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30 de junho de 2012
29 de junho de 2012
cidade, até já
Me deixo embalar aqui no campo de hóquei do Benfica. Este aberto pavilhão que foi já palco de grandes jogos e de muitos festivais da canção, dos meus treinos no CID e dos 10 de Junho, serve-me agora para pausa de pensamentos e divagações. É fácil calcorrear toda a cidade, recordar todas as figuras que me lembra a memória de adolescente. Mas neste momento é-me útil parar por aqui. Sentar num topo, abrigado do sol que se põe e do vento leste que sopra. Acho que a culpa é mesmo só do vento... mas eu dizia que era-me ítil parar por aqui.
Ela será sempre ela, sem tentar ser quem não é. Cidade, grande ou pequena, do mato que é deserto ou do deserto florido de areias amarelas, das gentes boas quando não são ruins, das festas quando o sol aperta, das noites de serenata qualquer que seja a lua, da cóboiadas e outros encontros de grau variável. Cidade de erros e acertos, de pó e areia quando não de enxurrada, complicada e simples quando também misteriosa, doida, desconfiada e por vezes indecifrável, de encanto racional e de segredos arrebatadores. Enfim a minha pequena grande cidade, me alberga enquanto me deixo embalar aqui no campo do Benfica a descansar pensamentos e divagações.
Eu e a cidade, o forte e frágil diálogo um dia tinha que repousar. Que seja hoje, antes que a estrague de mimos e piropos brejeiros.
Até já, cidade!
Sanzalando
28 de junho de 2012
a dor do tempo
Me sento na escadaria do Tribunal. Não, não estou à espera de ser preso nem de ver o carro dela fazer a curva contra curva e me olhar a olhar para ela.
Estou só aqui por que aqui está sombra e se mãe diz que este sol faz mal, eu hoje não estou para lhe contrariar.
Estou só aqui por que aqui está sombra e se mãe diz que este sol faz mal, eu hoje não estou para lhe contrariar.
Estou aqui mesmo sentado porque gosto de pensar no tempo e no como ele transforma a vida.
Eu sei pouco das coisas. Eu não leio, não vagabundo por tertúlias e não me dou a discussões. Eu sei é o que é o tempo e o que são saudades. Mais nada interessante eu sei.
Das poucas coisas que vivi, tenho saudades.
E acho até já tenho saudade daquilo que ainda não vivi.
Posso ter saudade do que ainda não conheci? E do que esqueci? Eu tenho!
A saudade faz tudo ser possível. Até faz doer e se não faz a gente lhe inventa uma dor. Tem dias parece tem uma faca cravada no peito.
Aprendi mais qualquer coisa enquanto sentado aqui na escadaria do Tribunal eu vagueava com tempo. Dor, Tempo e Saudade também ensinam:
A dor diminui com o tempo para se tornar em saudade.
Sanzalando
27 de junho de 2012
palavrei-me
É meio da tarde eu estou sozinho no aeroClub a jogar bilhar. Dar umas tacadas, melhor dizendo. O silêncio é grande que ouço o tic tac do contador do que terei de pagar quando me che«atear de estar para aqui armado em profissional a treinar. Lá fora cacimba e não vou na praia porque ia estar mesmo mais sozinho junto de tanto azul. Aqui, no intervalo de cada tacada, acertada ou falhada, sempre deito um olho a um ou outro pensamento para endireitar a vida.
Pois é, não vivo a vida das aparências porque elas mudam e eu terei que estar a mudar também, não vivo a vida de mentira porque elas são descobertas e eu tenho vergonha. Na verdade também não vivo a vida dos outros porque a minha já dá muito trabalho.
Mais uma tacada dada sem concentração. Falhei. É melhor mesmo pousar o taco e ir até casa fazer horas de ter hora para fazer alguma coisa.
26 de junho de 2012
medo do tempo
Me sento na varanda, na velha cadeira de baloiço feita com aduelas de barril e pintada de cor amarela muito clarinha. Já sei que vais dizer que a cadeira é do avô e quando o avô chegar eu vou ter que alçar a caganeta e mais nada. Pensas que eu puto serei eternamente? Logo me levantarei. Me deixa aqui só balouçar um pouco sobre recordações, vidas vividas ou apenasmente sonhadas.
