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14 de março de 2005

Prisões 2 - Verdade

Anarquicamente, tal como a periodicidade, apetece-me agora falar da VERDADE.
A verdade?
A verdade é uma piada, a verdade não vale uma gota de NADA. Pela verdade, já se matou e morreu, e para quê? A verdade sem felicidade vale alguma coisa?
A verdade é inimiga do homem.
O homem mais feliz do mundo, que sabe tudo o que há pra se saber, que voa entre as nuvens como os abutres, que fuma, bebe e cheira sem se preocupar com o dia de amanhã, que come, pelo menos com os olhos, todas as mulheres que deseja, que utilidade pode ter para ele a verdade? Por que é ele quereria saber que, na verdade, está sentado no jardim público qualquer, que se baba e que a baba escorre viscosa pelo seu ombro esquerdo, que ele não tem ao mesmo tempo controle de seu intestino, e que um enfermeiro mal pago limpa sua trampa três vezes por dia enquanto suspira e pensa na sua namorada? O que adianta uma verdade que não leva a nada? Quem lucra com essa verdade?
A verdade torna-se útil somente quando instrumento para atingir a liberdade e a felicidade. Boa por si só, intrinsecamente boa, isso ela nunca é. Mas, quase sempre, a verdade é sua própria justificativa e seu próprio fim, e leva apenas a mais e mais verdade. Ensinam-nos que a verdade é boa, independente das consequências.
A verdade é uma armadilha.
(continuarei um dia)

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