Mesmo em frente do Hotel, na marginal uma esplanada que tinha ar de quem abriu faz pouco tempo. Aviámos ali um bife que até nem estava mau, partindo do princípio que seria mais uma gelataria e pizzaria. Comemos e até nem foi caro. Não é preço de turista nem de caixeiro viajante. É mesmo para o pessoal da cidade que no fim de dia vem aqui ver o mar e, aproveitando a inspiração que o zulmarinho transmite, namorar. Depois deste repasto e de abastecido o Tico são horas de embalar a trouxa e zarpar até na capital. As obras da estrada agora de noite foram melhor notadas. Talvez porque tenha chovido e os desvios estavam assim como que lagoas e lamaçais. Mas o Tico mostrou a sua potência que até ultrapassou. Verdade foi que mudou de cinzento prateado para castanho lamado. A segurança demonstrada pelo Ti fez que eu passasse pelas brasas e só mesmo já a chegar à cidade nova eu tenha aberto os olhos e visto que estávamos a chegar na capital. Agora era hora de atravessar a cidade toda e ir apanhar a estrada do Cacuaco. Mas numa sexta de noite cerrada a parte alta da cidade estava assim como vazia de carros e a passagem para o lado norte foi assim num instante. Di nos esperava. Ansiosa pelo que deu para ver na cara dela. Mas como madrinha coruja até nos tinha preparado outra refeição. Vais ver ela pensou que nestes dias todos a gente ia morrer de fome. Vínhamos, só para a chatear, mais gordos até. O Tico que lhe diga. Descarregamos toda a mercadoria do Tico e depois de exame sanito-gostativo, feito pela degustação, concluímos que os caranguejos tinham feito uma boa viagem e foram directos para o congelador. Uso futuro lhes estava reservado mas neste momento não lhes sei qual. Ali os quatro matámos saudades e contamos as estórias de uma aventura feita sem telefone satélite de apoio aos viajantes que se aventuraram por estradas que até nem no mapa vêm. Depois foi a vez de ir na cama que o corpo não podia se aguentar mais depois de cavalgar por serras e vales de muitos quilómetros em auto-pista metralhada de buracos. Mas quem não fizer esta viagem até 2007 está feito porque tal como a gente fez não vai poder fazer e seremos dos poucos que a fizeram. Heróis de nós mesmo.
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca
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