Brrr, que nervos, quando a gente quer se concentrar neste fim de tarde bafiento parece vem trovoada e nos incomodam parece é ciúme de propósito.
O meu problema, eu sei, é o medo. Excesso. Quantas vezes disse no meu coração para te esquecer? Mas olho em frente e lá estás, a chegar, a partir ou simplesmente estás. Eu que fechei as portas, todas a sete chaves. Calafetei janelas, não por causa de cacimbo que eu ainda não tenho idade para me preocupar com isso, mas para me resguardar vazio de amores. E lá vens tu entrar nas minhas recordações, sem pedir, sem se faz favor ou com licença. E eu com medo. Pouco ou nada me diz que agora é que vai ser o meu momento de viver feliz. Talvez seja diferente. Talvez seja agora o tempo certo. Certo tempo que eu pensei isso e foi o que se viu.
Não me quero desperdiçar. Não me quero perder. Não me vou voltar a apaixonar. Digo-o sem certezas absolutas com a cara de quem vê um romântico filme no Impala.
Tudo tem o seu tempo e eu não dou chance de ter mais tempo desperdiçado. Vou cuidar do meu tempo mesmo que me mantenha fechado, calafetado com medo do tempo que possa vir.
Me sento na varanda, na cadeira de baloiço que tu sabes é do avô e medito se vale a pena arriscar. Afinal de contas já foram tantas as quedas que mais uma ou menos já não faz assim muita dor.
Não, aqui sentado, não vou sair a correr, porque tenho medo.
Sanzalando
25 de junho de 2012
parêntesis, aspas e ponto
Porque será que me sinto um parêntesis? Bem que podia ser aspas já que me falta a interrogação para ser ponto final. Vim no depósito de água aqui perto do aeródromo que teimam em lhe chamar aeroporto. Quero ver que é que lhe vão chamar depois de acabarem o outro que fica do outro lado. Vim aqui mesmo apenas para fazer exercício. Andar para fingir estou a trabalhar o corpo para ter uma mente sã. Me disseram isso e com tanto AC acho bem eu de vez em quando, assim anualmente, fingir estou a fazer desporto e desopilar ideias e baralhar pensamentos.
Afinal de contas eu carrego comigo tudo aquilo que não preciso, mesmo. Olhares que me rejeitaram, abraços que não me deram, amores que não me amaram, conversas que ficaram por fiar, migalhas endurecidas de pão de caridade que me ofereceram.
Pronto. Está tudo certo. Eu é que me meto nestes labirintos desérticos da nostalgia solitária e tento sair ileso divagando pelas areias duns caminhos conheci faz tempo. Quando chover vai estar verde por aqui. Até lá é amarelo mesmo de deserto dourado.
Caminho até o depósito de água, desfazendo-me em parêntesis, aspirando-me em aspas e interrogando-me até ao ponto final.
Sanzalando
24 de junho de 2012
amigos
Me sento no cinema da praia. Acho só lhe vi trabalhar uma vez como cinema. Mais vezes lhe vi como palco de programa de rádio em dia de verão. Mas me sento aqui em diz de cacimbo para soletrar pensamentos, calcular amigos e subtrair dias.
Tem amizades que apenas te dão uns raros momentos de alegria e outras que eu sei vão ser para a vida toda, assim num para sempre. Tem aqueles que é preciso lhes lembrar que estou aqui, tem outros que apenasmente lhes penso e eles estão ali ao lado. Esses representam tudo para mim, nos dias bons, nos ruins, nos dias vazios, nos cheios. São amigos de coração.
Eu sei que muitas águas vão cair em muitos marços, muitos rios vão passar por cima das pontes, muitas luas não vão nem aparecer, mas os meus amigos vão estar ali. aqui, onde lhes precisar.
Tenho certeza que há linguagem chamada de amiguês, porque tem amigos que só piscam o olho e a gente já tá que nem a sorrir. Não precisa contar estória, piada ou fazer macacada. Tem amigos que nem preciso ver. Eles estão.
