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30 de março de 2005
Prisões 15 - REALIDADE ponto dois
carranca
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Mantendo a Realidade Hoje, 20:30
Forum: Conversas de Café
É isso mesmo, manter-me na realidade, no momento real e continuar a escrever sobre a Realidade.
- Mas porque é que hoje não varias?
- Porque não me apetece!
Será que existe uma escala de realidade e ninguém teve o cuidado e amabilidade de me avisar? Qual é a medida? Número de gindungo? A realidade de um amigo rico pode atingir 3 graus na escala gindungo; a de um mendigo, 8 graus. Logo, a realidade do mendigo é mais real que a do meu amigo. É isso ou será outra coisa que não entendo mesmo nada?
Qual das duas realidades é a vencedora? Existe uma que é certa e outra errada? Por que ninguém diz que alguém está dentro da realidade? Isso quer dizer alguma coisa?
Um conselho: se alguém, algum dia qualquer, acusar-te de viver fora da realidade, em geral é porque te estás a divertir demais. Mande-os todos à trampa e continua a fazer o que estavas.
As realidades são muitas, todas igualmente válidas. Cada um vive a realidade que pode. O meu amigo rico tem lá os seus muitos defeitos, mas está a viver a realidade dele, a realidade para que nasceu ou fez por isso, uma realidade que é tão válida quanto qualquer outra. Dizer que ele vive fora da realidade é dizer que a vida dele não é válida.
Mas que devia ele fazer? Dar tudo para a caridade e entrar para um mosteiro ou seminário? Ou então qual é o problema? É que ele está a gastar muito? Era para ele gastar até quanto? Quem é que determina esse limite? Se ele gastar até vinte mil por mês (do próprio dinheiro, claro), então ele vive NA realidade; se gastar mais que isso, ele vive fora da realidade? Como funciona essa regra? Será que existe uma escala também e esqueceram-se de me avisar?
Juro que não entendo.
E agora vais manter-te pela realidade? Sei lá!
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca
Hoje sem a loira geladinha
carranca
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Hoje sem a dita lora Hoje, 07:22
Forum: Conversas de Café
É manhã cedo, mermão, pelo que não te acompanho nas birras gelados e sonhos de cheiros e toques tropicais. Não, mermão, não deixei de ter o SONHO, simplesmente vou entrar agora nesta realidade de sonhar de que vou capaz de tirar um estômago num jovem angolano que veio de lá faz uma semana e para lá quer voltar dentro de quinze dias. Veio doente, com a mais vil e traiçoeira das doenças e ainda por cima na idade dele que não passa dos 40 anos. Mas, mermão, é preciso ter arte para 'enganar' o destino, é preciso ser-se também sonhador para viver esta realidade e ter esperança de se ser capaz e transmitir essa mesma confiança. Assim, mermão, vim ter estes segundos contigo para me descontrair e ter a capacidade de sonhar acordado.
Um bom dia para todos, na companhia de todas as loiras geladas que beberei depois.
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca
Prisões 15 - REALIDADE
carranca
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Prisão - Realidade 29-03-2005 17:54
Forum: Conversas de Café
Quando em tempos idos escrevi sobre a prisão medo, eu disse que ser feliz é um processo 100% interno. Só depende de nós.Vai daí alguém disse que não é bem assim. Que existe a realidade real, passe o abuso da escrita dupla. Que a realidade é dura. Que a realidade não nos deixa ser feliz. Se não foi aqui que disseram foi na mesa de um café qualquer durante uma amena cavaqueira.Foi muito bom ter ouvido essas barbaridades, porque me dá a oportunidade de barbarizar de vez. Sinceramente, a prisão medo ficou meio senso comum. Especialmente sem os exemplos, que não incluí ainda. Reli aquilo e pareceu-me algo que folheias num livro de auto-ajuda na FNAC e te esqueces em cinco minutos. Quase pensei em nem ripostar, o que seria coisa rara em mim, pois então. Mas também não vou deixar de me manifestar, só porque calha haver algumas opiniões minhas a colidirem com o senso comum. Assim como não falo barbaridades só para chocar, não vou me abster de falar plenitudes só porque não chocam. Dou minha opinião e pronto.Então, vamos lá. Tu dizes que a realidade não te deixa ser feliz? Que se dane a realidade! Que obrigação tens tu para com a realidade? A realidade já fez alguma coisa por ti?A tua obrigação é contigo mesmo, com tua felicidade, com tua realização de ser humano. Se não conseguires - ou puderes - resolver os problemas reais que impedem tua felicidade, ignora-os. Foje da realidade. Vira as costas à sociedade, fecha-te no teu mundo particular e sê feliz, do teu jeito, de acordo com as tuas regras. Quem disse que tens a obrigação de seguir as regras?Parece que virou moda viver a realidade nua e crua, morar em naves infectadas, ser perseguido por robôs, comer comida de plástico. Nada disso. Nada contra a corrente. Toma a pílula azul, cor de rosa ou às riscas mas não olhes para trás.A imaginação é uma arma poderosa. Sempre inventei estórias, tentei escrever contos e outras coisas não nomináveis. Quando me acusam de viver fora da realidade, eu respondo que não; só trabalho lá.Para começar, que realidade? Existe só uma realidade? Ou será que existe uma realidade certa e outras tantas realidades erradas? Se sim, quem decide qual é a certa e qual são as erradas?Realidade é que nem c u, cada um tem o seu. O mendigo que passa fome nas ruas de qualquer cidade está tão fora da realidade do meu amigo quanto meu amigo está fora da realidade do mendigo. Porque ninguém acusa o mendigo de estar fora da realidade? De que modo a experiência de apanhar restos de comida em caixotes de lixo e dormir ao relento é mais real do que ir ao 'coquetel' de um pintor famoso e depois pegar o concorde pra Paris? Pior, claro. Mais lamentável, com certeza. Mas 'mais real'? Por quê?
Se fôr real pode ser que volte a este tema.
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca
Uma carta que afinal não escrevi
carranca
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28-03-2005 16:06
Forum: Conversas de Café
Aqui estou eu sentado, mermão, agarrado a uma loira e a querer escrever-te uma carta. O sossego interrompido pelo xuaxar desse mar se espraiando preguiçoso na praia, o cheiro de marzia entrando no meu nariz, me faz que sinta mesmo preguiça de continuar a segurar no lápis e dar forma a letras que dariam a carta que eu te queria escrever. O estar aqui sozinho, perdido na lonjura da linha recta que é curva, saboreando gostativamente esta birra geladinha, gastando o pensamento em ti que estás lá bem no início desse zulmarinho, perto da conterra, em frente, do outro lado o avilo que segue com a calma dele mesmo, olhando o vento que estica a vela da sua Magia. Desculpa, mermão, mas hoje não te escrevo porque estar sozinho nesta planície de silêncio me está a saber que nem canja de galinha da minha avó.
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca
28 de março de 2005
Prisões 14 - Medo de Fantasmas de Felecidades Passadas
carranca
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Os Medos de Fantasmas de Felicidades Passadas Hoje, 15:07
Forum: Conversas de Café
Não sei porque resolvi voltar hoje aqui. Mas resolvi e como tenho a liberdade de voltar quando e onde me apetecer eis-me de volta. Não para contar estórias de faca e alguidar, de berços e alcofas, passadas na Quarteira ou na Carteira de uma escola cheia de medo pelo que anonimamente se passa de boca a boca, real ou monarquicamente vivida, pois para isso fico debaixo da Mangueira a ouvir as estórias dos mais velhos que tentam levar a Geração Espontanea para o sono repousante de uma noite bem dormida.
Assim, como em busca da liberdade libertária, perdendo medos, fugindo de conformismos apetece-me falar da FELICIDADE.
A felicidade só pode existir no presente. No futuro, ela é um engodo, é uma mera sorte ou azar. A felicidade no passado, quase sempre uma aflição, um aracnídeo tecido na sua própria teia, cego por dentro e por fora, ausente de si mesmo, sentimento sentido de forma deturpada por questões cerebrais amarelecidas nas rugas de pensamentos retrógrados.
