É de tarde, numa tarde de vento que sopra vindo do areal. Incomoda, enerva e me deixa esparramado no sofá como se fosse uma noite qualquer, fria, triste e, quem sabe, uma noite morta na vida.
Eu fecho os olhos e me tenho na esperança que amanhã vai ser um amanhecer diferente.
Tal como tu, feita de ruas quadriculadas num quase plano perfeito, a minha vida é feita de fases. Só não sei, porque nunca me dei ao trabalho de contar, se as fases boas suplantam as ruins ou vice versa. Sei, por experiência vivida, que tem fases que se repetem e se prolongam desesperadamente pelo que me parece a eternidade.
Tu, ruas desertas, és como a minha vida, em que o acto de sorrir parece ser um desafio e o de chorar uma rotina. Tu, ruas calmas e vazias, pareces-me com a cama solitária duma noite de cacimbo. Olhando no tecto vejo um filme que não é apresentação nem documentário de assim vai o mundo. É mesmo o meu filme em que eu me encho de medo de futuro e me reafirmo de forma egoísta que eu devia ser mais feliz.
Eu mereço dias assim?
Eu mereço pesadelo sobre pesadelo até que chega um pesadelo final?
Tudo na vida é passageiro. Mas eu tenho passagens que demoram que mais parecem ficagens.
Me perguntei milhares de vezes as mesmas perguntas e milhares de vezes fiquem sem resposta.
Deve ser do dia em que nesta tarde o vento sopra vindo do areal, incomodativo e me deixa sem vontade. Vais dizer é auto-estima que falhou. É automático estar cabisbaixo e sem mão firme sobre a vida num dia sem sol, direi eu.
As ruas geométricas e quase planas, vazias de gente se enchem de areia que vem do deserto, trazida pelo vento que me sopra na memória e me pica nas pernas vestidas de calções.
Olho no tecto, sobre o sofá e sorri. Amanhã vai haver outro nascer do sol.
Sanzalando
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