Me sento no cinema da praia em dia de cacimbo e lembro que nem fosse ontem os tempos de criança em que a nossa amizade era que nem unha e carne. Hoje nem preciso te chamar. Te penso e tu ligas e perguntas:
- Tás bom, pá?
Invariavelmente
Pelo tom da minha voz lá vem sermão ou vem gargalhadas nos segundos duma chama telefónica só porque sim.
Me sento no cinema da praia e deixo cair uma lágrima apenasmente porque também me lembrei de amigos que eu já nem sei quem são.
Sanzalando
23 de junho de 2012
Desenho estórias
Me sentei na Oásis. Sábado de tarde e todo o mundo ficou a preguiçar a feijoada. Faz frio. Mas eu estou a Oásis a tentar driblar problemas, fazer bassulas nos minutos negros da vida, a rodopiar ideias nas horas tristes.
É. Assim mesmo. Somos reféns da vida, do que pensamos e do que gostamos. Vamos fazer mais como então? Somos reféns da gente própria.
Sr. Reis também giboia a feijoada. Ainda não veio perguntar o que é que eu quero, sabendo que não vai mais nada que um café que o dinheiro não estica.
Mas a cadeira de aluminio que me suporta ainda tem que aguentar as minhas mirabolantes ideias tripolares. As minhas coisas, os meus sentimentos e ainda as minhas desilusões.
Quem me mandou a mim criar a minha própria estória que rima com o a palavra sofrer na primeira pessoa do singular.
Me sentei na Oásis e desenho uma futura nova estória para viver.
Sanzalando
22 de junho de 2012
me lembrei
Parei no ring para me rever a lutar com o Mané por causa dela. É, dois amigos lutaram por causa dela. Honestamente já não sei quem ganhou porque acho nenhum queria magoar nenhum. Ambos ficámos sem ela. Dele só me ficou a memória por trágico percurso da vida. Dela a lembrança e a saudade. Nem a voz nem o seu sorriso tive. Passei à estória apagada da sua mente.
Mas hoje resolvi vir ao ring do parque infantil do Sr. Sousa para recordar.
Junho me morreu meu pai na minha idade ainda de botão. Não tinha chegado ainda à flor da idade e a memória é vaga, muito vagamente me lembro duma birra chorada pela mana numa noite de cinema. Pouco mais.
Junho lutei por amor.
Em Junho passeio no ring a recordar.
Na solidão da rua que me trouxe ao parque infantil, para além do frio que me corta a cara, para além da escura noite que logo vai fazer, me recordo de grandes cenários em que eu podia ter sido actor principal se estivesse escolhido outros papeis que não o do eu, directo, apaixonado e até por vezes obstinado.
Neste caminho sonhei ser cantor, tocar trompete ou simplesmente assobiador de melodias de coração.
Mas hoje me lembro do Mané, com quem lutei por amor. Mas hoje me lembro de meu Pai.
Se eu fosse poeta desenharia um poema, mais ou menos assim:
O que é a vida se não um frenesim?
O que é a vida se não uma ilusão?
Eu sou sombra, ficção,
Um pouco nada de mim
E tu, grande, lutaste até ao fim
Como um guerreiro
Atrás do sonho de teres morrido assim:
Herói a tempo inteiro,
Pelo menos para mim.
Mas não sou poeta,
Nem assobiador,
Nem actor.
Sou assim,
Hoje recordei-me de ti, Mané,
E do meu Pai Antenor.
ps: meu pai morreu em 18 de Junho
Sanzalando
21 de junho de 2012
20 de junho de 2012
100 anos depois
Daqui a uns 100 anos eu vou saber ainda o teu nome, vou estar por aí, num algures, a falar-te. É, tenho uma voz dentro de mim que me diz isso e eu não sou de lhe contrariar.
Sabes, fecho os olhos e finjo que te vejo e te falo em palavras soletradas aquilo que te sinto, do que me arrependo de não ter mudado as coisas quando elas eram mutáveis e as palavras simples seriam o significado de grandes gestos. Como fui um pecador por ter-me calado em silêncios sentidos, em idiotices parvas e confusões estéreis.