Felicidade futura é uma das ferramentas mais reaccionárias e conformistas de todos os tempos. Em nome de uma pretensa felicidade eterna no paraíso, gerações e gerações se submeteram às mais desumanas tiranias. Em pleno século XXI, a quimera de uma boa poupança, casa própria e uma velhice tranquila também faz com que milhões trabalhem como mouros hoje, dando às suas vidas em holocausto a uma felicidade futura que pode jamais acontecer.Assim é terrível a felicidade passada, a memória da vida pretensamente vivida, caiada com a cal da aterosclerose a deturpar o que se viu, o que se ouviu e o que se sentiu.
sei lá se voltarei a este tema ou mesmo a este fio...
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca
Prisões 13 - Segurança Insegura
carranca
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Segurança insegura 27-03-2005 15:29
Forum: Conversas de Café
Apetece-me dar a volta e voltar para lugar nenhum. Assim, sabendo que até os meus erros estão descritos num compêndio qualquer, continuo a matraquear o teclado na vã esperança que ela goste do que escrevo. Pouco me importa...
Segurança é uma ilusão.
A segurança é-nos vendida como desejável para que nós nos estabeleçamos, compremos um imóvel, arranjemos emprego fixo, casemos com a namorada da infância e tenhamos filhos. Como se só se pudesse viver em segurança. Mas, pelo contrário, a vida é insegura e é incerteza mais certa que temos, os imóveis se desvalorizam, somos despedidos dos empregos, as mulheres largam-nos, os filhos roubam-nos o carro, desgastam-nos a carteira e somem quando menos se espera, ou pensamos que esperamos.
Quem acha que está seguro, está enganado. Quem acha que encontrou segurança, está só a piorar o baque que vai sentir depois. Eu aprendo a abraçar e aceitar a insegurança e assim eu tento viver.
se eu viver quando me apetecer voltar, voltarei.
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca
Oito da noite numa avenida movimentada.
O casal já esta atrasado para jantar na casa de alguns amigos. O endereço é novo, assim como o caminho que ela conferiu no mapa antes desair. Ele dirige o carro. Ela o orienta e pede para que vire, na próxima rua, àesquerda. Ele tem certeza de que é à direita. Discutem.Percebendo que além de atrasados, poderão ficar mal humorados, ela deixaque ele decida. Ele vira a direita e percebe que estava errado. Ainda com dificuldade, ele admite que insistiu no caminho errado, enquanto faz o retorno. Ela sorri e diz que não há problema algum em chegar alguns minutos maistarde. Mas ele ainda quer saber:
- Se você tinha tanta certeza de que eu estava tomando o caminho errado,deveria insistir um pouco mais.
E ela diz:-
Entre ter razão e ser feliz, prefiro ser feliz. Estávamos a beira de uma briga, se eu insistisse mais, teríamos estragado a noite.
MORAL DA HISTÓRIA
Essa pequena historia foi contada por uma empresária durante uma palestrasobre simplicidade no mundo do trabalho. Ela usou a cena para ilustrar quanta energia nós gastamos apenas parademonstrar que temos razão, independente de tê-la ou não. Desde que ouvi esta história, tenho me perguntado com mais freqüência:"Quero ser feliz ou ter razão?" Pense nisso e seja feliz.
AUTOR DESCONHECIDO
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca
Falar de futuro
carranca
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Senta mermão 25-03-2005 22:19
Forum: Conversas de Café
Senta, mermão, e vamos saborear uma e outras enquanto falamos do futuro.
Sabes, mermão, se agarras num livro de História vais lá encontrar os heróis e desconsegues de ver os anónimos que fizeram com que aquilo fosse assim, se é que foi mesmo.Manda vir umas mais porque vamos precisar de estar bem lubrificados para aguentar com o sarrabulho que vai sair só porque eu disse isso. Mermão, como fomos feitos num tubo de ensaio não sabemos a história, vivemos da estória e assim podemos continuar os sonhos que sempre tivemos, mesmo com pesadelos no meio.Bebe, mermão, que te acompanho na viagem mágica do sonho.
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca
25 de março de 2005
Prisões 12 - Gostar de quem não gosta de nós
carranca
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Não Ter Medo de Gostar de Quem Não Gosta de Nós Hoje, 21:57
Forum: Conversas de Café
Hoje estou com vontade de dar uma volta, ao texto e contexto. Assim utilizo a liberdade de ser libertário para variar e dar de novo o que não tinha pensado antes.
Bem, quem fala o que quer, ouve o que não quer. Eu falo tudo o que quero e já estou habituado a ouvir o que não quero. Essa ideia de achar que todo mundo tem que gostar de ti é a maior falácia. Haverá sempre um grande grupo de pessoas que te acha simplesmente um merdas ou um betinho, como me disse uma amiga por via de e-mail.
Sim, foi isso mesmo que ouviram: amiga. Quem me lê e ainda por cima me escreve é minha amiga. Em um dia, uns 15 novos visitantes, podem até ter gostado do que leram. Tudo bem que ela não vá muito com a minha cara, com o que escrevo, com o que sinto, mas isso nunca me impediu de considerar alguém meu amigo.
A propósito e como exemplo conto-vos uma estória que não aconteceu mas podia muito bem ter acontecido.
Estória boba de infância : estavamos, um grupo de crianças, a discutir qual dos pais dos amigos mais e menos gostavámos. Todas (eram só meninas, menos eu, um padrão recorrente na minha infância e adolescência) foram unânimes em escolher a Lucialina, mãe de uma menina que obviamente não estava lá, como a mãe de quem elas menos gostavam. E eu, sempre do contra, tinha dito que era ela justamente a minha favorita.
E as minhas amigas logo disseram: ela não gosta de crianças, não gosta de nenhum de nós.
Com isso, eu até concordava. Ela era diferente. Além de ser uma das poucas mães do grupo que trabalhava, ela era uma intelectual, escrevia livros, bebia café, não tinha realmente muita paciência para crianças e nem para o dia-a-dia doméstico da maioria das outras mães. Mas então eu não tinha entendido a brincadeira. Era para dizer o nome de quem nós não gostávamos ou de quem não gostava de nós?
Pronto. Fui gozado. Bobo, é a mesma coisa ! Óbvio que nós não vamos gostar de quem não gosta de nós!Fiquei em silêncio. Aquilo, aparentemente tão óbvio, nunca me tinha passado pela cabeça. Parecia-me terrivelmente pequeno e mesquinho não gostar de alguém só porque ela não gostava de mim. Não era motivo suficiente.
A maioria das pessoas espera ser 'amada' por todo mundo o tempo todo. Talvez por isso, quando encontramos alguém que não gosta de nós, ficamos tão chocados. Quebra uma das nossas expectativas sociais mais básicas
Se houver pachorra, depois de ler a carta do Paiva Couceiro à Geração Espôntanea, eu voltarei com este ou qualquer outro tema.
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca
24 de março de 2005
Prisões 11 - Medo e Monogamia 2
carranca
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Hoje, 14:40
Forum: Conversas de Café
Cá volto eu, desta feita em seguimento da anterior porque a zonzaria de andar a trocar temas me deixa isso mesmo, zonzo. Estava para falar que o centro não é de esquerda nem de direita porque é centro, mas marchei-me dessa porque confusinei-me por completo nas letras escritas e prefiro ter a liberdade de escrever direito por linhas tortas ou antes pelo contrário, um dia destes.
Assim volto ao Medo Monogâmico.
Vivermos um casamento aberto não aumenta nem um pouco as hipóteses de uma mulher encontrar outro homem maravilhoso, pelo qual ela vai se apaixonar e querer viver, criar família e ter um cão e...
Quem está em um casamento fechado corre o mesmo perigo: por entre as barras, dá para ver o sol e o verde lá fora, as pessoas se divertindo, a vida continuando. Na verdade, de certo modo, correm até mais perigo, pois estão imersos em uma falsa segurança, acham que casou, acabou, agora é para sempre, enfiam a cabeça na areia e fingem não saber que, desde que o mundo é mundo, o mundo é mundo. Parecem ter fé religiosa que, enquanto o sexo for bom, enquanto tudo estiver bem, enquanto eles forem fiéis, os parceiros serão fiéis.
