Tento ler cada palavra que penso, num modo de não dar erros de imaginação ou ter interpretações rasuradas. Custa apagar a primeira impressão, mesmo que as tintas não sejam à base de chumbo ou coisa que lhes valha, quando gravadas na memória. É só mesmo necessário abrir os olhos e perceber que dentro de nós estão armazenadas também coisas boas, existem prateleiras cujos arquivos sentimentais não precisam de motivo nem os desejos de razão.
Tento ver onde pára a felicidade, se em palavras, se em acções ou qualquer outra estação onde o bilhete me possa levar lendo nas linhas que o descarrilamento seria mero acidente e coisa rara nos tempos de hoje.
Tento ver em cada palavra se não há rancor, dor ou outra coisa pior que não amor. Tento seguir em frente porque sou fraco, fraco o bastante para não conseguir ter ódio dentro de mim.
Tento ler as palavras que não escrevi com medo de chorar amores perfeitos que murcharam num jardim de primavera.
Tento ver as letras de cada palavra e ver se existe uma estação que se chame AMOR.
Paixão, ódio, saudade, sexo, ajuntamento, casamento, desejo, ganância, são afinal comboios que param na mesma estação.
Tento ver se existe um apeadeiro que não tenha mapa, nem linha, nem erros de imaginação, nem leve a interpretações rasuradas ou mesmo apagadas por uma borracha de má qualidade.
Tento apagar da memória as palavras tatuadas por agulhas imperfeitas de mau feitio.
Sanzalando
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