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14 de abril de 2023

Vou de férias. Até já

Estaciono o carro na marginal. Ouço música no rádio. Aleatoriamente escolhida por quem está de serviço. Ouço-a sem tomar consciência dela. Se a desligasse eu ia notar a falta, porém não é importante. Necessito dessa melodia para admirar o zulmarinho e entrar nos meus pensamentos como quem vai viajar. Vou a Nairóbi e a Mombaça, vou africanizar o sangue, o pensamento e acalmar o desejo ardente desta saudade. Vou-me deixar ir por aí, recordando criancices e outras travessuras próprias da idade e do ambiente, vou à procura de mais versos, poemas e canções de bandido para mais uma ou outra cerveja. 
No fundo da baía percebo que há um barco que chega ou sai. Daqui a pouco entenderei. Agora não sei se vejo a popa se a proa. Mas não é importante, porque não entra nos meus pensamentos, não percorre a minha vida. Decora apenas o ambiente.
A música fala-me de ti. Acho que todas as músicas falam-me de ti. É sugestão, só pode, se eu não estou com atenção nela.
Passas num silêncio pela minha vida, deixas um rasto que marcou num até hoje e mesmo assim não existes da forma física e palpável. És a minha imaginação, o meu desejo, o meu passado feito hoje. Afinal de contas não sou mais que um utilizador de coração alheio para aguentar a dor do meu. 
Distraio-me a ver os pequenos barcos ancorados atoa na baía. Todos com a proa virada para o mesmo lado, qual formação militar. Se eu pegasse num e fosse gingar por aí? Certo seria levado pela corrente ou não sairia do mesmo lugar. Se eu tivesse trazido um fio e um anzol tentaria pescar. Nunca o fiz e não sei o que poderia acontecer para lá de ficar preso numa pedra que protege a marginal. Eu vim aqui para viajar pelos pensamentos e passados. Distraio-me e perco-me em presentes desfundamentados. 
Vou de férias. Até já.

 

Sanzalando

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