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31 de maio de 2022
com o passar do tempo
Com o passar do tempo verifico que certos lugares já não nos regeneram e por vezes sentimos que já não queremos estar ali. É assim mais ou menos como não ter o controlo, é saber que nada mais vai sair como imaginamos. Naquele ponto somos apenas passado. É preferível raciocinar, rever, repensar e mudar de lugar. O mais importante antes de nos causar dano, mudar de lugar, renascer e recomeçar.
Com o passar do tempo crescemos e amadurecemos e merecemos muito mais.
30 de maio de 2022
pensamentos imaterializados
Sento-me a ver o mar. Palavras ondulantes em parágrafos de calema. Medito. Cada silaba tem o seu peso específico. Cada palavra tem a sua reacção. Cada frase um propósito.
Vendo o mar pergunto-me se alguma vez eu tive a sensação de ser uma das minhas personagens? Existo ou sou um mero acto de pensamento?
Será que eu podia ser espectador de mim?
Bolas, dá trabalho trabalhar com pensamentos imaterializados.
29 de maio de 2022
transparecer
Nestes caminhos por onde percorro as minhas palavras, minhas ideias e até o meu retrato mental, sinto necessidade de me transparecer. Pouco importa a roupa que visto, a maneira que ando ou as palavras que uso, umas mais carregadas e outras leves e tons pastel, porque as minhas palavras têm a cor do que penso, a forma como me dispo perante mim, a carga com as minhas razões e contradições. As minhas palavras não me fazem sentir mal nem pensar por outra cabeça que não a minha. Talvez seja resultado de ter-me trabalhado ao longo de tantos anos, ao ponto de um dia conseguir caminhar nos meus silêncios e sentir-me igualmente transparente.
28 de maio de 2022
vou tentar
Vou tentando superar-me para ver se aprendo a magia de vagabundar-me pelos caminhos da minha infância, com a inocência que tinha então. Viver a magia da inocência, sem filtros aprendidos ao longo do caminho feito depois.
Amei-me num processo que demorou pelo menos duas décadas, onde aprendi a chorar de amor, onde sarei feridas feitas por acasos mal definidos e que deixaram cicatrizes que o tempo não escondeu. Essas agora não doem como doeram nas noites de morrer de amor, mas eu agora as queria sentir e revigorar novos amanheceres, acordar com novas sensações, relembrando-me cada pormenor, cada rosto, cada sorriso, cada carícia, cada gesto. Eu não queria que o esquecimento me levasse a um patamar de passado sombrio.
Vou por aí aprender como que por magia a recordar-me de passados sem nostalgia nem melancolias
27 de maio de 2022
silêncios
Tem dias me apetece caminhar sobre a melancolia para dar descanso no caminhar de amor. Mas não me inspira, não me dá prazer e parece triste mesmo que não o sinta. Na tristeza vaga as palavras se afundam e só param na tristeza profunda. Assim, agarrando essas tristes palavras, pinto-as de cores garridas, enfeito-as com sorrisos e gargalhadas e parto em busca de caminhos solarengos, brilhos coloridos e a tristeza se dilui em cada silaba,
É difícil suportar a tristeza. É fácil alimentá-la. Há que contorná-la.
Palavras garridas, memórias floridas, sonhos coloridos e tons alegres nesse passado, transformando-o num sábado de festa, num domingo de praia, num pic-nic de verão.
Hoje vou só caminhar por aí, rua abaixo e acima, faz de conta desencontrei-me com as palavras e fiz-me silêncio.
26 de maio de 2022
fazer mais o quê
É curioso como é que eu para caminhar tenho que deixar qualquer coisa para trás. Deixo tempo e caminho. Tudo que é fundamental vai ficando para trás. Para a frente encurta-se o tempo que paulatinamente fica para trás. Não o choro nem o lamento. Apenas constato. Eu não sou um lugar. Esse também fica para trás. Eu posso ser uma recordação. Sou uma recordação do meu passado. Posso ser um sonho. Sou um sonho do meu futuro.
É a vida e vamos fazer mais o quê?
