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4 de julho de 2007

Palavras em estado líquido

Penosamente calo palavras. Não é porque não apetece falar. É mesmo porque está calor para dizer as palavras em estado sólido. Elas saem arrastadas, assim fundidas, ebriadas na destilação forçada.
Mas, depois duma ou de mais outras tantas birras estupidamente geladas, elas se vão arrastando até entrar no teu ouvido e se transformam em ideias. E caladamente te vou falando as minhas verdades absolutamente certas embrulhadas em flores de duvidas.
Olho nos olhos e te vejo sorridente, resposta rápida, acordada na vida. Me pergunto no meu silêncio se mostras aquilo que te vai na alma ou te representas? É, como posso eu saber como digeres as minhas palavras se eu não sei se as ouves, nem como as filtras? Olhas-me sorrindo.
Se calhar o teu olhar é um sorriso e mesmo quando choras me parece que estás a sorrir.
Se calhar nunca te vi com lágrimas. Te escondes na fachada desse sorriso, acenas que sim ou que não sem te transpareceres.
Se calhar na tua solidão vociferas, gritas e saltas como quem desembrulha abacaxi debaixo da torreira do sol queimando ideias, fritando ódios, pelando queimadas peles do dorso desprotegido.
Se calhar o que eu tenho mesmo é saudade de olhar o teu sorriso, experimentar o teu perfume e me humedecer no teu suor feito cacimbo, e nunca de te ter entrado na alma.
Ficas cá ou vais para lá? Alucino-me nesta pergunta que ouço sem saber donde vem. Vem e é só isso que me importa. Vais ver é o meu fantasma que está na dúvida do caminho que deve seguir, se me acompanha ou me larga aí num substituto qualquer. Desrespondo porque as palavras não têm a fluidez duma miragem, o brilho duma noite de luar nem o cintilar das estrelas que pinto na minha alma. Seriam palavras liquefeitas levadas pelo vento.
Afinal de contas é mesmo só o calor que cala a minha saudade no instante em que te penso.

Sanzalando

3 comentários:

  1. Escreve tão bem que eu não consigo digerir bem as palavras. As palavras todas. Sim! As suas palavras adornadas de requinte e, talvez, choradas, com uma significação e que rumam a caminho do incerto, indefinível.
    Não sei se consigo ver-lhe o sorriso? A magia que o envolve e que tão bem descreve e dedica a todos os que por aqui passam? Lugar por onde passam porque é obrigatório. Para mim é. Não sei porque o faço?
    Talvez, por ser algo diferente. Algo especial que conquistou com (Vá lá! Um sorriso, ou não?).
    As suas palavras de uma vida têm um fundamento inconfundível: A sua dedicação que põe em existir em todos! As suas palavras deviam ser agradecidas.
    Um Bem-Haja!
    Mais uma vez, as palavras que constrói, não me fugiram às expectativas. Às minhas expectativas que são minhas e posso expressar.
    Belo texto.
    Abraço
    pena

    Nota: Sou verdadeiro. Não sou servil. Sigo os traços do meu pensamento fielmente. Gosto de me ver assim. Sou!

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  2. Poliedro, lindas palavras... gosta
    Já retirei a palavra "servil", na resposta ao seu post de 30/6, como
    prof. deve encontrar palavra apropriada. Fui...

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  3. Ah!
    É tão bonito, tão terno, tão sensível...
    Uma paixão adorável!
    Silvana

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