Fecho os olhos e finjo que te vejo ao mesmo tempo que em audíveis palavras te peço desculpa num balançar de tempos perdidos em que o futuro era o momento presente. Quanta confusão misturei nesse tempo sem escolha.
Como posso apagar todo o perdido tempo que se evaporou em nadas e que sobrou em restos de cinza peneirada?
Daqui a 100 anos eu vou estar a soletrar o teu nome, por castigo de deuses.
Se jogar à bola no passeio, arrastando o reumático, arfando em asma e esbugalhando olhos miopes eu ainda saberei escrever o teu nome com o meu suor na parede do quintalão, na degrau da casa do Reis, onde tantas vezes brinquei no comboio miniatura, ou na porta trancada da velha Dona Maria estarei à espera que a velha filha dona Idalina se venha zangar do barulho que farei a andar.
Sei que depois deste tempo todo eu não te tiro o sono e não sei é se consegues ouvir a minha voz que deixou de ser a bonita voz do menino feliz.
Daqui a 100 anos eu vou estar num algures por aí a fazer te lembrar que não é permito me esquecer.
Sanzalando
19 de junho de 2012
escola 56
Me sentei no muro partido da escola 56 a me recordar os anos que lhe passei e não sei se me lembro da nitidez da vida que lhe vivi. Aqui ainda não sofria de amores, nem desilusões de adulto. Aqui não sabia de almas impuras porque apenas aprendi a desenhar palavras com as letras recitadas. Aqui, onde agora me sento, não me lembro de ter chorado nem sei se sabia a essência das coisas. Aqui, na escola onde aprendi a música da tabuada não sabia ainda as desverdades dos pecados de ser grande.
Me sentei no muro da minha velhinha escola e recordei quem me ensinou a aeiou, ao mesmo tempo que revi uma série de buracos negros feitos na vida. Aqui, ainda não me interessava ler o coração nem saber das almas. Aqui, quando eu era a mais pura das criaturas, a inocência da infância, não sabia que um dia eu poderia soletrar palavras duras nem que o inferno ardia lentamente em cada dia.
Aqui, onde aprendi as silabas, me penitencio dos duros silêncios que calei. Aqui, cada gota do meu sangue poderia ser poesia se eu fosse uma palavra escrita num velho papel que guardei não me lembro mais onde.
Me sentei no muro partido da velha escola 56 para sentir a verdade escorrer por entre os meus dedos e chorar.
Sanzalando
18 de junho de 2012
dolente
Já joguei à macaca, garrafão e trouxa lavada. Já brinquei com as campainhas das vizinhas e já saltei muros. Já ri à gargalhada e inventei futuros. Já parei em todas as esquinas, já subi as todos poucas ruas de subir, já te magoei em pensamentos, palavras e acções. Já senti o teu perfume que me esqueci. Agora me sento no sofá, de olhar no vazio e em cada piscadela de olhos vou recordar uma qualquer estória tua, mesmo que por mim inventada.
Se eu pudesse me sentar agora no teu colo, esquecer o frio que deve estar, preencher o espaço entre os meus dedos com uma qualquer coisa tua e deixar o vazio se encher de saudade, fechava os olhos e sonhava e na hora de acordar dormia mais um bocado para não interromper.
Fechar os olhos e sorrir é o que possa agora fazer.
Sanzalando
17 de junho de 2012
chorei
Caminhei no deserto como que a pôr as ideias em ordem. Não fazia vento e o calor não era abrasador. Deu mesmo para ver que eu chorei por não aguentar as coisas calado e continuar a sorrir como se fosse feliz. Chorei por não conseguir aguentar essa de rotina. Chorei porque não consegui ser mais o forte. Chorei de saudade, tristeza e de raiva. Chorei por não ter e por ter. Chorei sim. Chorei porque fui tolo. Chorei porque construí barreiras, muros e montanhas. Chorei porque parti barreiras, muros e desabaram as montanhas.
