recomeça o futuro sem esquecer o passado

Podcasts no Spotify

7 de abril de 2006

Uma estória verdadeira (88)


Depois, bem, depois foi um tomar de estrada que a paragem seria só mesmo em Benguela. Mas o raio de uma cobra não queria sair da estrada e lá tivemos nós que parar e lhe dar uma paulada. Me arrepiei e ela lá saiu da estrada e a gente conseguiu seguir com o GPS marcado em Dombe Grande. Não parar foi a palavra de ordem. Ver devagarinho mas não parar. Ordem é ordem e se tem de cumprir, mesmo que a ordem não tenha sido dada por ninguém em voz alta. Nesta terra nasceu fulano e beltrano. Já na descida tinha ouvido e na subida voltámos a ouvir. Mas se a viagem era a mesma como podia se evitar falar a mesma coisa? E lá seguimos nós só com os olhos postos em Benguela. No desvio para a Baía Farta a gente viu brigada de polícia. Primeira vez que a gente vê assim uma brigada de trânsito. Não nos mandaram parar. Vais ver eles sabiam que a gente tava com pressa de ver a cidade das acácias em flor.
Lá chegados fomos só dar um abraço à Lolita, esposa do Amigo que a gente tinha deixado lá na Equimina, e que na descida foi um amor e a gente não podia passar ali e não dar os beijinhos da educação e consideração.
Nas fiquem aqui um ou dois dias. Nos dizia ele e a gente só dizia que nem almoçar aqui a gente fica porque o caminho é longo e não pode haver mais paragens. Há assuntos importantes ainda para tratar na capital e o tempo está a esgotar. Fiquem lá. Lágrima na cara a gente foi dizendo que não podia mesmo. Nem para almoçar a gente ficou. Fomos à procura de gelo picado para pôr na caixa dos caranguejos que o que a gente trazia lá do Namibe estava a ficar só água e ainda ia estragar a encomenda, que era coisa que a gente não queria. Perto da estufa a gente arranjou o dito cujo picadinho de gelo. Verteu a água que estava e bota até encher a caixa de esferovite. Acabada a operação o rumo foi seguir até ao Lobito. Aqui a gente tem de perder um bocado de tempo porque agora eu quero entrar na cidade e lhe ver as entranhas. Essa cidade que eu nunca tinha conhecido e quando descemos foi só como tangente na circunferência, eu tinha que lhe ver os interiores. Assim a gente fez. Gostei da Restinga, depois de ver a casa de tal e tal. Acabámos por almoçar num restaurante da praia da Restinga. Almoço de 5 estelas para nós os três tendo cada um pedido a sua coisa. Praia arranjada, Praia limpa. Ai se a gente tivesse tempo eu ia dar ali um mergulho. Podes crer. Almoçámos bem, mesmo.
Para entrar no Tico custou um bocado. Mais peso para ele e ele tinha que aguentar sem refilar. Mais uma voltita e rumo que agora a gente só vai parar mesmo no Sumbe para meter combustível e chegar na capital. Foi o que a gente pensou e foi o que tentou fazer. Desta vez se cumpriu. Fomos jantar na praia. Outra vez junto do zulmarinho. Não tem dúvida que o zulmarinho me persegue ou eu a ele.

Sanzalando em Angola
Carlos Carranca

3 comentários: