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20 de julho de 2007

Ser imortal

Me sento por aqui e vou caminhando nas palavras doces, amargas, choradas, gargalhadas, azedas, sorridas, lagrimadas. São palavras que são levadas pela brisa que sopra desde lá do início do zulmarinho e trazidas na minha boca através da alma. Não é como na boca escancarada no dentista que lhas aspira de forma mecânica que nem deixa de ser ensurdecedor de não lhas poder ouvir. São mesmo palavras ditas em falas que sentem, voz real de ficção
Na verdade eu te digo que não gostava de ser imortal. Nenhuma força do universo que me desse a imortalidade me poderia mudar a mente. Já imaginaste olhar-me no espelho de água do zulmarinho manso que nem lago e ver o corpo se mirrar e a nada mudar lá dentro? Eu não consegui aguentar ver os meus pensamentos, meus gostos, caprichos e desejos continuarem os mesmos, adolescentemente irresponsáveis. Era peso pesado ver o tempo detido assim no dentro de mim, como se tudo fosse fresco e recente e me olhar e não me reconhecer.
Mas isso nem que era o pior. O pior mais do mesmo era ver as mortes e a dor que seriam os meus actos sociais de aparecer em funerais. E só de pensar no dia de Centenário em cada cem anos. Ser imortal seria ser triste.
Acho mesmo é melhor continuar aqui vagueando palavras e odiando a saudade que carrego voluntariamente.

Sanzalando

1 comentário:

  1. Amigo "Jotacê":
    Escreve com um sentimento verdadeiro. Autêntico.
    Vou conhecendo a sua brilhante Alma aos poucos.
    Também não gostava de ser imortal.
    O porquê?
    Não sei responder, sinceramente!
    Abraço com estima

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