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15 de novembro de 2013

59 - Estórias no Sofá - filósofo de trazer por casa

Hoje me sentei na mesa do café com um amigo que é daqueles que desde que acorda até na hora de dormir que nem máquina de vapor, tem paleio para dar e vender. Lhe conheço desde os tempos dos calções do dia a dia, dos nonkacos e dos cigarros fumados às escondidas para parece é homem de barba que ainda não nasceu. Lhe comecei a ouvir.
Eu me sento na vida e desconsigo saber quando é que a minha estória vai passar de esquecível para inesquecível. Eu sei só que tem pedaços dela que são. Pelo menos para mim. Mais não importa. Não sou bonito e também não sou feio e acho estudos científicos já mostraram que isso é relativo, subjectivo e se eu fosse filósofo de verdade eu acho que até acrescentaria que era uma desnecessidade pensar nisso. Não sou rico no dinheiro contado, mas sou rico noutras áreas que não interessa aqui mandar a despacho. Simples sou e se perguntassem o que eu acho mais importante, mais valioso, mais fundamental etc e tal, eu diria assim num quase sem pensar que era a mulher dos meus sonhos, a mulher da minha vida. Mas na verdade acho eu não ia ser honesto a esse ponto e se calhar dizia outra coisa qualquer que nascesse num sem pensar mesmo.
Fosse eu filósofo e justificava a minha primeira afirmação, num perentóriamente errado porque, sendo triste, porém verdade, o amor tem dias que se perde a fé nele. Os humanos são ingénuos porque acreditam no amor que querem acreditar e isso num espaço temporal limitado até que é bonito, cheio de florinhas e luzes cintilantes. A gente mistura fantasia no amor e dá uma salada de filmes, livros e realidades, temperados com gargalhadas, sais de raiva e ervas de morte.
Eu, Joaquim Felício das Naves, filósofo de trazer por casa e até aos anexos, não acredito na estória daqueles que se encontram num deserto da vida, se olham e logo ali tem uma seta atirado pelo tal de esculpido e afirma é o amor da minha vida. Não estou a dizer que é impossível. Eu só estou a filosofar se eu fosse filósofo de verdade. Não sei em qual olhar é que acontece o tal de amor. Ao décimo oitavo? Sei lá. Eu acho que ele aparece quando se pensa que ele não vai aparecer. O amor é como aquele convidado da festa, aquele especial. Chega atrasado. Mas dizem que vem sempre. Outra verdade absoluta que eu desconsigo de aceitar assim numa primeira e também segunda impressão.
Aqui o Joaquim das Naves, Felício para os amigos, só sabe que ninguém é de ferro e tem conhecimentos para dizer que dói cair na ilusão e se levantar duma qualquer fantasia. Por isso sei, de saber lido, que solidão se escreve ao acordar sozinho na rotina. Mas também sei que amor não é bóia de salvação nem opção de sobrevivência. Eu posso dizer, agarrado nos conhecimentos adquiridos nos livros lidos nas estantes da imaginação, que quem pensa que o amor é eterno e depois chora lágrimas vai passar uns tempos em que a sua vida não é vivida mas apenas um passar tempo. Acho estou no cinema a ver a vida a passar e apetece gritar à garina ou ao galã que lhe faz falta alguém para brigar, alguém que pinte o cenário de cores diferentes em cada dia que passa.
Eu reafirmo que felicidade não é apenas uma palavra e amor não é só dor e decepção. Atenção que eu estou a falar-vos com conhecimentos adquiridos nas mais importantes bibliotecas do mundo e arredores. 
Eu, Joaquim Felício das Naves reafirmo com toda a propriedade que a solidão deve ser vivida pelo menos em duas partes iguais.
Cansado me levantei do café e tinha esquecido porque é que eu tinha nascido. Quim das Naves Espaciais, homem maduro agora era igual ao kandengue, falava que nem letras comia. Com o tempo se lhe gastou o cabelo que os que sobraram eram raros muito brancos que nem neve, as rugas marcadas pelo sol dos dias passados nos bancos vadios dos jardins publicos e reforçadas pelos desencontros de amor nascidos nos esquecimentos.



Sanzalando

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