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28 de novembro de 2013

sentimento, palavra

Olhei para todas as palavras que um dia eu possa ter escrito. Contei uma a uma e desisti às tantas porque a palavra que mais devo ter escrito era a que se lê: sentimentos. Assim mesmo, sentimento! Foi aí nesse instante que eu dei comigo a dizer que o humano não pode ter saudade do que nunca teve. Olhei em frente e fiz a cara de maior espanto e deduzi que deve ser loucura sentir alguma coisa do que não se teve. Se não teve não perdeu, portanto esse tal de sentimento saudade e absurdo. Maior espanto ainda acabei por fazer depois ao pensar que eu tinha pensado tanto.
Voltei às palavras mas o pensamento ficou a esmurrar no dilema e a dizer que à noite ia ficar sem sono a tentar perceber essa minha descoberta. Como posso sentir alguma coisa que não sendo minha eu nunca posso saber quando a perdi porque não a perdi de facto? Compliquei-me, disse em voz alta já saturado de mim. É o mesmo que eu sentir falta do futuro. Como posso sentir falta dessa coisa que eu não sei se existe ainda?
Acho que nunca pensei tanto como penso agora por causa da palavra sentimento.
Eu não tenho sentimentos, eu quero dormir à noite.
Eu posso ter saudade do que nunca tive, porque essa coisa que nunca tive ao certo já me teve a mim.
Virei para o lado e adormeci.


Sanzalando

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