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24 de abril de 2006

Regressado ou Irritado?


Caminho ao longo das marcas deixadas pelo zulmarinho na areia fina e castanha desta beira mar. Olho na linha recta que é curva e penso no interior de mim. Navego-me nos sonhos e ideias, penduro-me num ramo de primavera e sinto o orvalho de uma lágrima que não saiu. Olho sem ver o ontem marcando num GPS o amanhã. Leio jornais ainda não impressos, página de anúncios não editados, procuro-me numa linha, numa foto. Levo-me ao longo da linha curva desta baía que é a vida marulhada pelo zulmarinho na busca do meu ponto de encontro.
A gente não quer só comida
É muito fácil ser-se pessimista. Um minuto de atenção na vida parva que tenho levado e eis que surge como um passe de mágica, o pessimismo e o desânimo.
Fiquei esta semana, que estive fora, com a impressão de que a minha vida tinha desmoronado. Como um castelo de cartas. Pesamos direitinho os ingredientes, bate-se a massa com carinho e paciência, unta-se com minúcia a forma, derrama-se para lá de vagar a massa cremosa e homogénea, aquece-se o forno na temperatura exacta. Quando se corta o bolo, surge a surpresa! Betão armado. Bolo cimentado é quase impossível de ser comer, difícil de engolir. Mas um recheio, cobertura de chocolate, geleia para acompanhar, e o bolo pode até transformar-se em receita holandesa, sempre ouvi dizer que bolo holandês é sempre meio duro.
Quando o desânimo e o pessimismo saem da cartola, fico sem vontade de preparar o recheio e misturar a geleia. Mesmo assim ainda dá para comer.
A dor, enxaqueca, com náuseas, aura colorida, às vezes vómito, gosto amargo na boca, foto fobia e sensação eminente de morte.
A causa, meu fígado, nervoso, ansioso, irrequieto, impaciente, louco por abraçar o mundo e fazer realidade todas as minhas impossíveis vontades.
A cura, dietética, psicológica, longa, permanente e provavelmente impossível, de tão distante.
A sina, acostumar-me a ela, como um faquir que se deita sobre pregos.

Sanzalando em Angola
Carlos Carranca

1 comentário:

  1. Guida:
    Obrigado pelas boas vindas.
    A vida parva a que habitualmente me refiro tem a haver com o constante adiar de uma decisão que há muito tinha de ser tomada: o REGRESSO. É um estado de alma permanete, uma luta constante.
    Vou aceitar a sua receita e levá-la a peito, agora que parece que o sol se desponta, embora timidamente.

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