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1 de julho de 2007

Caminhos (5) - quero ser criança

Quando eu era criança achava que todas as casas era grandes, que todas as ruas eram avenidas e que todos os prédios eram assim arranhacéus. Mas mais importante que tudo isto, era que eu tinha a certeza que todos os adultos eram pessoas responsáveis.
Na caminhada para crescer fui vendo que tudo ia mudando e eu pensava era uma questão de relatividade.
Agora vou vendo que as casas grandes são as casas dos ricos, que as avenidas são apenas ruas difíceis de cruzar e os arranhacéus meros prédios de fachada. E os adultos são assim pessoas que vistas de bem perto e durante muito tempo ficamos sem saber se lhes encontramos alguma coisa parecida com responsabilidade.
Quando era criança acho tinha os olhos de inocência, conseguia ver para além do que eles me mostravam. Agora olho e vejo os plásticos uniformes de contornos pouco nítidos e imperfeitos rabiscos.
Quando era criança não pensava que um dia ia perder a capacidade de apagar as emoções. Hoje choro sem que ninguém veja.
Quando era criança não imaginava que um dia eu ia olhar para um prédio e não lhe ia ver um sinal de presença humana, não lhe ia sentir um claustrofóbico arrepio de estar sozinho.
Por isso continuo a caminhada em busca da minha liberdade de ser criança.

Sanzalando

4 comentários:

  1. Acertaste no ponto. É tão bom quando somos ingenuos e inocentes.
    Abrs
    WF

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  2. A pura e bela simplicidade de eterna criança.
    Excelente!
    Abraço amigo
    pena

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  3. "Diz homem, diz criança, diz estrela.
    Repete as sílabas
    onde a luz é feliz e se demora." (Eugénio de Andrade)
    acrescento:
    diz homem,
    diz consciência,
    não pares de dizer liberdade.

    SJB

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  4. Este fim-de-semana foi de grande intensidade. Pela primeira vez um bispo foi ao Bairro da Outurela crismar umas dezenas dos muitos jovens que lá vivem. Assisti, pela primeira vez a este tipo de ritual à maneira de África. Me arrepiei: o canto, o batuque, os panos que os cobriam, o dançar ondeante durante as oferendas e um bispo tuga que falava das realidades daquelas gentes: do desemprego, da pobreza e, principalmente da falta de liberdade que se vive actualmente, da necessidade de ser livre como só as crianças já só às vezes são.

    As batucadeiras tocaram e dançaram tarde fora, recebendo em alegria os filhos recém-chegados da terra, por obra de reagrupamento familiar. Dizia-se: Festa de pobre é bom. Tem catchupa, suminho, dança e muito abraço.

    Sei que este é o mundo que quero meu. Pensei que também este sanzaleiro seria feliz ali.

    Beijo gordo da são branca

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