Chorei no deserto. Na areia nasceu sal. Mas continuarei a caminhada até um dia ter as ideias em ordem.
Sanzalando
15 de junho de 2012
14 de junho de 2012
talvezmente
Sentado na primeira fila do 1º balcão do velho cinema, acho fechou faz mais que tempo que lhe esqueci, vou ver um filme da Rita Pavoni, ou do Joselito ou da Marisol. Não sei. Já não me lembro porque o tempo passado pesa no esquecimento.
Mas o cinema eu lhe estou a ver como se ele fosse novo.
Mas antes de começar o cinema, a preto e branco, me pergunto quem sou. Não tem legenda com a resposta. Me deixo embalar em pensamentos para encontrar uma. Talvez eu seja saudade, tristeza ou raiva. Talvez eu não seja nem sentimento e seja apenas uma miragem de mim. Talvez eu seja um caminho sem sentido de traço contínuo em contramão. Talvez. Não sei já quem sou porque não me revejo trancado no mundo do só.
Se calhar eu sou futuro e por isso ainda não dei por mim.
Talvez eu vá me procurar numa qualquer fila, dum 1º balcão dum cinema que já não existe mais.
Sanzalando
13 de junho de 2012
coleccionador
Calcorreei a cidade num paralelo ao mar. Está cacimbo. Uns 23 graus de rachar. Acho que nunca soube calcular a temperatura do ar, nem adivinhar o dia de amanhã e nem me lembrar como foi hoje à um ano o tempo. Mas hoje está frio, vesti casaco e passeio nas ruas paralelas ao mar.
Quero fugir da lembrança do mar.
Olho no chão. Brinco faz de conta é macaca com as lages grandes e irregulares do passeio. Soletro pensamentos vagarosamente para gastar o tempo de cacimbo, acho passa rápido. Digo eu que é o que desejo.
Nesta vagabundagem de corpo e alma me pergunto o que é que colecciono. Selos, lembrei-me. Faz tempo fui enganado e me levaram todos num emprestado até hoje. Que mais colecciono? Nem uma palavra me lembrei. Decepção. É isso. Colecciono decepções. E fui revendo e tive que caminhar ainda mais lentamente porque a colecção estava a ficar grande e o peso da colecção me estava a atrasar o corpo. Vá lá. Uma ou outra felicidade fui encontrando nos meus pulos entre lages, para amenizar o ar carrancudo que estava a carregar a minha cara. Com esta idade não posso ter assim uma colecção tão grande.
E a infância? me perguntei tentando despistar a minha colecção ou limitá-la e desengatar outro pensamento soletrado. Para ser sincero acho que nem eu restei dessa altura. Toda a gente me olha e diz: estás tão diferente! que eu às vezes me pergunto se eu não sou outro que me encontrei vagabundando por aí.
Vá lá. Também colecciono saudades. Já tenho saudades de mim outro, aquele que só conhecia as coisas doces da vida, a sinceridade simples que leva à felicidade e que é bom antes de virar ruindade.
Colecciono o que tenho. E sou um verdadeiro coleccionador de decepções.
Quando dei por mim tinha percorrido as 7 ruas paralelas ao mar.
Sanzalando
12 de junho de 2012
no liceu de férias
Estou sentado na escadaria do liceu. As notas não foram boas. Também não foram más. Deu para atingir o objectivo que era passar de ano. Agora entrei nas férias grandes e vou ficar largo tempo sem te ver. Todos os anos é assim nas férias grandes. Me mandam na casa dos avós e eu feliz, diga-se, vou. E não apetece voltar. Todos os anos é sempre assim quando chegam as férias grandes.
Mas este ano é especial. Eu me cansei de virar esquinas à tua procura. Me cansei de desempacotar lembranças empoeiradas no sotão da memória. Eu cansei de olhar o carteiro que nunca trouxe uma carta tua. Tens de me entender que eu não posso continuar acompanhado de nadas como foi este ano. Vou de férias tuas e espero continuar até num amanhã em que ao acordares vais sentires a minha falta e vais dizer que o teu futuro passa ao meu lado. Aí eu posso duvidar, mas não sei se terei coragem de te negar.
