Deixei arrefecer o café. Não acendi um cigarro porque faz tempo deixei de o fazer. Mas continuo aqui nesta incontrolável vontade de soletrar palavras até que um dia eu as consiga escrever na forma e no jeito que devem ser escritas. Saberão a saudade, nostalgia, dor ou alegria? Não sei, ainda aqui estou insuportavelmente a lembrar-me de fechar a sete chaves a minha memória e talvez assim deixar de soletrar as palavras que não me dão de comer mas muitas vezes de chorar.
Pego noutro café, bebo dum trago como se ele fosse a alegria que não quero deixar arrefecer outra vez. Me sinto em paz mesmo que sinta que que vou apagando aos poucos o brilho dos meus olhos. Não quero virar oposto nem ter o desgosto de te dar um gosto que goste. Não quero esbarrar na rua com memórias sombrias feitas possas de nadas, calcetadas de mentiras e pintadas de falsas alegrias.
Se eu tivesse um cigarro desfazia-o na ponta dos dedos como se ele fosse uma mentira de verão, uma máscara de ilusão ou um truque de magia.
Aqui estou eu a soletrar palavras num solilóquio de desgraça, num mar de lágrimas como se estivesse tentado a vender-me por troca duma compaixão.
Não, estou mesmo só a treinar palavras, frases, virgulas e reticências para me esquecer doutras incontinências verbais.
Esquecer não é de facto tarefa fácil.
Sanzalando
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