25 de maio de 2022
caminhando
Caminhando nesse caminho longo, que me é curto, penso que às vezes preciso reconstruir-me, reedificar-me, requalificar-me. Não é inconformismo, nem despudor, nem vaidade ou seja o que for. Quantas vezes dou comigo a dizer-me que não é possível ser assim tão fácil. Deve haver um erro mental, julgamento facilitado por falta de qualquer coisa. Os meus olhos veem, a minha mente sente e como poder ser fácil?
Olho para trás, muito lá para trás, e continuo a achar que o caminho tinha de ser este. Outro far-me-ia ser diferente e eu gosto de mim neste assim.
24 de maio de 2022
era mas ainda é
Quando eu era criança me diziam que quem morresse ia para o céu. Uma estrela era um desaparecido deste mundo. Eu acreditava e olhava no céu e tentava ver nas estrelas aqueles que eu sabia já cá não estavam. Hoje, ainda olho no céu, à noite, procuro ver nas estrelas aqueles que me lembro já cá não estão. Lhes falo baixinho contornando as palavras com doçura, polvilhando-as de carinho e saudade pois passei a acreditar que aqueles que partem deste mundo passam a morar no nosso coração, na nossa memória e por consequência na nossa vida.
23 de maio de 2022
vagabundo sim, mas
Vou só caminhar por aí faz de conta sou um caminhante de passagem, daqueles ninguém sabe quem é, nem para onde vai, nem quem foi e ninguém quer saber. Vamos me chamar o vagabundo desconhecido. Faz conta eu sou ele. Vamos esquecer eu tenho passado e estou vivo agora. Vamos esquecer a vida é um ciclo, que cada ciclo tem etapas, que cada etapa tem momentos. Vamos esquecer tudo, incluindo que eu sei que sou o vagabundo desconhecido.
Desconsigo deixar de ser eu, o que sou, porque cada instante me fez o que sou agora. Nada se repetirá nem tudo se dissolve no tempo.
Sou eu com tudo o que trago. Vagabundo sim, mas não desconhecido!
22 de maio de 2022
revivendo de memória
Á frente da Casa de Saúde estava a casa dos 'Martinzes'. Se lembram?
Tinha 2 figueiras enormes que davam figos verdes, de pingo que parecia mel, que só de me lembrar até parece me babei outra vez.
Quem nunca lá os foi gamar, da minha geração, das anteriores e das posteriores propriamente ditas?
E as castanheiras que estavam na mesma rua? Quem foi que não atirou pedras nelas para comer os castanhas?
Quem foi que levante o braço que eu daqui estou a ver? Desconsegui de ver um braço no ar. Mentira. Eu vi um braço no ar. Meu amigo Rui Miranda. Se lembram dele? Pois é. Esse nunca foi lá, não. E o Corado foi? Ué! Tá claro! Esse puto era terrível! Só mesmo paciência com ele e grande dose de amizade.
Tem coisas mesmo fantásticas na memória da gente. Te lembras de ver o negro velho da casa (Domingos, não é?) a pôr a gente na rua com pau e a xingar parecia as figueiras eram dele?
Tem razões que só a razão explica, porque é que a galinha bebe água e não mija e eu me ponho aqui a explicar coisas que não têm como explicar. Aconteceram? Umas a gente caté fez bem e outras que até ainda tem vergonha na cara só de recordar.
Na esquina oblíqua tinha a casa do sr. Sopapo. Te encostas no muro levas com a mangueira de regar o jardim que vais para casa parece andaste à chuva. E o Volkswagen azul claro que estava ali perto estacionado era do Sr. Dr. Brandão. Gente fina e educada. Começas a subir essa rua e te vais dar com cada malandro que até parece eu ia inventar uma estória só para te contar. Leopoldo, guarda redes do Sporting era o mais pacífico porém acho não era o menos malandro. Jacaré? Oscarito, Jorge. Só nomes que as pessoas já só sabem de memória e eu nem sei estória.
Sanzalando
21 de maio de 2022
20 de maio de 2022
18 de maio de 2022
tem dias
Tem dias que me apetece voltar ao passado e refazer caminhos, não por arrependimento mas apenas para os fazer como deve ser.
Tem dias que me lembro que no pico das hormonas adolescentes eu queria lá saber das belezas naturais de lugares ou momentos...