Bem, amigo, se achas isto, eu gostaria muito de te apresentar um grande amigo meu: Manuel Casavelha. Claramente, vocês não se conhecem. O mau marido é corneado, a boa esposa também. Não há garantias. Nenhuma, nenhuma mesmo.
A erecção humana não tem dique nem barragem. O homem vai aonde sua erecção aponta.
A possibilidade de uma mulher se apaixonar por outro homem e querer largar o companheiro é algo bem real para mim - sempre lembrando, claro, que o vice-versa é tão real quanto o versa-vice. Convivo com essa possibilidade todos os dias e tento fazer as pazes com ela. O facto de eu ainda ter medo de perder minha companheira é a prova que as pazes ainda não foram cimentadas (com essa real possibilidade), mas já nos falamos com cordialidade, trocamos bons dias de manhã, estamos caminhando. Assim como sei que, dia menos dia, vou morrer e estou em paz com isso, também sei que, é uma possibilidade, mais dia menos dia, eu e minha companheira nos vamos separar e pronto. A vida vai continuar. Relacionamentos são como entidades, eles têm seu ciclo de vida, nascem, crescem e morrem de acordo com um relogiozinho interno deles que muitas vezes a gente nem compreende.
Na verdade, dado o número de divórcios hoje em dia e a quantidade de mortes por acidentes e violência, um "casamento que dura a vida inteira" é mais provável de ser porque os dois cônjuges morreram num mesmo acidente de viação do que porque ficaram casados até os 80 anos.
se um dia apetecer lá estarei de volta
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca
Prisões 10 - Medo Monogâmico
carranca
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Medo Monogâmico 23-03-2005 18:52
Forum: Conversas de Café
Lá me apeteceu baralhar e misturar tudo.
Mas este gajo quer discussão e não dá hipóteses de haver diálogo. Endoidou e de vez.
Pois mas a verdade é que enquanto não atingir a liberdade feliz tenho que ter a capacidade de ser assim, livre exorcista de fantasmas em casa própria.
Muita gente acha que isso quer dizer que não amo minha companheira actual. Ou a anterior ou a futura. Esses sinceramente eu nem considero. Outros dizem que vou arder no mármore do inferno. Idem, mil vezes idem.
Enfim, os racionais, em geral, me epistolam duas perguntas:Tu não tens medo de perdê-la? Tu confias tanto nela para teres a certeza que ela não vai se apaixonar por outra pessoa um dia destes?
E eu respondo: sim, tenho medo, e muito, e não, não confio nem um pouco.Uma das prisões das quais consegui me libertar foi o medo. Eu tinha medo de tudo. Hoje, não tenho medo de quase nada. Meu único medo é, justamente, esse: perder a minha companheira do momento, meu amor, minha grande...
O medo não tem lado bom.
O medo envenena, engendra insegurança, devora a auto-estima, derrete a confiança, destrói tudo que toca. Sinto o medo dentro de mim como se fosse um ataque de gases: algo nocivo e borbulhante, quente e fedorento. O medo torna-me inseguro e possessivo, chato e agressivo. Tudo aquilo que não quero ser. Tudo o que não sou.
Ainda estou tentando libertar-me deste último medo. Ele atrapalha a minha vida e me impede, em algum grau, de desfrutar totalmente minha felicidade. Mas, por enquanto, ele ainda está lá, rijo, erecto.E me perguntam: você não tem medo de perder sua companheira?
Invariavelmente, o interlocutor é casado, e eu devolvo: e você, não tem medo de perder a sua?medrosamente não sei se voltarei a este ou outro qualquer tema, não só porque me não sei se me apetece como também não sei se anda alguém a querer estudar um eu que só eu sei se existe ou não.
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca
22 de março de 2005
Prisões 9 - Medo II e último
carranca
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Medo II e último Hoje, 23:42
Forum: Conversas de Café
Hoje volto atrás e para falar novamente do MEDO. Não tenho medo de ser irreconhecido ou estar irreconhecível. Não tenho medo que se desconheça cada coisa que escreva, porque eu não sou conhecível, sou apenas eu na forma de ser e estar, no momento. Libertei-me de prisões, liberto-me de prisões porque a procura da liberdade de ser feliz supera-me os tabús.
citação:
Então, em vez de querer ser escritor de sucesso para ser feliz e ser realizado,Se tu, que já és feliz e realizado, se gostas de escrever ou fores um escritor de sucesso, melhor ainda. Se não, se tu não és feliz, nem nunca sentiste aquela necessidade compulsiva de escrever... Bem...
basta-me ser feliz e realizado.
Porra!, se tu já és feliz e realizado, vais querer escrever para quê? Deixa isso para quem ainda está a precisar de se comunicar, lutando contra seus demónios, tentando encontrar-se.O melhor conselho que se pode dar a um 'jovem' escritor é: se puder se abster de escrever, não escreva. Só dá dor de cabeça.
acho que perdi o MEDO de ter medo.
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca
21 de março de 2005
Prisões 8 - Conformismo
carranca
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Conformismo Hoje, 17:41
Forum: Conversas de Café
Já nadei pela VERDADE, pelo MEDO e pela MONOGAMIA pelo que hoje apeteceu-me virar para outro norte, provocando um curto-circuito no sistema racional trifásico e recaminho a corrente para a prisão chamada de CONFORMISMO.
Não entendo o mundo, não entendo os paradigmas, não entendo as convenções, não entendo o senso-comum, não entendo...
Entendo tão pouco o mundo que é incrível eu conseguir funcionar em sociedade como um ser humano normal, dar bom-dia às pessoas na rua sem ofender tabus, sair de casa sem cometer atentado ao pudor, sem parecer que estou noutra dimensão.
À medida em que avanço neste meu caminho em direcção à liberdade, talvez eu acabe mesmo por perder contacto com a massa da humanidade, talvez eu me torne clinica e culturalmente louco. Como alguém me aconselhou, tenho cuidado para não enlouquecer cedo demais.
Um dia, vou perder o chão, os meus pés não o vão tocar. Tenho opiniões tão diferentes que esqueço como é o mundo, esqueço como funciona a cabeça dos humanos.Algumas pessoas acham que faço o que faço, que digo o que digo para me armar em diferente. Coitadas. A minha situação é muito mais dramática.
Pior do que fazer para ser diferente é fazer e não se dar conta que se está a sê-lo, fazer e não ter ideia de qual será o impacto. Distanciei-me tanto do senso comum que já tenho dificuldade de antecipá-lo.
será que algum dia confomar-me-ei a voltar a este tema?
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca
20 de março de 2005
Prisões 7 - Monogamia 2
carranca
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Hoje, 00:55
Forum: Conversas de Café
Como já ia perdendo, eu mesmo, o fio da meada ou a meado do fio resolvi voltar à MONOGAMIA
citação:
... acho fantástico como funcionam os relacionamentos monogâmicos: perde-se atéMonogamia
a singela liberdade de ver o filme que se quer. ...
Muitas pessoas acham esquisitíssimo quando, no Carnaval, a minha companheira foi acampar para um lado e eu fui viajar para outro. Acontece que tenho uma companheira, não uma gémea siamesa. Não só é bom membros de um casal darem tempos ocasionais um do outro, como também ela adora acampar e eu não. Se ela não for acampar sozinha de vez em quando, nunca mais iria acampar. Ou pior: eu seria obrigado a acampar com ela e imaginem o meu sofrimento. Em muitas relações monogâmicas que conheço, impera a lei do gêmeo siamês: como tudo tem que ser feito junto, as actividades que só um cônjuge gosta ou são abolidas para sempre ou o cônjuge que não gosta é obrigado a participar delas. Só não vale descolar, partir com espírito de infidelidade já antes de partir.Estamos condenados a ser livres. A liberdade consciente exige muito mais fibra e responsabilidade do que a conformidade instintiva. Mas não há outra maneira. Não temos escolha a não ser a liberdade.
