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28 de julho de 2022

telefones e a minha rua

Todas as minhas ruas têm estórias para contar. Umas sei e outras não. Umas me contaram outras ainda não e tantas mais que nem me passam pela cabeça. Se na minha adolescência as minhas ruas eram poucas, na adolescência do meu avô nem quero nem pensar. Mas estou certo tinha muitas estórias que não me contou. Os meus tios têm as suas estórias. Os amigos têm as suas estórias. Que estória me falta contar das que sei? Deslembrada memória que me falta... 
Todas as minhas ruas vão dar a um porto seguro. Em todas as ruas eu tinha um abrigo, um amigo, uma família. Que pena eu não ter dado mais importância às minhas ruas quando brincava nelas. Se tinha tamarindos eu me lembro. Se tinha castanhas também e figueira nem se fala. Mas eu queria lembrar todos os amigos e ia fazer uma lista parecia a lista dos telefones do tempo em que não havia lista a não ser a escrita no livro do meu avô. 
- Bom dia. Faça-me o favor de me ligar ao 200.
Cortesia e os CTT faziam a ligação. Simpatia no serviço tantas horas tem o dia. Ou então era pedir para ligar para a casa do Sr. X e a ligação de pronto era feita. Uma estória contada ao telefone não era a voz corrente porque ele não servia para essas mundanas fofocas. Era um utensilio de utilidade e não de diversão. Às vezes servia para uma ou outra brincadeira, diria agora de mau gosto. Mas na altura era um alegre adolescente irresponsável. Mas as senhoras do CTT faziam a ligação pedida... Mas quase sempre era apanhado, mais dia menos dia lá vinha a reprimenda muitas vezes escondida num sorriso de quem também tinha achado piada, apesar de tudo. 
Todas as minhas ruas tinham nome, todos os nomes tinham uma rua. Ficaram na memória os que deixaram as minhas ruas e partiram já para parte incerta.


Sanzalando

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