recomeça o futuro sem esquecer o passado

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8 de abril de 2006

Outra vez Sábado


Abro a caixa cor-de-rosa, que outrora fora de sapatos.
Sempre que eu tiro aquela tampa, penso se vale realmente a pena. Pensando bem, o que ela contém nada mais são do que registos. Fotos da minha vida e da vida de pessoas que passaram por ela. É perfeitamente possível focar no futuro e amar o passado, simplesmente porque o passado foi bom. Eu consigo refazer as minhas histórias colocando todas as fotos numa sequência temporal e lógica. O antes, o durante e o depois fazem sentido, como nos livrinhos ilustrados para crianças sem idade de irem à escola. Eu olho as fotos e fico pensando na magia do momento congelado. Fragmento de história, memórias coloridas ou a preto-e-branco, conforme o intervalo temporal que medeia o tempo real do tempo parado naquele clik. Ela está em tantos desses fragmentos e num instante é compreensível que eu não consiga ver-me livre da sua lembrança. Eu olho as nossas fotos e choro. Caixa de fotografias deveria ser uma coisa banida da face da terra. Fecho a caixa cor-de-rosa.
Afinal de contas eu tenho sorte de não ter uma caixa cor-de-rosa, que fora antes de sapatos. Afinal de contas eu tenho a sorte de não ter instantes registados com mais de cinco anos.
Mas afinal de contas porque é que eu tenho sempre a lembrança dela quando existe um vazio em mim?
Deve de ser porque hoje é sábado.
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca

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