Um casamento aberto dá um trabalho danado
Voltarei se não me esquecer de voltar
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca
18 de março de 2005
Prisões 6 - Verdade IV
carranca
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Hoje, 16:52
Forum: Conversas de Café
Não. Hoje não vou baralhar. Quero que se sintam livres para não gastarem os neurónios em abstracções. Hoje apetece-me ser linear. E se me apetece não me contrario, porque sou livre.
citação:
Afinal, ela conta-me essa história só para me atiçar e depois deixar-me naEssa pergunta-futuro eu quase me faço. Mas não faço. Dessa etapa, também evoluí. Julgar um momento-presente e concreto com base no que pode ou não acontecer em um futuro abstracto também é uma das piores formas de prisão. Como podemos aproveitar o presente se o critério para saber se ele vale ou não a pena ainda não aconteceu?
saudade ou para me preparar para sexo iminente num futuro próximo?
O presente existe por si só. O futuro é o presente do amanhã, nada mais.
A liberdade é importante, mas só enquanto meio. O fim maior sempre deve ser a felicidade. Se lutamos pela liberdade, é para podermos ser felizes. A liberdade é um excelente modo de viver, mas como fim último, ela é insossa. Para que serve a liberdade se você é infeliz?
Só a felicidade realmente importa. Deixar a verdade estragar isso é um crime.
Será que voltarei? se calhar sim, ou não. O tempo o dirá!
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca
17 de março de 2005
Prisões 5 - Verdade III
carranca
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Verdade III Hoje, 19:27
Forum: Conversas de Café
Apetece-me baralhar e dar de novo a VERDADE. Assim recordo uma passagem lá para trás onde escrevi:
citação:
...O momento é que me importa. Importa-me sentar com uma amiga e me deliciar com o que ela conta sobre a sua noite anterior...O acto de ela contar a estória é o facto em si, é o único facto que me importa. Importa-me a minha atenção, importam-me as palavras dela, importam-me os seus olhos entreabertos saboreando a minha excitação, importa-me seu cruzar e descruzar de pernas, importa-me o giro de seu tornozelo, o chamar da minha atenção para suas botas. O contar a estória foi um facto concreto, foi um momento vivido no meu presente e que vai se estender do passado até a eternidade, foi, portanto, um momento eterno. Só isso é concreto, o resto é abstracto. O que me importa se, abstractamente falando, minha amiga viveu mesmo o que me contou com o sujeito daquele jeito, ou se curtiu de outro forma, ou se nem tocou, ou, quem sabe, até inventou o amigo, ou se estava ou não, activamente gozando comigo, a safada?A solidez do presente é tão intensa que a possível veracidade do passado some totalmente na comparação. Questionar a veracidade da história nunca me passou pela cabeça, foi uma não-questão, uma não-tentação.O futuro sim, esse tem alguma importância. Afinal, ela conta-me essa história só para me atiçar e depois deixar-me na saudade ou para me preparar para sexo iminente num futuro próximo?
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca
16 de março de 2005
Libertando-me do Medo
carranca
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Hoje, 19:29
Forum: Conversas de Café
Voltei porque me apeteceu. Deu-me ganas ao ler. Entristeci ao ler Quental, João. Mas depois sorri e disse-me: vais escrever!
Mas sobre o quê?
Sei lá. Liberta-te! retorqui em voz alta para eu mesmo ouvir.
Verdade?
Monogamia?
Medo?
Exacto, sobre o medo.
E eis-me aqui baralhando, novamente para não ser diferente, porque iguais há e muitos.
Neste processo de me libertar das minhas prisões, tenho-me livrado de incontáveis medos.
Um deles, o maior ou menor pouco importa já que sou livre para não fazer essa contabilidade, era justamente o medo de não ser compreendido, de não fazer sucesso como 'escri-sonhador' de estórias, de morrer sem aqui publicar nada que prestasse, nada que alguém, pelo menos um, ela, gostasse.
Coisas como essas paralisavam-me à noite, causavam-me suores secos e frios, impediam-me de ser feliz. Hoje, são só palavras. Antigamente, sei lá se há muito ou pouco tempo, eu amarrava o meu ego integralmente às minhas estórias. A minha razão de ser nesta sanzala era escrever. Eu não era o JC, eu era um escritor ou, pior, um projecto de escritor.
O principal escritor do movimento beat americano, escritor fluido e espontâneo, adorava passear pelos Estados Unidos, entre os mendigos, os sem-abrigo, os andarilhos. Eram pessoas sem futuro, muitas vezes sem passado, que viviam apenas para o presente. Não esperavam nada da vida. Ele admirava isso, não conseguia ser assim. Os andarilhos viviam sem esperança alguma, a não ser aquela secreta esperança eterna só obtida dormindo majestosamente ao relento na estrada. Quando me libertei dessa esperança, quando passei a, sinceramente, estar-me nas tintas se meus esforços escrivinhatórios seriam recompensados com protecção social ou não, pude experimentar um pouco da felicidade primordial, da liberdade profunda que buscava.
Descobri que minha única obrigação era ser um homem feliz e realizado. Se eu fosse isso, tudo já estava resolvido. O resto era sintonia fina.
Na prática, se quero alguma coisa (ser escritor, ganhar um milhão de euros, conhecer Paris, Joanesburgo, Londres, Quarteira, Luena, Dubay, tocar na Penélope Cruz, Jennifer Lopez, etc) é porque acho que isso vai-me fazer feliz e realizado. Mas dei conta de que não precisava de nada, literalmente nada, para me sentir feliz e realizado. Esse processo é puramente interno e 100% sob meu controle.
Então, em vez de querer ser escritor de sucesso para ser feliz e ser realizado, basta-me ser feliz e realizado.
Sei lá se voltarei a falar sobre o medo. Se voltar é porque voltei, se não, é porque não.
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca
Livre em prisão do sentimento
carranca
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15-03-2005, 00:14
Forum: Conversas de Café
Hoje, baralhando ainda mais, vou falar de coisa nenhuma, que já é falar de muita coisa sem dizer tudo. Hoje sou monagamico livre. Melhor, 'anagamigo', fiel em pensamento e actos ao bisturi. 'Anagamico' e livre porque tenho a liberdade de usá-lo à vontade do saber, com reflexos taquicárdicos - 200 pulsações por minuto - sentindo o prazer orgásmico de fazê-lo bem feito perdido no medo do erro. Pouco me importa que digam que estou louco porque é a forma mais pura de estar livre para sentir o prazer de cortar, a direito e a torto, com a finalidade de atingir a verdade, final última que não tem importância, se no amanhã qualquer vir o sorriso do cortado em forma de agradecimento.
Por este nao voltarei, só se contrariado, porque coisa nehuma me prende à realidade de todas as coisas que são feitas com o sentimento/prisão do amor.
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca
14 de março de 2005
Prisões 4 - Verdade II
carranca
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Verdade II Hoje, 15:31
Forum: Conversas de Café
Dizia eu lá para trás que a verdade era uma armadilha. Pois bem, resolvi, para continuar, baralhando e dando de novo algo sobre a verdade.
Quando parei de me preocupar com a verdade, senti todas as correntes que me prendiam a se quebrarem. Só quando parei de me perguntar:
o que ela diz é verdade?
será que ele mentiu?
consegui realmente abrir-me para o mundo. O que é que tem se me mentem? Uma outra grande libertação foi libertar-me de me importar. Eu não ligo. Podem mentir. Podem inventar. O que me importa?A verdade não vale nada.
O momento é que me importa.
Importa-me sentar com uma amiga e me deliciar com o que ela conta sobre a sua noite anterior. E todos os seus detalhes sórdidos, incluindo o sexo e os seus preliminares. E, depois disso, uma outra amiga que estava ao meu lado, uma amiga que tinha acompanhado enciumada e atiçada toda aquela cena (que foi mais discreta do que possa parecer, mas uma mulher repara, óbvio, sempre), disse, entre os dentes, irritada, que era óbvio que aquela história era inventada. Ela só estava a querer atirar-se a mim!
