Daqui a uns 100 anos eu vou saber ainda o teu nome, vou estar por aí, num algures, a falar-te. É, tenho uma voz dentro de mim que me diz isso e eu não sou de lhe contrariar.
Sabes, fecho os olhos e finjo que te vejo e te falo em palavras soletradas aquilo que te sinto, do que me arrependo de não ter mudado as coisas quando elas eram mutáveis e as palavras simples seriam o significado de grandes gestos. Como fui um pecador por ter-me calado em silêncios sentidos, em idiotices parvas e confusões estéreis.
Fecho os olhos e finjo que te vejo ao mesmo tempo que em audíveis palavras te peço desculpa num balançar de tempos perdidos em que o futuro era o momento presente. Quanta confusão misturei nesse tempo sem escolha.
Como posso apagar todo o perdido tempo que se evaporou em nadas e que sobrou em restos de cinza peneirada?
Daqui a 100 anos eu vou estar a soletrar o teu nome, por castigo de deuses.
Se jogar à bola no passeio, arrastando o reumático, arfando em asma e esbugalhando olhos miopes eu ainda saberei escrever o teu nome com o meu suor na parede do quintalão, na degrau da casa do Reis, onde tantas vezes brinquei no comboio miniatura, ou na porta trancada da velha Dona Maria estarei à espera que a velha filha dona Idalina se venha zangar do barulho que farei a andar.
Sei que depois deste tempo todo eu não te tiro o sono e não sei é se consegues ouvir a minha voz que deixou de ser a bonita voz do menino feliz.
Daqui a 100 anos eu vou estar num algures por aí a fazer te lembrar que não é permito me esquecer.
Sanzalando
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