Tem dias que recordo que por causas minor não fui a locais que hoje, com os olhos amadurecidos, tenho penas de os ver apenas em fotos ou filmes, não sentir o cheiro nem o clima e insectos...
Tem dias que penso que não dei o amor todo que tinha com medo de me magoar e agora, no peso da sabedoria, vejo mais poderia ter dado que não gastava.
17 de maio de 2022
não é suficiente
Me dou por aí a caminhar palavras de amor. Tento usar sempre palavras lindas e puras. Mas não é suficiente. Eu quero escrever frases bonitas, quero contar coisas lindas da minha estória mesmo que não reais, mas não é suficiente. Tem dias que os meus caminhos são lindos, rodriguilhos que saem perfeitos, mas não é suficiente. Tento um, dois caminhos, mas não é suficiente. É doloroso concluir que o meu melhor não é suficiente porque este mundo não tem melhoras.
16 de maio de 2022
eu gosto é de escrever
Vou por aí, folha de papel, rabiscando ideias e imagens como quem caminha por uma vida. Gosto de desenhar a vida através das palavras. Às vezes tem frases, metáforas e conceitos que fazem pensar ou sorrir. Dia ganho. Gosto de me passear por palavras mesmo que a vida não seja uma boa estória, mesmo que haja à minha volta uma arruada confusa. Passeio por palavras mesmo que me sinta uma mescla de sentimentos ou orientado em sentido lato. Já risquei palavras, apaguei caminhos só porque a vida não era assim tão bonita quanto eu estava a pintar nas palavras. Mas eu não escrevo a minha vida, eu passeio pela vida das palavras, mesmo que a narrativa não seja igual à realidade. Eu só gosto é de escrever mesmo que um dia eu tenha que pôr um ponto final.
15 de maio de 2022
69 - Estórias no sofá - ganancia e beleza
A ganância crescia cada dia mais um bom bocado e a sua essência passou a ser um lugar escuro e frio, uma cave imunda dum sub-mundo de trevas, sustos e outras cinzentas e obscuras sensações. O seu único objetivo era acumular riqueza sem olhar a como nem porquês.
Ela porém, cada dia mais linda e por outro lado irradiava luz que até iluminava o mais limpo dos dias. As suas palavras eram sucesso e o seu nome foi reconhecido, não só pela técnica com que pintava os lugares e as personagens, mas também por seu grande espírito altruísta e voluntarioso.
A Terra fez seu trabalho e acabou afastando as duas almas que até a certa altura eram gémeas, apesar de suas diferenças. Antagonicamente ao esperado continuaram a se amar como no primeiro dia, sem se falarem, sem se tocarem, nem mesmo com o olhar.
A vida de casal era um solitário caminhar para cada um. Um desencontro de almas agarrado pelo profundo sentimento do amor.
Mas a vida na terra tem destas coisas e ele faleceu com um coração emaranhado e uma aura sombria. Destinado ao inferno fatal, aqueles fogos intermináveis de sombras e gritos dos contos infantis de outrora. Nunca se lhe viu arrependimento de suas ações.
A única coisa boa que restava nele era aquele imenso amor que sentia por aquela doce menina das letras e parágrafos de doçura intelectual.
Muitas das suas promessas ficaram por se cumprir e muitas transcenderam além da morte, na memória dos prejudicados, dos infelizes cruzamentos na vida com tal personagem
Ela continuou a sua pontualidade e com desejo ardente esperou pela vez dela rumar ao infinito tempo. Recordava-o todas as manhãs mesmo sabendo que ele não iria tocá-la, não iria beijá-la e poucas vezes lhe dirigia a palavra. E ela não podia tocar-lhe a farta cabeleira, afagar o seu rosto numa carícia que fazia anos estava presa no seu gesto contido.
Como ela sentia falta dele, perdoou-lhe todos os seus erros; ela imaginou-o a beijá-la na testa, a olhar-lhe nos olhos, a sorrir-lhe. Ela só sentiu o gesto, sem sentir o calor daquele beijo que não ultrapassava a sua capacidade imaginativa.