Esse comentário já é tão mesquinho para mim que até sinto dificuldade de compreendê-lo. Libertei-me da prisão da verdade há tanto tempo que me espanta ver quanta gente ainda anda acorrentada ao chão. E as pessoas, claro, também se assustam comigo quando digo que não me interessa se é verdade ou não, que nem ao menos pensei nisso, que nem ao menos considerei essa possibilidade, que não considero essa possibilidade agora nem nunca considerarei porque ela é totalmente irrelevante, totalmente simplória e mesquinha. E me olham como se eu fosse um bicho, eu sim, o simplório, o otário, o que cai em qualquer conto. E não entendem que eu não ter me questionado se a história era ou não verdade não quer dizer que a tenha engolido, isso também seria simplório.
Por agora páro por aqui e voltarei se me apetecer a falar de verdade.
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca
Prisões 3 - Monogamia
carranca
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13-03-2005 19:03
Forum: Conversas de Café
Anarquicamente, tal como a periodicidade, apetece-me agora falar da MONOGAMIA, baralhando assim os temas, qual salada de fruta, cortando a raiz a qualquer pensamento estruturado.
É muito, muito rara uma relação monogâmica sem traições e adultérios. É uma gaiolinha bem da douradinha, mas não deixa de ser uma gaiola. Ambos os parceiros se unem porque se amam, mas também sabem, principalmente os homens, que estão abrir a mão de sua liberdade, que não é pouca coisa, pelo prazer de estar com a mulher amada. Não conheço um homem que não se casou com uma sensaçãozinha, pequena que fosse, de estar indo pro matadouro. Ele sabe que vai ganhar muito, e espera que valha a pena, mas também tem a noção exata de tudo o que está perdendo.
Realmente, acho fantástico como funcionam os relacionamentos monogâmicos: perde-se até a singela liberdade de ver o filme que se quer. Convido um casado pra ir ao cinema. A resposta nunca é um simples sim ou não. Das duas uma: eh pá, esse eu não posso, fiquei de o ver com a minha mulher. Ou: por que não vamos ver este outro filme, que esse minha mulher nunca assistiria mesmo, porque não é o estilo que ela gosta?
(continuarei se me, e quando, aprover)
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca
Prisões 2 - Verdade
A verdade?
A verdade é uma piada, a verdade não vale uma gota de NADA. Pela verdade, já se matou e morreu, e para quê? A verdade sem felicidade vale alguma coisa?
A verdade é inimiga do homem.
O homem mais feliz do mundo, que sabe tudo o que há pra se saber, que voa entre as nuvens como os abutres, que fuma, bebe e cheira sem se preocupar com o dia de amanhã, que come, pelo menos com os olhos, todas as mulheres que deseja, que utilidade pode ter para ele a verdade? Por que é ele quereria saber que, na verdade, está sentado no jardim público qualquer, que se baba e que a baba escorre viscosa pelo seu ombro esquerdo, que ele não tem ao mesmo tempo controle de seu intestino, e que um enfermeiro mal pago limpa sua trampa três vezes por dia enquanto suspira e pensa na sua namorada? O que adianta uma verdade que não leva a nada? Quem lucra com essa verdade?
A verdade torna-se útil somente quando instrumento para atingir a liberdade e a felicidade. Boa por si só, intrinsecamente boa, isso ela nunca é. Mas, quase sempre, a verdade é sua própria justificativa e seu próprio fim, e leva apenas a mais e mais verdade. Ensinam-nos que a verdade é boa, independente das consequências.
A verdade é uma armadilha.
(continuarei um dia)
13 de março de 2005
Prisões 1
carranca
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Prisões Hoje, 13:16
Forum: Conversas de Café
São muitas as prisões que nos encarceram em padrões pré-estabelecidos, prendem nossos instintos, tolhem nossa perspectiva e nos impedem de ver o que está do outro lado da montanha. Prisões são as idéias feitas, os preconceitos, os costumes, as tradições. O conformismo, a mesquinharia, a intolerância, a pequenez. Monogamia; Heterossexualidade; Verdade; Segurança;Aceitação; Medo; Realidade; Preconceito; Patriotismo; Preguiça; Conformismo; Religião; Marxismo; Futuro; Necessidade de Sobrevivência.Com uma periocidade rigorasamente de-vez- em-quando virei aqui abordar estas prisões no sentido de exorcisar de mim essas prisões. Polémica?! Se calhar será. Mas não será a prisão do medo de ser polémico que me fará mudar ideias, que me fará desistir de tentar libertar-me.
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca
12 de março de 2005
Interlúdio
Nem cacimbo nem chuva. Irritante apenas. Leio uns fios, passo para outros. Silêncios muitos.
O abuso de linguagem menos apropriada, a reincidência, tudo deve ser motivo de reflexão fria.
Não, o fim da minha escrita na Esplanada nada tem a haver com nada. Tem a haver unicamente comigo, a desinspiração, o sentido de 'saber' fechar ciclos quando devem ser fechados.
Temas repetidos, explorados até à exaustão, levam à desinspiração, à falta de vontade de escrever.
Chamemos de férias sabáticas. Interlúdio silencioso.
Aqui manter-me-ei, sem linha, sem projecto, sem rumo que não seja o futuro, escrevendo o que me apetece quando me apetecer.
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca
Uma onda que não rebenta na areia
carranca
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11-03-2005 23:55
Forum: Conversas de Café
Mermão, me sento a teu lado com 1095 gotas do zulmarinho a escorrer-me pela cara. Nem birras geladas e loiramente saborosas, nem cafés miles bebidos, conseguem disfarçar a triste alegria que me acompanha neste momento. O cheiro da marzia, o som das águas calmas, o balancear do reflexo da lua no prateado da noite ou o tom dourado do pôr do sol me fazem mudar de ideias deste momento.
Bebo, mermão, mais umas quantas:
carranca 242
goiaba 115
Mercedes 81
Fernando Quelhas 59
Mafalda 57
PaulaA 49
Lena 39
anabela Machado 37
Fifer 30
pwo 27
Cangonja 25
FARochaS 25
Quilha 25
Leng Loi 21
gabi 18
Visitantes 17
Cajoão 17
mucubalinha 17
mocamedes 14
ZÉ LOBO-QUIMBELE 12
Karipande 11
Welwitchia 11
LuísAlberto 10
maconge 10
vilalice 10
dinah 9
Teka Nhitaxi 9
KAPOFY 6
Luisa Cardoso 6
zecara 6
DINO Fernandes 5
Francisco Nóbrega 5
ILDA AMARO 5
Marimbondo 5
Helena 4
Pina da Caconda 4
Rui Gomes 4
CALEMA 3
Kurcudilo 3
Nelsinho 3
Savana 3
torres pontes 3
ximinha 3
Ana Cristina Lara 2
calcinhas de luanda 2
kiki 2
Mabok 2
Maria Mouro 2
MIMA CAMACHO 2
MUNGANDA 2
paracuca 2 Sebas 2
ara 1
CUM_CARANKAS 1
Joao Quental 1
josé frade 1
kambuta 1
kIKAS Gonc 1
Laura Maria 1
Loengo 1
Madaleno 1
pacassa 1
Pedro Dornellas 1
TOBÉ 1
Uambassa 1
para pôr na conta final. Desde o dia 02-06-2004 16:34 comecei a sentar-me nesta esplanada. Vivi aqui contigo, mermão, momentos de alegria, compartilhei as tristezas, dialogámos silêncios e cumplicidades, falamos em código, abertamente entrámos no sonho da Magia, navegámos por ondas, sons, cores e sabores. Hoje, mermão, te digo que acabou a inspiração dos momentos imaginados em vidas vividas, verdades que não existiram, mentiras que nunca as foram. Vivemos uma vida aqui sentados calcorreando continentes pertinentes de contentes finalidades. Voámos por céus limpos, abrigámos tempestades tropicais.Mas hoje, mermão, avilo, camba, leitor 27072, apetece-me dizer adeus. Vir-te-ei visitar, estarei a teu lado, nesta rua ou noutra qualquer. Mermão, fechou-se este ciclo.
