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6 de abril de 2006

Uma estória verdadeira(87)




Depois de percorrermos paralelos à praia desviamos e fomos ver a plantação dos tomates. Grande que a vista daqui de junto da bomba de água não alcança toda a área verde dos tomateiros. Ali, tás a ver, vai nascer um campo de cebola. Eles já estão a preparar o terreno e eu já encomendei um novo sistema de rega que não tarda está a chegar aí. Dizia-me ele isto com um brilho nos olhos só possivel na gente feliz e contente com o que estava a fazer. Lhe dava prazer e portanto lhe dava gozo. Uma dúzia de trabalhadores estava a fazer os carreiros da água como que a lhe dizer agora vais para aqui, e depois vais para ali. Apetecia já ficar ali a ver, a sentir a terra a produzir. Mas lá no céu o Sol se ia movimentando como que a dizer que está na hora de partir. Um grande abraço e a promessa de voltar a estar alí. De férias, mas ali. Terra e mar, silêncio de um poeta sonhador que escrevia os seus versos na terra e colhia os seus frutos. Quem ia dizer que seria o último abraço que eu daria a este AMIGO. A este senhor que fez o favor de ser meu amigo? Mas nesta altura eu não sei o futuro e despedi-me como que a dizer até já. Arrancámos. A estrada agora era bem pior do que quando a gente veio. Agora a gente via os buracos e via também os precipícios. Dava para ficar com medo só de pensar se o carro resvala ali numa pedra mais polida. Como é mesmo que a camioneta sobe isto? Vais ver é de marcha a ré. Sei lá eu que sou um cajo do asfalto e que se vê pela primeira vez nestes terrenos. Que coisas que eu perdi ao ser assimilado pelo asfalto. Mas a minha vida vai ter que dar uma volta, uma mudança na roda dos destinos e recuperar o tempo perdido, na maneiro do possível. Nunca é tarde. Vai ser sempre uma madrugada até que a noite final chegue.
Lá de cima conseguimos ter uma ideia do que vai naquele vale, obra do Arquitecto com modificação do Homem que eu conheci.
Será que algum dia vão recuperar a fábrica do peixe? Será que algum dia vão fazer ali um empreendimento para valorizar ainda mais este vale e dar a conhecê-lo ao mundo? Mas se o fizerem não vão dar cabo dele. Fosse eu arquitecto ou ambientalista era capaz de ter uma opinião, mas na minha modesta eu fazia ali uma coisa mesmo egoisticamente só para mim e não deixava mais ninguém que pudesse estragar esta natureza que agora se estende sob os meus pés.
Fotos e filmes para mais tarde recordar.
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca

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