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4 de abril de 2023

a minha mãe e a carta de condução

Ao som duma qualquer canção que passa no rádio eu medito sobre vazios e passados, presentes e desejos futuros. Não me preocupa, quero é só estar preparado. Ter resposta é meio caminho para uma solução. É que em cada passo da vida pode haver percalços, lancis invisíveis, buracos disfarçados, tanta coisa em que podemos tropeçar e é importante que não fiquemos sem resposta e continuemos sem caminho. Se eu ficasse estático no primeiro contratempo eu não tinha berrado ao sair do corpo da minha mãe. Eu respondi com um choro que me trás até neste momento de agora em que ela cansada de ir a pé até na Estação dos Caminhos de Ferro resolveu tirar a carta. A idade avançada para uma mãe tirar a carta não abonava a favor, ainda por cima acho não havia na família assim directa uma tradição de conduzir quatro rodas. Tudo me estava a dizer ela ia só gastar dinheiro na carta na única escola de condução que havia. Ela teimou e, com a tia dela, foram ambas na escola. Imagino a cara dos homens a lhes receber. Devem ter dito mil e uma coisa que ela chegou em casa zangada mas teimava que isso não ia ficar assim. Se outra mais velhas que ela conduziam porque é que ela não o ia fazer? Acho eu ela se perguntou mil vezes. Tanto insistiu que lá lhes aceitaram. Foram as aulas de código, as de condução e mais o estudo em casa que eu estava a ver ela ia ser mau exemplo para mim quando eu fosse uns anos mais tarde tirar a dita. Dois exames e num faltou o ponto de embraiagem e no outro não compreendeu que virar à esquerda numa rotunda tinha que a contornar que foi directa ao chumbo.
Mas uns tempos de aulas na escola e tentativas de aulas particulares dada pelo filho, que sou eu, e ela foi tentar a terceira e última vez.
Aconteceu milagre da persistência e cá veio ela para casa com o papel assinado e carimbado a dizer que tinha conseguido.
Ainda hoje estou incrédulo, mas também porque nunca fui um grande crente.





Sanzalando

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