Uma verdadeira história de amor de dois mortais incompatíveis, que sem dúvida haviam superado a barreira do tempo e do espaço.
Para ela todos os dias eram um 14 de Fevereiro, mesmo que o céu amanhecesse tingido de cinza, raios e trovões. Mesmo com a morte dele, sobrevivente loucura, continuava a ser o seu dia 14.
Ela, com todos os anos à frente, levantava-se da cama para ir ao lugar onde selou o pacto com o amor de sua vida.
Sentada sob uma mangueira e protegendo-se da chuva torrencial com seu guarda-chuva vermelho ou dos intensos calores de verão com a sua sombrinha rendilhada, ela honrou aquele pacto de amor sabendo que ele não chegaria, que não sentiria os seus beijos e suas palavras nunca lhe seriam dirigidas.
Um dia, seguindo a habitual ritual, sentou-se e esperou, porém tirou do bolso uma folha de papel milimetricamente dobrada onde na noite anterior, havia escrito um poema.
Ela começou a lê-lo e de repente o céu parou de chorar e um sol tímido se deu a conhecer. Não havia tempestade tropical nem calor infernal perante tanto amor.
O vento começou a soprar dando vida à natureza novamente, os ramos dançavam suavemente e olhando-se de longe parecia a mangueira estava a dar pulos de contente.
Ela deixou a página com o poema no banco e fechou os olhos como que a deixa-se embalar pela musicalidade das folhas. Quando ela os abriu, a mangueira reluzia mais que a luz dela e ele estava lá, sentado ao lado dela, olhando para ela com a alma nas mãos.
Um beijo caloroso selou o encontro e eles se levantaram e numa verticalidade surpreendente subiram para lá dos céus e até hoje ninguém mais os viu ou os ouviu.
13 de maio de 2022
era um março
Era um março qualquer do século passado, na minha pequena cidade quadriculardamente desenhada numa margem do zulmarinho, num início de deserto, estava eu sentado num banco do jardim, de baixo dum caramanchão de buganvílias, com um pequeno canivete, escrevi os nossos nomes no encosto desse banco de madeira pintado.
Era adolescente. Eras adolescente. Acho que eu havia te prometido amor eterno. Acho tu nunca ouviste essa minha promessa. Fazia anos que eu te prometia tal odisseia, sem que o soubesses pela minha boca. Aquele banco era a nossa aliança. Não tinha dinheiro para ir no Moreira comprar aneis, era mesmo uma eternidade gravada no encosto dum banco de madeira da avenida. Os anos iam passando e lá estava o Março gravado naquele banco. Ano após ano. A voz amadurecendo, a adolescência se instalava com toda a sua pujança hormonal, a paixão atingia o cume e aquele banco de avenida era a sua única testemunha.
Na verdade a Terra continuou a girar, as vidas previamente desenhadas foram alteradas, os caminhos descruzaram-se, a paixão foi-se diluindo nos minutos passados longe, o quadro foi-se modificando ao ponto de já nada ser parecido ao originalmente idealizado.
O banco continua no jardim, o caramanchão continua a ser de buganvílias, eles se desencontraram de um encontro que nunca tiveram.
12 de maio de 2022
vou
Ai vou eu passeando os meus pensamentos, as minhas ideias e aversões. De quantos remendos, alinhavos e defeitos é feita a vida? Incontáveis. Porque é que eu queria ser perfeito? Mesmo incompleto eu me sinto um todo. São estes os meus passos. É este o meu passeio.
Vou só por aí caminhando feito eu na minha.
11 de maio de 2022
palavras para futuro
Por palavras e frases vou caminhando, tantas vezes em calma e outras à procura dela. Na palavra caminho e cada palavra que escrevo ou digo me levo ou me elevo. Às vezes parece atingi o céu por tão bem que acho que escrevi; outras vezes chego ao inverno nas quentes palavras que enraiveci e as gravei num caderno mental de amargura.
Nas palavras e frases que vou rabiscando escondo insónias, tristezas e alegrias, que o silêncio da noite parece realçam e não me deixam dormir o sono da tranquilidade e sossego.
Nas palavras cobro o meu futuro porque não as levo comigo.
10 de maio de 2022
só por aí
Vou só por aí caminhar, como quem passeia pensamentos, como quem quer ter tranquilidade na sua passagem para qualquer margem.
A partir do momento que eu declarei que me gostava, todos os meus passos seguiram nessa direcção, os dias de sol parece são dias leves e brilhantes, os de chuva cinzentos e pouco pesados. Os meus caminhos, íngremes ou planos, foram percorridos no meu passo firme e calculado sabendo que o faço em tranquilidade física e mental. Trago comigo boas energias, reciprocidade e quem sabe transmitir alegria.
Vou só por aí, sorrindo.
9 de maio de 2022
tatuando-me
Me sentei num banco de madeira da velha avenida de chão de areia vermelha que não faz lama quando chove e até parece fica mais dura. Não sei onde lhe foram buscar, mas acho foi boa ideia. Mas também não estou aqui para engenheirar nem filosofar sobre a chuva na falta dela. Estou mesmo aqui, no banco de madeira da velha avenida para te dizer que qualquer dia eu saio sem destino, paro num sítio qualquer, onde eu me vá sentir bem, agradavelmente bem e desato a escrever sobre ti, sobre nós, sobre os tantos significados que me apresentas. Num resumo, eu te vou gravar em mim, te tatuar na minha essência numa forma de nunca mais te apagar mesmo que a memória já não seja a minha.
Assim eu vou ter a certeza que em altura nenhuma eu me vou esquecer de ti e do quanto tu me fazes falta, de tudo o que aprendi em ti, dos sorrisos que dei em ti, dos amores perfeitos que me apaixonei por ti. Jamais me esquecerei dos meus falecimentos por amor em ti. Quantas vezes morri de amores no teu solo? Quantas vezes me entristeci por descorresponências amorosas no teu chão?
Aqui sentado num banco de madeira da velha avenida de chão de areia vermelha, eu lamento que não tenha gravado em lado nenhum o meu nome em ti, como se fosse a tua tatuagem de mim e que fosse o elo para não me deixares partir as vezes que parti.
Sanzalando
8 de maio de 2022
7 de maio de 2022
ao correr do tempo
Vou por um aí qualquer. Vou tentar não ir à pressa. Tenho a mania de andar a correr, mas não é por falta de tempo, é mesmo só para ter mais tempo. Às vezes apenas para descansar e outras tantas para pensar. Por isso penso que me falta tempo. Dilema temporal. O tempo é-me finito mesmo que eu não tenha nenhuma noção do tempo que tenho. O tempo não está ali estirado aos meus pés. Tenho de o procurar e por isso caminho por aí, sentido qualquer.
Já foi Março e um dia destes será Agosto. Fui nas Festas do Mar e agora irei nas da Senhora do Monte. No meio se foi o tempo. Um tempinho é tempo.
Os dias, as semanas e os meses passam e eu com ganas de os travar. Os que me faltam vão-se diluindo nos que foram. E eu ainda tenho, ou quero, caminhar nuns tantos aís.
6 de maio de 2022
5 de maio de 2022
deixa só
Deixa só ver mais este nascer de sol. Já agora espera eu veja o mais lindo pôr do sol. Deixa só eu viver um dia de cada vez até ser mais velhinho, na lonjura dos tempos. Deixa só eu deixar crescer mais esta saudade dos tempos de criança, porque eu ainda a sinto pouco. Deixa só eu ser velhinho e de já não me lembrar nem o nome e aí eu vou para a outra dimensão de sorriso feito.
Deixa só eu continuar a fabricar os meus sonhos, a viver as minhas fantasias, a crescer na minha rua que um dia eu inventei ela era minha. Deixa só eu esquecer os dias trágicos, que imagino os há, para eu ter tempo de partir livre e solto como uma nuvem.
Deixa só eu escrever mais umas estórias soltas e outras palavras vadias, ao deus dará e depois me deixo levar pelo karma das indirectas ditas em surdina.
4 de maio de 2022
Morros Azuis
Hoje me apeteceu caminhar, de imaginação em imaginação, até aos Morros Azuis da minha meninice. Se diga eu é sitio onde nunca fui mesmo na realidade da vida, embora muitas vezes me tenha imaginado a caminhar deserto fora até eles. Mas me disseram que parecia mais perto do que eram e então eu não me atirei a essa santa loucura. Hoje me fui recordar disso, sinal que o tempo passou mas a memória não.
Deve ser esta sensação de querer fugir, mesmo sem saber para onde, sem ter uma alternativa, um plano b, uma mais pequena ideia de onde e porquê. Apenas porque me sinto mais um perdido nesta multidão e que parece cada vez mais me perco.
Olhando-me no espelho já não me reconheço, embora a confusão entre mim e eu se mantenha inalterada ao longo de tantos anos quantos eu tenho.
Nos morros azuis eu devia me sentir eu, penso. Ou os Morros Azuis não são o que eu sempre imaginem fossem.
Nos Morros Azuis eu sei que não tem mais a gente que eu fui, não tem mais o meu passado, nem escrito nem memorizado nos arenitos das grutas que imagino lá tem.
Hoje me apetecia ir nos Morros Azuis apenas porque sim.
Sanzalando
3 de maio de 2022
tem noites
Tem noites que são mais compridas que outras. Mas também tem noites bem curtinhas.
Nas primeiras o pensamento passa revista a uma vida. Coisas boas e más, recordações e saudades, alegrias e tristezas. Numa palavra: vida.
Nas segundas o sono parece até foi curto que nem deu tempo para o corpo descansar.
Vamos fazer mais como o quê com a vida?
Nas primeiras, a insónia invade o quarto e as noites se tornam tão compridas que os pensamentos percorrem todo o trajecto da vida que nem param para deixar uma mente em paz, revoltando-se em ideias que faz até parece um filme de cujo final não sei foi feliz porque ainda não acabou. Nas noites assim até dá para pensar que estou a envelhecer e o tempo vai faltando pelo que não vale a pena perdê-lo a dormir.
Nas segundas, qual jovem, as noites curtas de sono solto e profundo que um gajo até acorda parece é aquele miúdo que não tinha pensamento de um dia ser mais velho.
2 de maio de 2022
ouvir
Ouvir estórias para crescer. Ouvir estórias para adormecer. Ouvir por cultura. Ouvir o mar para descansar. Ouvir. É tão bom saber ouvir e sabe tão bem.
E não é que ouvi dizer que não há nenhum coração tão duro como aparenta ser?
E ouvi também que a gente precisa ser impar para poder formar um bom par com alguém!
E assim pareceu-me ouvir que chovia e não aconteceu.
Ouvir é também um acto de coragem.
Será que conseguirei falar para alguém me ouvir? um dia eu vou tentar
1 de maio de 2022
Dia da Mãe
Pedalava eu pelos caminhos de pensar, para esquecer que o mundo é mundo e outras coisas mais, quando me entrou no ouvido um sussurro a dizer que hoje é Dia da Mãe. Já não é no oito de Dezembro.
Mas o que eu sei porque ainda tenho memória e não sou de fazer de conta é a fingir, é que antes de lhe levarem para um canto inesquecível da minha memória, eu lhe fiz doer a cabeça, lhe acinzentei muito cabelos que ela teimosamente pintava para não me assustar com o tempo que passa, lhe provoquei lágrimas de dor de alma, lhe tirei sonos que mais que ela merecia.
Todos os dias eram dia da Mãe, porque quando não lhe fazia nada disto, eu lhe fazia rir de coisas sérias que eu não brincava, lhe alegrava o ego de ir mais além do que ela mesmo tinha imaginado, lhe provocava um babar de satisfação quando por portas e travessas alguém lhe era simpático e lhe me elogiava. Todos os dias eram Dia da Mãe, da minha Mãe.
Depois, cansada de coração fraco, torturada de não ser feliz nos últimos anos porque o chão que lhe segurava os pés não lhe pertencia, lhe levaram num dormir que não deu em acordar e lhe repousaram num canto inesquecível da minha memória, onde lhe trago em cada instante.
Um dia, Mãe, eu te vou levar onde tu foste feliz! promessa do teu filho, que por agora vai pedalando pelos caminhos sem rumo, sem tempo, sem fim, só para ir dizendo que a felicidade existe dentro de cada um.
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