A Minha Sanzala

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26 de abril de 2006

Grãos de areia


Deito-me na areia fina. Olho cada grão como se fosse uma pessoa. Converso e lhes digo olás. Distribuo o olá a cada grão que a minha vista cansada consegue focar. Ele há grãos de todas as cores. Qual a estória de cada um deles? Todos eles parece querem falar-me. Todos em um só instante o que me deixa uma confusão auditiva, uma baralhação cerebral e desconsigo perceber o que me dizem. Mas eu quero ouvir a estória de cada grão.
Onde nasceu?
Como foi a viagem até ali?
Quantos pés já lhes pisaram em cima e eles nem um ai disseram?
Deito-me sobre eles na vã esperança de lhes compreender. Mas eu sei que cada grão tem a sua estória. Se assim não fosse como é que cada um tinha a sua cor que era diferente do vizinho do lado que se lhe pega parece tem íman?
Me esqueço que meu volumoso corpo se espraia sobre um milhão de outros grãos de areia. Nos dias de sol eles fervem que nem água sobre um fogão, nos dias de Inverno rebolam ao sabor das correntes que formam minis rios que correm para o mar.
Será que algum destes grãos nasceu lá no início do zulmarinho e veio na minha busca aqui no fim dele?
Eu quero ouvir todas as estórias desses grãos de areia que o meu olhar consegue focar. Falem um só de cada vez para eu entender. Assim, todos no mesmo momento me deixam sem alento.
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca

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