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca
O MILAGRE DO PAPEL HIGIÊNICO
carranca
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Analogias 11-03-2005 20:01
Forum: Conversas de Café
citação:
Sanzalando em AngolaTerminado meu banho, lá estou eu na frente do espelho, comentando com meu
marido que acho meus seios pequenos demais. Ao invés do esperado "imagina, não
são não", ele me vem com uma sugestão: "Se quiser aumentar seus seios, então
pegue todos os dias um pedaço de papel higiênico e esfregue-o entre eles durante
alguns segundos". Disposta a tentar qualquer coisa, pego um pedaço de papel
higiênico, fico na frente do espelho e começo a esfregá-lo entre meus seios.
"Quanto tempo demora para funcionar?" eu pergunto. "Eles vão aumentar de tamanho
ao longo de alguns anos", responde meu marido. Parei! E perguntei: "Você
realmente acha que esfregar um pedaço de papel higiênico entre meus seios todos
os dias vai fazer aumentá-los em alguns anos?". Sem hesitar um segundo ele diz
"funcionou para sua bunda, não funcionou?".NOTÍCIAS DO MARIDO: Ele ainda está vivo e, com muita fisioterapia, talvez volte até a andar.
Carlos Carranca
9 de março de 2005
Como explicar o amor
Contam que, uma vez, se reuniram os sentimentos e qualidades dos homens em um lugar da terra.
Quando o ABORRECIMENTO havia reclamado pela terceira vez, a LOUCURA, como sempre tão louca, lhes propôs:
- Vamos brincar de esconde-esconde?
A INTRIGA levantou a sobrancelha intrigada e a CURIOSIDADE, sem poder conter-se, perguntou: Esconde-esconde? Como é isso?
- É um jogo, explicou a LOUCURA, em que eu fecho os olhos e começo a contar de um a um milhão enquanto vocês se escondem, e quando eu tiver terminado de contar, o primeiro de vocês que eu encontrar ocupará meu lugar para continuar o jogo. O ENTUSIASMO dançou seguido pela EUFORIA.
A ALEGRIA deu tantos saltos que acabou convencendo a DÚVIDA e até mesmo a APATIA, que nunca se interessava por nada.
Mas nem todos quiseram participar.
A VERDADE preferiu não esconder-se, para quê? Se no final todos a encontravam?
A SOBERBA opinou que era um jogo muito tonto (no fundo o que a incomodava era que a ideia não tivesse sido dela) e a COVARDIA preferiu não arriscar-se.
- Um, dois, três, quatro... - começou a contar a LOUCURA.
A primeira a esconder-se foi a PRESSA, que como sempre caiu atrás da primeira pedra do caminho.
A FÉ subiu ao céu e a INVEJA se escondeu atrás da sombra do TRIUNFO, que com seu próprio esforço, tinha conseguido subir na copa da árvore mais alta.
A GENEROSIDADE quase não consegue esconder-se, pois cada local que encontrava lhe parecia maravilhoso para algum de seus amigos - se era um lago cristalino, ideal para a BELEZA; se era a copa de uma árvore, perfeito para a TIMIDEZ; se era o voo de uma borboleta, o melhor para a VOLÚPIA; se era uma rajada de vento, magnífico para a LIBERDADE. E assim, acabou escondendo-se em um raio de sol.
O EGOÍSMO, ao contrário, encontrou um local muito bom desde o início. Ventilado, cómodo, mas apenas para ele.
A MENTIRA escondeu-se no fundo do oceano (mentira, na realidade, escondeu-se atrás do arco-íris), e a PAIXÃO e o DESEJO, no centro dos vulcões.
O ESQUECIMENTO, não recordo-me onde escondeu-se, mas isso não é o mais importante.
Quando a LOUCURA estava lá pelo 999.999, o AMOR ainda não havia encontrado um local para esconder-se, pois todos já estavam ocupados, até que encontrou um roseiral e, carinhosamente, decidiu esconder-se entre suas flores.
- Um milhão - contou a LOUCURA, e começou a busca.
A primeira a aparecer foi a PRESSA, apenas a três passos de uma pedra. Depois, escutou-se a FÉ discutindo com Deus no céu sobre zoologia.
Sentiu-se vibrar a PAIXÃO e o DESEJO nos vulcões.
Em um descuido encontrou a INVEJA, e claro, pode deduzir onde estava o TRIUNFO.
O EGOÍSMO, não teve nem que procurá-lo. Ele sozinho saiu disparado de seu esconderijo, que na verdade era um ninho de vespas.
De tanto caminhar, a LOUCURA sentiu sede, e ao aproximar-se de um lago descobriu a BELEZA.
A DÚVIDA foi mais fácil ainda, pois a encontrou sentada sobre uma cerca sem decidir de que lado esconder-se.
E assim foi encontrando a todos.
O TALENTO entre a erva fresca; a ANGÚSTIA em uma cova escura;
a MENTIRA atrás do arco-íris (mentira, estava no fundo do oceano);
e até o ESQUECIMENTO, a quem já havia esquecido que estava brincando de esconde-esconde.
Apenas o AMOR não aparecia em nenhum local.
A LOUCURA procurou atrás de cada árvore, em baixo de cada rocha do planeta, e em cima das montanhas.
Quando estava a ponto de dar-se por vencida, encontrou um roseiral.
Pegou uma forquilha e começou a mover os ramos, quando no mesmo instante, escutou-se um doloroso grito.
Os espinhos tinham ferido o AMOR nos olhos.
A LOUCURA não sabia o que fazer para desculpar-se chorou, rezou, implorou, pediu perdão e até prometeu ser seu guia.
Desde então, desde que pela primeira vez se brincou de esconde-esconde na terra: O AMOR é cego e a LOUCURA sempre o acompanha.
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca
Não vem que não tem
carranca
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Hoje, 19:00
Forum: Conversas de Café
Avilo, manda vir as geladas que hoje estou para filosofar na forma de que não tem essa do masculo e feminino. Mulher é mulher, homem é homem e cabou conversa. Tem coisa mais linda que A amizade? Tem mas não interessa agora. Mermão, falaste correcto nesses femininos todos. Mermã te deixa que coração não tem mesmo sexo pois esse está na Cabeça. Já viste, mermã, que o coração se liga na máquina e ele trabalha que até não tem fim se não desligar na máquina. Na cabeça ligas na corrente e não faz mais que puft. Te deixa só dessas irritações sexistas machistas e outras istas tais qual bicicletas. Vive só na vida que a cabeça te deixa para viver. Como diz o avilo aí: é por isso que eu amo. Te digo que amo tudo que tem essa de amar. Amar com amizade. Vais ver que tem já gente que tá a pensar com os testículos cerebrais e já está a ver um filme numa tela que não existe.Mermão, vamos ambos encher a cara, tu na caipirinha e eu continuo com as loiras geladas. Ambos vamos arrefecer o corpo e a alma, sentir a brisa do zulmarinho, olhar para a linha recta que é curva e no silêncio vamos conversar até que a voz do calado fique muda e o sorriso se estampe na cara.Manda vir, mermão. Bebemos pela saúde, pelo amor, pela paz. Bebemos que fazemos parte do mundo e ele não termina ali no virar da esquina.Puxa a espreguiçadeira e saboreia a meu lado esse azul do zulmarinho.