O presente não nos quer ver juntos e eu não sei se tenho mais forças para lutar.
Sentado na escadaria do liceu eu te fico a olhar para a minha memória e a chorar saudades do futuro desejado.
Sanzalando
11 de junho de 2012
tem outros nascer do sol
É de tarde, numa tarde de vento que sopra vindo do areal. Incomoda, enerva e me deixa esparramado no sofá como se fosse uma noite qualquer, fria, triste e, quem sabe, uma noite morta na vida.
Eu fecho os olhos e me tenho na esperança que amanhã vai ser um amanhecer diferente.
Tal como tu, feita de ruas quadriculadas num quase plano perfeito, a minha vida é feita de fases. Só não sei, porque nunca me dei ao trabalho de contar, se as fases boas suplantam as ruins ou vice versa. Sei, por experiência vivida, que tem fases que se repetem e se prolongam desesperadamente pelo que me parece a eternidade.
Tu, ruas desertas, és como a minha vida, em que o acto de sorrir parece ser um desafio e o de chorar uma rotina. Tu, ruas calmas e vazias, pareces-me com a cama solitária duma noite de cacimbo. Olhando no tecto vejo um filme que não é apresentação nem documentário de assim vai o mundo. É mesmo o meu filme em que eu me encho de medo de futuro e me reafirmo de forma egoísta que eu devia ser mais feliz.
Eu mereço dias assim?
Eu mereço pesadelo sobre pesadelo até que chega um pesadelo final?
Tudo na vida é passageiro. Mas eu tenho passagens que demoram que mais parecem ficagens.
Me perguntei milhares de vezes as mesmas perguntas e milhares de vezes fiquem sem resposta.
Deve ser do dia em que nesta tarde o vento sopra vindo do areal, incomodativo e me deixa sem vontade. Vais dizer é auto-estima que falhou. É automático estar cabisbaixo e sem mão firme sobre a vida num dia sem sol, direi eu.
As ruas geométricas e quase planas, vazias de gente se enchem de areia que vem do deserto, trazida pelo vento que me sopra na memória e me pica nas pernas vestidas de calções.
Olho no tecto, sobre o sofá e sorri. Amanhã vai haver outro nascer do sol.
Sanzalando
10 de junho de 2012
me entrevistei
- O que é que tens?
- Saudade!
- De alguém em especial?
- É. Mais ou menos...
- Como assim. Explica!
- Bem...
- De alguém que te é importante?
- Pior. Na verdade eu não tive tempo para lhe conhecer como devia. Deixei fugir-me!
Sanzalando
foto do facebook
- Saudade!
- De alguém em especial?
- É. Mais ou menos...
- Como assim. Explica!
- Bem...
- De alguém que te é importante?
- Pior. Na verdade eu não tive tempo para lhe conhecer como devia. Deixei fugir-me!
Sanzalando
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9 de junho de 2012
nas cassuarinas
Sentado nas casuarinas, abrigado do sol tórrido, escondido do mundo num acampamento mental, sinto-me ausente do meus próprio corpo. Se olhasse agora para mim, para o meu corpo, vê-lo-ia cheio de solidão, até por mim mesmo abandonado.
Para quê eu ia sorrir-me, sem vontade, sem motivos e até se calhar me falta a coragem para sorrir. Acho falta-me capacidade para dizer adeus definitivo às velhas coisas que me atormentam e que fazem o jeito de não me abandonar a lembrança. Se calhar falta-me esperança de ter coragem para agarrar de frente as lágrimas que me apetece chorar.
Sentado nas cassuarinas, abrigado dos ventos de mudança, escondido da vontade de gritar que a falta de fé me deixou carregado de vazio na saudade, de medo do erro e de sentimentos cruzados que transbordam de coisas ocas.
A menina dos meus olhos se encontra fechada de modo a que a luz do dia não acorde o sonho de sorrir, de dizer sorrindo as coisas que deveria ter dito, de sorrir os sorrisos que me esqueci de sorrir.
