Ainda vai fazendo sol e eu não sabendo que rumo vou tomar aproveito o tempo vazio para olhar para o zulmarinho e meditar. É presente, é passado e quanto eu desejava que o futuro fosse.
Recebo fotos da minha terra, daquela onde ficou a minha placenta e da outra onde esfolei muitos joelhos e chorei os meus primeiros desamores. Uma trazem comentários outra apenas a imagem. Gosto de ver que há mudança ao ponto de quase de quase chorar quando não a vejo. Piorou, melhorou? Não sei e nem quero responder. Quero é mudança, sentir vida.
Vejo fotos de gente cabeluda, de calções e sem ter nascido a barba e sinto uma nostalgia que quase parece doença. A barriga cresceu, a cara deixou de ter a pele esticada e para vestir camisa de gola alta parece tem de enroscar porque as rugas assim obrigam. É a vida e o meu presente é feito sobre esse passado. Eu estou aqui e ponto final. Tornei-me num homem bonito, pelo menos para mim. Penso, sinto, existo, pelo menos para mim.
Na verdade o conceito idade sem foi um tema inalcançável para mim. Acho nasci adulto e tenho-me acriançado ao longo dos tempos. Nasci e cresci feito e fiz-me um adulto lindo, psicologicamente letrado. Sempre tentei modificar as misérias do mundo e nas asas do tempo fiz um templo para o meu futuro.
A minha juventude foi fervente, acompanhei as inovações, tropecei na internet, caí no podcast, deixei de urinar contra as paredes porque transformei e mudei-me para levantar dinheiro, já não preciso falar marcar um telefonema para daqui a dias e na hora falo com qualquer parte do mundo. O cheiro da gasolina é substituído pelo silêncio dos carros eléctricos. Eu cresci com todas essas inovações e não deixei de lado os meus sonhos juvenis. Não perdi a vida que deixei por insatisfação, mudei-a. Lá no fundo há uma ou outra cicatriz de fracasso, uma tatuagem do meu passado. Já o meu corpo não tem a verticalidade de adulto jovem, já começa a mostrar a curva como que a dizer que qualquer dia a terra me vai sugar, por mais que a contrarie. Não tenho a alma vazia porque tenho a alegria e o medo do meu passado, as vitórias e derrotas que bateram à minha porta. O tempo parece ser veloz enquanto adulto porem ele tem o mesmo tempo de outrora, eu é que demoro mais tempo a ocupá-lo.
Eu fui aquele que vagabundou pela cidade quadriculada dum passado remoto e sorri como se fosse hoje. Eu sou aquele que vagabundou até se tornar gente, sem ter que se por em bicos de pés e ser cumprimentado como gente séria que só conhecia dos jornais e revistas.
Hoje, num dia assim, me perdi nas palavras que um dia vou repetir não sei nem porquê nem onde. Eu sou assim, mente vazia e aconchegada.
Sanzalando
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