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca
8 de março de 2005
Na curva da estrada
carranca
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Hoje, 18:00
Forum: Conversas de Café
Mermão, como hoje é dia especial para as Mulheres te vou contar uma estória que lhe chamo: Na curva da estrada. Assim, mermão, enquanto me ouves e olhas o zulmarinho que te transporta para o filme, vais pagando umas e outras. Não me deixes ficar seco que assim eu desconsigo de ver o fim.A chuva batia forte no vidro do carro, colorindo de cinza a paisagem, qual nevoeiro que impedia a visão magnífica das montanhas e falésias que se debruçavam sobre as praias. A tarde caía rapidamente e Lucilinda já estava com medo de ter que viajar noite dentro para atingir o lugarejo onde havia planeado passar alguns dias de suas merecidas férias. De repente, atrás de uma curva traiçoeira, daquelas que parecem ter sido acabadas de fazer só mesmo para chatear, dá com uma enorme barreira que impedia a passagem. O pé deslizou fundo no travão logo que a vista registou o perigo, mas não foi possível evitar o susto, o pânico e sei lá mais o quê que até dava para molhar o banco do carro.. Quando outro carro parou, logo atrás, Lucilinda ainda tremia muito e se sentia sem capacitada de sair do banco. Um homem saiu do carro e bateu na janela de Lucilinda. - Tudo bem? Não está ferida, está? - Não, não -- gaguejou Lucilinda. -- Mas, puxa, que susto! E que contratempo! Como vamos passar? - Ah, não vai dar, não -- avisou ele. -- Conheço esse problema faz tempo. Olhe, se quiser pode passar a noite em minha pousada, perto daqui. Amanhã já terão limpo a estrada e poderá seguir a sua viagem. Lucilinda suspirou. Não via outra saída. Voltar parecia-lhe pior e o homem parecia confiável. Olhou de novo para ele. Só agora notava como era bonito, com aqueles olhos azuis e os cabelos negros caindo na testa. Devia ter uns trinta e poucos anos e se vestia de maneira jovial, com calça jeans e t-shirt azul. - Tudo bem. Onde fica a pousada? - Temos de voltar atrás uns dois quilometros e apanhar a estradinha de acesso à pousada. Siga-me, por favor. Pouco depois Lucilinda estava acomodada numa deliciosa hospedaria, satisfeita por ter resolvido tão bem o seu contratempo. Felizmente havia encontrado João, o anfitrião, um dos homens mais gentis que já conhecera. As nuvens tinham desaparecido e uma enorme lua cheia clareava agora a praia e prateava as águas daquele zulmarinho. Na varanda, Luci era uma romântica espectadora do show da natureza no silêncio daquela praia isolada entre dois morros. João aproximou-se para compartilhar de seus instantes de descontração. Vamos até a praia? -- convidou ele. Vamos, sim -- aceitou Lucilinda. Foi delicioso caminhar pela praia ao luar, pés descalços na areia, ao lado daquele homem excitante, entregando-se a uma sensação de liberdade nunca por si vivida. Como era possível que um incidente quase acidente a trouxesse tão depressa ao mundo dos sonhos? Sim, porque João era uma figura de sonhos, que o dia seguinte tornaria real, instalado num mundo ao qual ela não pertencia. Quando sentiu que o silêncio tomava o caminho perigoso do clima de magia que envolvia os dois, Lucilinda pediu licença e se refigiou-se no seu quarto. Já deitada, suspirou, qual adoleceste. Ah, como teria sido fácil entregar-se ao romance convidativo que o momento sugeria. Mas não, não podia. Amanhã iria dali embora e não mais veria João. Se ficasse com ele, como ele lhe pedira ainda há pouco, antes de se despedirem, seria apenas para viver uma aventura. Ao final das férias breves de uma semana, voltaria para casa, para o marido que lá deixara, tranquilo e confiante. E João seria apenas uma lembrança, como aliás era preciso que fosse. Apagou a luz e afastou os desejos proibidos embalando-se num sonho carregado de magia. Bem, mermão, agora podes colorir o filme, dar um beijo na companheira e esperares que o sonho seja mais real que a realidade.
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca
7 de março de 2005
No quadro de cortiça
carranca
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Hoje, 18:56
Forum: Conversas de Café
citação:
Parei de beber Coca Cola desde que descobri que serve para retirar manchas
da sanita.
Parei de ir ao cinema, com medo de me sentar numa agulha infectada com
SIDA.
Cheiro a refogado, desde que parei de usar desodorizantes porque causam
cancro.
Não deixo o meu carro em parques de estacionamento nem em qualquer outro
sítio, com medo de alguém me drogar com uma amostra de perfume e tentar
assaltar-me.
Também deixei de atender o telefone, com medo de me pedirem para discar um
número estúpido e receber uma conta de telefone infernal com chamadas para o
Uganda, Singapura e Tóquio.
Também parei de beber a partir da lata, com medo de ficar doente das fezes
e urina de rato.
Quando vou a festas, não olho para mulher nenhuma, por mais boa que seja,
com medo que ela me leve para um hotel, me drogue e me retire os rins para
vender no mercado negro.
Também doei todas as minhas poupanças à conta da Amy Bruce, uma menina
doente que estava a morrer no hospital... aproximadamente 7.000 vezes. (É
engraçado, essa menina, tem 8 anos desde 1993...)
O meu telemóvel Nokia grátis nunca chegou, nem as passagens que tinha ganho
para umas férias pagas na Disneyland.
NOTA IMPORTANTE: Se não enviares este e-mail a pelo menos 1200 pessoas, nos
próximos 10 segundos, um pássaro vai C**** na tua cabeça, amanhã às 17:30.
Quem teve a ousadia de colocar este panfleto aqui, onde eu bebo as minhas birras geladas e converso com os meus cambas, no tudo que há para falar. Assim um gajo fica sem vontade até para sair na rua não vá o sol dar cabo da pele e provocar um caranguejo na cara e depois eu sei lá como te posso contar as estórias que não aconteceram mas são verdadeiras?
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca
Uma vez por outra
carranca
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Hoje, 12:37
Forum: Liceu Américo Tomás
Os fardos de palha estão a postos. A meta e as boxes continuam na marginal. A subida da SOS continua com a mesma inclinação. A recta da Igreja continua a ser curva, terminando abruptamente na curva contra curva do Tribunal. A descida dos Fonsecas/Minhota termina no Cine-MoÇâmedes, segue-se a Capitânia e vira-se para a marginal passando sobre os carris do CFM. Mas hoje todo o circuito está vazia. Todos rezam para que a calema não estrague, como é hábito, todo o trabalho de tanto tempo. Sabe-se que vem o Novais, o Emílio Marta, Herculano Areias, Santos Peras no seu Subaru de volante à inglesa, o António Peixinho, Nicha Cabral, Mabílio de Albuquerque, PQP, Jorge Pêgo, Helder de Sousa, se pagar a palmeira que ainda deve à Cãmara Municipal, Tino Pereira e o seu Detomaso Pantera, que anda pouco mas é bonito, a Garcês Palha e o seu BMW, o Manel e o seu VW - terá sido ele o inspirador do Herbir? - o Zeca Araújo e o Velhinho. Enfim, um rol de gente que é habitual nestas coisas de corridas. Mas já se sabe que o Novais não é para brincar.Olha é Março e eu estava a sonhar.
