No tempo em que eu ainda não usava calças e apenas uns calções, com quedes ou sandálias, a minha rua era animada. Tínhamos ali uma comunidade de miúdos saudáveis e alegres que brincávamos aos carros de rolamentos ou descíamos de patins em corridas dos malucos voadores. Tínhamos a nossa esquina onde por vezes o trambolhão era a certeza de não ir no meio da estrada atropelado por um dos raros carros que podia estar a passar. Os Santanas, o Corado, o Guedes, Os Fonsecas, apenas apelidos que colaram na calote craneana para mais tarde grafitar nos meus caminhos de palavras. Muitos mais tinha a minha rua. Ela era vida em fim de tarde, nas tardes quentes em que a trouxa-lavada, os picles ou o garrafão era a certeza que mais tarde íamos ouvir as mães gritar os nossos nomes porque era hora do banho e do jantar. Na nossa rua não havia diferenças. Todos éramos campeões e todos falávamos.
O passeio liso que começava na casa da D. Maria e terminava depois da esquina dos Fonsecas era o nosso campo, a nossa pista, o nosso ponto central.
De vez em quando a rua era invadida pelos outros de outras ruas que se vinham aproveitar do nosso liso passeio. A gente deixava e lhes dava aula, quer nos carros de rolamentos quer na descida com patins.
O uso das calças veio por um ponto final progressivo nesta rua.
Sem comentários:
Enviar um comentário