Aqui, perto da praia, sob as cassuarinas, me sento cansado de solidão.
Sanzalando
8 de junho de 2012
sonhos adiados
Me atiro de corpo e alma à preguiça total. Ouço o mar, sinto a maresia mas não vejo o mar. Esticado no sofá nem dá para ver a rua. Ouço o vento que me trás o marulhar até aqui dentro. Mas eu estou cansado para caminhar até à beira mar. Hoje fico a preguiçar e a ouvir lá longe o mar.
Mas pelo sim pelo não vou anotar num pedaço de papel a palavra esquecer e vou pôr num lugar bem visível para não me esquecer que prometi esquecer-te. Mesmo quando estiver a preguiçar não vou deixar o meu sonho sonhar-te. Sei que parece fácil, mas juro que não é.
Acho vou fazer uma faixa grande e colar no tecto. Assim, aqui deitado no sofá, abraçado na preguiça, vou olhar no tecto e lá vai estar escrito em letra legível: esquecer e o sonho vai se lembrar de sonhar com outra coisa que não tu. Não vou sentir mais o teu perfume, não vou ouvir mais o teu silvar desértico e tudo o que ainda estiver dentro de mim vai voar com esse vento de areia dourada.
Acho assim, desde que eu disse te ia esquecer, parece aumenta a vontade de te ter. A tua geometria. O teu calor. O teu perfume. Tenho de esquecer.
Mas porque eu vou ter o desperdício de fazer o esforço de te esquecer se não é possível te esquecer? Eu só queria viver um pouco mais e te incomodar um pouco menos.
Sanzalando
6 de junho de 2012
5 de junho de 2012
4 de junho de 2012
foi um conto de fadas
Mas porque é que é que tem de ser desse jeito? Não entendo porque é que tem de ser desse jeito. Conto de fadas mais não é que conto de fadas que serve para enganar as crianças e que a realidade não mais igual ao conto de fadas, ao conto que mãe conta quando quer adormecer o bebé. Os pais deviam de ser castigados por contar essas estórias que no fim só servem para iludir as crianças que crescem carregadas de esperança dum mundo de conto de fadas e sai contos reais num amor que dói em ferida ardente duma imagem de príncipe desencantado.
Se minha mãe me diz que o amor era assim um fogo que pode matar eu tinha aprendido a me defender dele e nunca mais ia sofrer dessa coisa de saudade, dessa brisa que vira vento, desse chuviscar que parece é trovoada, desse passageiro eterno que é a culpa do prazer.
Mas porque é que tem de ser desse jeito de voar em cavalo branco nos ares da fantasia?
Sanzalando
3 de junho de 2012
2 de junho de 2012
felicidade
Apenasmente nebulado. A baía parece mais redonda e parece tem portão cinzento a lhe fechar lá longe onde a vista quase não chega. Eu só estou sentado frente do clube náutico, que outros chamam de casino, a me deixar gastar no tempo e ao mesmo tempo navego nos mares da minhas ideias, nas vagas de pensamentos que sucedem nos dias cinzentos.
O que eu mais preciso neste momento? Me respondo como se alguém estivesse a me ouvir: felicidade! Mas não uma dose curta e leve. Uma coisa em grande que podia chegar ao exagero, dar a volta toda a mim e sobrar que eu não me ia nem importar. Mas parece ela foi embora, dar uma volta e não sei se tem como voltar. Se calhar se perdeu no caminho, se calhar se isolou na solidão, se calhar anda devagarinho ou se calhar não.
Mas eu não vou ficar aqui de olhos vendados a falar como se alguém me ouvisse. Já gastei o tempo de ter as portas abertas a lhe esperar sentado, a lhe destapar da solidão, a lhe proteger do medo.
Não.
Está na hora de navegar por oceanos, mesmo que pareçam ruins, sem comandos à distância e sem lágrimas de saudade.
Está na hora de dizer chega às coisas pequeninas, às importantes coisas que afinal não têm importância. Chegou a hora de eu ir procurar a felicidade, mesmo que seja outra. Apenasmente, que me faça feliz.
Sanzalando
1 de junho de 2012
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