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca
Mermão, hoje é Domingo
carranca
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06-03-2005 18:51
Forum: Conversas de Café
Por isso, mermão, aviei, enquanto te esperava umas tantas loiras, olhei bem longe no horizonte da vida e te digo que é bom ter tempo para estar na horizontal com os olhos abertos e sonhar.Porque hoje é domingo, mermão, sonhei com o santo sacrifício da saida da missa, com a correria para a praia, a procura dos biquinis que ainda não eram como agora, a fim de tarde a ouvir os Beatles no let it be, e no Yellow 'tamarino' e coisas assim que fazem a gente ter memória.Porque hoje é Domingo ainda ficam para aviar umas outras loiras quando tu chegares e zarparmos na Magia dos nossos diálogos em que só sou eu quem fala.Depois, mermão ainda dou uma volta neste 'jornal':http://homepage.oninet.pt/684mcn/final/
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca
Madrugadamente
carranca
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05-03-2005 16:49
Forum: Conversas de Café
Mermão, vamos aviar umas quantas, enquanto temos força para pegar-lhes. Um, dia, mermão, quando o cabelo estiver assim com a cor do sal, a pele da cara tão enrugada que para enfiar chapéu só mesmo tem de ser de rosca, quando a recordação do que erámos mais não é que uma foto a branco e preto amarelecida pelas muitas estações do ano que passaram, vamos chorar todas as que não vertemos, todos os passos que não demos, todos os sorrisos que não sorrimos, todas as palmadas que não demos. Mermão, como hoje é Sábado, já dizia do da Holanda, temos direito a verter umas que ficaram por beber nuns ontens que não nos lembramos.Olha a calma desse zulmarinho que parece que tem todo o tempo do mundo e mais algum ainda tal é a sua serenidade. Vais ver que é dos anos que passou e das coisas boas que ele já tocou e que me deixa de inveja só de pensar em quem nele se banhou e se deixou acaraciar pelas suas águas. Tás a imaginar, mermão?Vês, mermão, aquela camba que na madrugada vai na janela só para ver o sol a nascer que nem precisa cesariana ou coisas dessas mais complicadas para parir um dia. Vês-lhe bem o rosto? Olha só o sorriso de felecidade que lhe vemos na cara. Gostou da vida de uma forma de gostar que nem explicação tem que eu te possa escrever porque as palavras ainda não lhe foram inventadas.Bebe, mermão, que aqui na esplanada da vida, com o sol que nasceu e foi para todos tem a Magia de sermos nós que somos mesmo.
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca
6 de março de 2005
5 de março de 2005
Espero a esperança
carranca
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04-03-2005 18:23
Forum: Conversas de Café
Mermão, eu queria falar-te de miles de coisas. Algumas delas mesmo sem jeito outras nem por isso e outras ainda que não sei nem classificar. Queria dizer-te que as saudades de milhentas coisas não mata mas mói e, se mói fica que nem farinha, porque dói mesmo que nem dor de sofrer.Vamos derramar mais umas quantas para lubrificar a goela, espevitar o cérebro, aquecer a alma. Mas não vale caminhar por caminhos não palmilhados, por carreiros não inventados pois podes cair nas armadilhas do tempo que se perde na falta de tempo para ter tempo.Eu queria falar-te de coisas sem importância e outras comportância de ser importante nem que seja só mesmo para mim. Mas desconsigo falar-te porque me amordaçaram na virtualidade de respostas que não deram, ou dos silêncios de duas linhas que nada dizem excepto que estás no bom caminho mas que não conheces o mapa por isso é melhor esperar para ver se iluminam a estrada. Vês, mermão, como custa estar à espera do que sabes que não vai chegar?Não. Não foi desta que doidei. Sentado, em posição do Buda, olho assim como que para lá da linha recta que é curva, sinto o perfume da marzía, salitro-me com as gotas do zulmarinho e espero. Sabes o que espero? Espero a Esperança da Magia de um dia ser dia. De ser esse o DIA.
«-Lá está ela outra vez...»
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca
3 de março de 2005
o Tempo
Contempla-te porque que cada vez tens menos tempo para o fazer.
Tu tens o relógio e eu tenho o tempo.
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca
jccarranca@gmail.com
2 de março de 2005
Zulmarinho escuro
carranca
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Zulmarinho escuro Hoje, 21:59
Forum: Conversas de Café
Mermão, às vezes o zulmarinho tem as cores mais carregadas. Sabes, mermão, às vezes eu que nada sou gostava mesmo de ter o poder de mudar o rumo das coisas. Mas aí, mermão, ia ter outro problema que é escolher que rumo devia dar, qual a direcção a tomar, qual o sentido a seguir. Assim, mermão, com amargos de boca, sorrisos feitos de lágrimas, lá se dizem as palavras que não sendo mentiras saiem como verdadeiramente falsas.Bebendo mais uma loira, que lubrifica a goela, que me faz sentir vivo perto deste zulmarinho que virou ponto de interesse vivo e literariamente cultural, profundo nas suas superficialidades, revolto nas suas calmarias, trazendo os odores do início dele, fazendo a mistura de outros oudores que vêem do ocidene, oriente, norte ou mais sul, te vou tendo como companheiro nas horas solitariamente solidarias.Bebo, mermão, de garrafa em garrafa até à cirrose final, esquecendo que a saúde não está à venda numa kitanda, que os ouvidos que me ouvem podem estar tamponados com a cera dos muitos anos ouvindo desagradaveis palavras, que se sucedem num ritmo alucinante que baralham mentes que nada sentem.Bebo, mermão, porque tu pagas e principalmente porque gosto de beber
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca
O amor a dois
carranca
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Hoje, 15:21
Forum: Conversas de Café
A simples amizade com outro, por muito profunda que seja, não significa que uma pessoa lhe entregue toda a sua pessoa e a sua vida, a sua alma e o seu corpo. Essa é a diferença entre a amizade e o amor conjugal.A própria estrutura corporal e dos sexos expressa essa mútua referência: o homem está capacitado, na alma e no corpo, para entregar-se inteiramente a uma mulher, e vice-versa.Há três níveis que constituem o amor entre o homem e a mulher:- A atracção física : é o nível mais elementar, está sempre presente e é comum à natureza animal. Isto só não basta para fundamentar o amor humano de verdade. Neste nível, o outro pode ser também considerado como um simples objecto do apetite sexual. Mais do que amar, isso seria usar o outro, como se fosse uma coisa.- O enamoramento afectivo : é uma sintonia entre as maneiras de ser das duas pessoas, que faz com que gostem muito de estar juntos, que gostem de conhecer os detalhes da vida do outro, etc. É já algo tipicamente humano. É o começo do amor, ainda que não baste para um amor autêntico. O enamoramento é um fenómeno espontâneo, não voluntário. Uma pessoa não decide friamente enamorar-se de outra; uma pessoa, sem saber como, encontra-se enamorada. E esse enamoramento deve-se aos aspectos positivos e agradáveis do outro; não tem em conta os seus defeitos. Também pode suceder que uma pessoa goste mais do simples facto de "estar enamorado" - porque produz uma sensação de entusiasmo - do que da própria pessoa de quem se enamora. Nesse caso o enamoramento estaria misturado com egoísmo. Não seria verdadeiro amor. Para ser estável, o enamoramento tem que passar ao terceiro e último nível.- O amor conjugal : é muito mais que o enamoramento. Não é só um processo espontâneo, mas transforma-se numa atitude voluntária, livremente assumida. O amor que surgiu sem intervenção da vontade converte-se numa decisão livremente assumida de entregar-se ao outro, amando-o tal e como é e como será, na riqueza e na pobreza, na saúde e na doença. Porque aceita a pessoa inteira, não apenas com as coisas boas que o enamoram, mas também com os defeitos que lhe desagradam. E aceita-a como alguém que vai compartilhar e condicionar toda a sua vida. Ama-a não por ser assim ou de outra forma, mas por si própria, a ela, sem mais, para sempre. E entrega-se todo, entrega-se a si próprio, coração, corpo e vida inteira.Caramba, deu-me uma pesada que nem quero reler.
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca
Silêncios
carranca
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01-03-2005 17:13
Forum: Conversas de Café
Mermão, anda, paga e te calas.O teu silêncio é de oiro, sinal que labutas na terra que te viu nascer, sol a sol, noite a noite, que te viu cada centimetro da tua altura alongar-se em direcção ao céu. O teu silêncio faz-me pensar que estás algures numas festas de cidade, a correr para a praia, saltitando descalço na tentativa inutil de não te queimares no alcatrão escaldante de um dia de verão.Assim, mermão, aproveitando o teu calor vou refrescar-me nas loiras geladas que coloquei no vão de escada para doirarem o ambiente.Ali ao lado ouço o xuaxar de ondas minorcas que se espraiam na areia pregiçosamente, fazendo entrar neste quarto fechado em que virtualmente me fechei o cheiro da terra que pisas, os falares das gentes que te cruzam com um sorriso nos olhos.Bebo, mermão, para te ter ao meu lado e me fazer ouvir pelo teu silêncio.Ouço-te!Bebo!Estupidamente gelado!
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca