Parei no ring para me rever a lutar com o Mané por causa dela. É, dois amigos lutaram por causa dela. Honestamente já não sei quem ganhou porque acho nenhum queria magoar nenhum. Ambos ficámos sem ela. Dele só me ficou a memória por trágico percurso da vida. Dela a lembrança e a saudade. Nem a voz nem o seu sorriso tive. Passei à estória apagada da sua mente.
Mas hoje resolvi vir ao ring do parque infantil do Sr. Sousa para recordar.
Junho me morreu meu pai na minha idade ainda de botão. Não tinha chegado ainda à flor da idade e a memória é vaga, muito vagamente me lembro duma birra chorada pela mana numa noite de cinema. Pouco mais.
Junho lutei por amor.
Em Junho passeio no ring a recordar.
Na solidão da rua que me trouxe ao parque infantil, para além do frio que me corta a cara, para além da escura noite que logo vai fazer, me recordo de grandes cenários em que eu podia ter sido actor principal se estivesse escolhido outros papeis que não o do eu, directo, apaixonado e até por vezes obstinado.
Neste caminho sonhei ser cantor, tocar trompete ou simplesmente assobiador de melodias de coração.
Mas hoje me lembro do Mané, com quem lutei por amor. Mas hoje me lembro de meu Pai.
Se eu fosse poeta desenharia um poema, mais ou menos assim:
O que é a vida se não um frenesim?
O que é a vida se não uma ilusão?
Eu sou sombra, ficção,
Um pouco nada de mim
E tu, grande, lutaste até ao fim
Como um guerreiro
Atrás do sonho de teres morrido assim:
Herói a tempo inteiro,
Pelo menos para mim.
Mas não sou poeta,
Nem assobiador,
Nem actor.
Sou assim,
Hoje recordei-me de ti, Mané,
E do meu Pai Antenor.
ps: meu pai morreu em 18 de Junho
Sanzalando
Sem comentários:
Enviar um comentário