Calcorreei a cidade num paralelo ao mar. Está cacimbo. Uns 23 graus de rachar. Acho que nunca soube calcular a temperatura do ar, nem adivinhar o dia de amanhã e nem me lembrar como foi hoje à um ano o tempo. Mas hoje está frio, vesti casaco e passeio nas ruas paralelas ao mar.
Quero fugir da lembrança do mar.
Olho no chão. Brinco faz de conta é macaca com as lages grandes e irregulares do passeio. Soletro pensamentos vagarosamente para gastar o tempo de cacimbo, acho passa rápido. Digo eu que é o que desejo.
Nesta vagabundagem de corpo e alma me pergunto o que é que colecciono. Selos, lembrei-me. Faz tempo fui enganado e me levaram todos num emprestado até hoje. Que mais colecciono? Nem uma palavra me lembrei. Decepção. É isso. Colecciono decepções. E fui revendo e tive que caminhar ainda mais lentamente porque a colecção estava a ficar grande e o peso da colecção me estava a atrasar o corpo. Vá lá. Uma ou outra felicidade fui encontrando nos meus pulos entre lages, para amenizar o ar carrancudo que estava a carregar a minha cara. Com esta idade não posso ter assim uma colecção tão grande.
E a infância? me perguntei tentando despistar a minha colecção ou limitá-la e desengatar outro pensamento soletrado. Para ser sincero acho que nem eu restei dessa altura. Toda a gente me olha e diz: estás tão diferente! que eu às vezes me pergunto se eu não sou outro que me encontrei vagabundando por aí.
Vá lá. Também colecciono saudades. Já tenho saudades de mim outro, aquele que só conhecia as coisas doces da vida, a sinceridade simples que leva à felicidade e que é bom antes de virar ruindade.
Colecciono o que tenho. E sou um verdadeiro coleccionador de decepções.
Quando dei por mim tinha percorrido as 7 ruas paralelas ao mar.
Sanzalando
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