei-os ver tudo cinzento. Ao menos não tiveram que fazer contas ao espectro de cores. Foi-lhes dia santo.
Mas na sombra olho para além mar, para além daquela curva que daqui parece uma recta e que me disseram era o horizonte. Mas não é o meu. O meu fica muito para além deste que eu vejo. O meu não tem rosto mas o seu reflexo nunca me é esquecido. O meu, entra pelos meus sonhos, deseducadamente, em silêncio ou estapafurdicamente barulhento. O meu, grita-me constantemente como quem chora por mim. Penso eu que não o ouço e não lhe vejo.
Na sombra, deixo-me bailar nas recordações como se ouvisse um semba soprado pelo vento lá para os lados das furnas. Aí mesmo, no meu horizonte.
Afinal de contas, na sombra, deixo a minha alma passear por ancestrais recantos da memória.
É, na sombra, o meu horizonte é a memória.
Tão bonito que devia ficar por aqui mesmo.Corro o risco (?) de não saber ficar em silêncio perante a beleza deste texto.
ResponderEliminarPorém, este raio de feitio me faz lhe dizer palavras escritas, mais do que Tão Bonito!
Na sombra, na areia escaldante se olha o horizonte mesmo quando não é o nosso e se sente na memória, saudade, mas na sombra da mulembra...( eu divago e sugiro ), se baila numa memória que pode ser presente, que pode ser divagação no futuro.Que pode ser mais que a sombra e que o sol juntos. Que pode ser um bailado riscando no salão e rodopiando numa dança de cores para sonhar...