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13 de maio de 2022

era um março

Era um março qualquer do século passado, na minha pequena cidade quadriculardamente desenhada numa margem do zulmarinho, num início de deserto, estava eu sentado num banco do jardim, de baixo dum caramanchão de buganvílias, com um pequeno canivete, escrevi os nossos nomes no encosto desse banco de madeira pintado.
Era adolescente. Eras adolescente. Acho que eu havia te prometido amor eterno. Acho tu nunca ouviste essa minha promessa. Fazia anos que eu te prometia tal odisseia, sem que o soubesses pela minha boca. Aquele banco era a nossa aliança. Não tinha dinheiro para ir no Moreira comprar aneis, era mesmo uma eternidade gravada no encosto dum banco de madeira da avenida. Os anos iam passando e lá estava o Março gravado naquele banco. Ano após ano. A voz amadurecendo, a adolescência se instalava com toda a sua pujança hormonal, a paixão atingia o cume e aquele banco de avenida era a sua única testemunha.
Na verdade a Terra continuou a girar, as vidas previamente desenhadas foram alteradas, os caminhos descruzaram-se, a paixão foi-se diluindo nos minutos passados longe, o quadro foi-se modificando ao ponto de já nada ser parecido ao originalmente idealizado.
O banco continua no jardim, o caramanchão continua a ser de buganvílias, eles se desencontraram de um encontro que nunca tiveram.

Sanzalando

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